Bradesco: inadimplência e carteira de crédito geram incertezas; ações tombam

Os resultados apresentados pelo Bradesco (BBDC3, BBDC4) no balanço do segundo trimestre de 2023 trouxeram alertas para a inadimplência e a carteira de crédito. É o que apontam analistas, após a divulgação dos números pelo banco na quinta-feira (3).

Nesta sexta-feira (4), as ações do Bradesco registraram perdas. O papel BBDC4 encerrou o pregão em queda de 6,83%, a R$ 15,42, e BBDC3 recuou 5,25%, a R$ 13,90.

A XP investimentos destacou que a elevada inadimplência e o baixo crescimento da carteira de crédito do Bradesco se traduzem em baixos níveis de rentabilidade. 

Na mesma linha, o Itaú BBA apontou que o resultado do Bradesco no período foi marcado por uma qualidade muito ruim no negócio de crédito. 

Principais números

O Bradesco registrou lucro líquido recorrente de R$ 4,52 bilhões no segundo trimestre, uma queda de 35,8% em relação ao mesmo período de 2022, conforme balanço publicado nesta quinta-feira.

O lucro líquido contábil ficou no mesmo patamar do lucro recorrente, mas com leve mudança na variação ano a ano, registrando queda de 36,1%.

O retorno anualizado sobre o patrimônio líquido médio caiu a 11,1%, de 18,1% no segundo trimestre de 2022.

Nas linhas de receitas, o banco registrou alta de 1,2% na margem financeira total no período, para 16,6 bilhões de reais, enquanto as receitas com prestação de serviços cederam 2,5%, a 8,8 bilhões de reais.

Já o resultado das operações de seguros, previdência e capitalização saltou 30,6%, para 4,8 bilhões de reais. O Bradesco, inclusive, elevou em 15 pontos percentuais a projeção de crescimento do resultado da unidade neste ano.

O Bradesco, segundo maior banco privado do país, registrou índice de inadimplência no segundo trimestre acima de 90 dias de 5,9%, avanço ante 5,1% no primeiro trimestre deste ano e 3,5% no mesmo período de 2022. A inadimplência até 90 dias, porém, caiu na base sequencial, de 4,6% para 4,4%, embora ainda esteja 0,8 ponto percentual maior do que o nível de um ano antes.

Destaques do resultado

A Genial Investimentos avaliou que o segundo trimestre de 2023 do Bradesco foi marcado por resultados fracos em algumas linhas operacionais, com destaques para:

• Carteira de crédito contraindo na comparação trimestral e anual,
• Receita líquida de juros com queda trimestral e fraca expansão anual
• Provisão para crédito ainda bem elevada.

“Na nossa interpretação, o novo guidance reflete uma dificuldade do Bradesco em alcançar uma rápida recuperação de rentabilidade do que inicialmente projetávamos, com o ROE de 18% provavelmente somente em 2025”, destaca a Guide.  

A Ativa Investimentos considerou que o banco apresentou resultados ruins, e que as fracas concessões de crédito vieram pior do que as expectativas, ressaltando um cenário de maior dificuldade em conseguir frear a inadimplência da carteira. Já do lado positivo, a Ativa Investimentos apontou:

• Movimento que a curva de inadimplência adotou entre os meses do trimestre;
• Resultado de seguros acima das projeções.

“Tanto o resultado quanto a revisão do guidance demonstram que o Bradesco vêm tendo que ser mais restritivo na sua concessão de crédito do que as expectativas apontavam, inclusive as do próprio banco. O crescimento da inadimplência no trimestre foi bastante danoso. Nos preocupa também a queda expressiva do índice de cobertura, que por sua vez, alcançou 163,7% abaixo dos seus pares”, cita a Ativa.

Perspectivas

Para a Ativa Investimentos, a maneira como a curva de inadimplência do Bradesco se comportou pode indicar um pico do índice de atraso no trimestre. Sendo assim, segundo a casa, quando se soma a esse efeito perspectivas positivas para o crescimento de seguros e despesas, se tem um resultado para o final de 2023 em que as projeções para a rentabilidade mudam pouco.

“Vemos um resultado evidenciando que uma melhora de rentabilidade do core business do banco se dará de forma mais lenta do que é estimado, mas que as demais linhas e um indicativo de pico da inadimplência trazem um alívio bem-vindo após uma série de resultados negativos do Bradesco”, estima a Ativa Investimentos.

Na mesma linha, a Genial Investimentos avaliou que a maior mensagem do segundo trimestre de 2023 seja o processo de recuperação de rentabilidade possa ser mais gradual que antes esperávamos, com a carteira de crédito voltando a acelerar de forma lenta conforme os níveis de inadimplência deem sinais de alívio e a margem com mercado comece a contribuir positivamente com a queda da taxa Selic. 

O presidente-executivo do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, disse a jornalistas nesta sexta-feira (4) que o banco começou em julho a voltar a acelerar a originação de crédito, depois de um primeiro semestre em que pisou no freio para conseguir estabilizar a inadimplência.

“Estamos bem próximos disso (pico da inadimplência) ou já atingimos isso, e certamente após isso a tendência é de redução”, afirmou o executivo. “Vemos como positiva nossa expectativa de redução dos índices de inadimplência em 2023”.

presidente-executivo do Bradesco, Octavio de Lazari Junior.

Lazari Junior afirmou que o Bradesco segue comprometido em entregar um índice de retorno de patrimônio líquido de volta aos níveis históricos do banco, mas que isso vai acontecer de “forma gradual”, ao longo dos próximos trimestres. 

Ação do Bradesco: recomendações

A Genial Investimentos reitera recomendação de manter para a ação do Bradesco, com preço alvo de R$ 17.

“Historicamente, o banco está negociando a múltiplos interessantes de 9,0x P/L 2023E, 6,8x P/L 2024E e 1,1x P/VP, porém preferimos bancos com uma dinâmica mais construtiva de receita, qualidade de ativos e rentabilidade que negociem com múltiplos baixos”, diz a Genial. 

Depois do balanço do Bradesco, a XP disse não ver razões para alterar a recomendação neutra para a ação do banco.

(*Com informações da Reuters.)