Negócios
Brasil é o 1º no mundo a adotar o padrão IFRS de sustentabilidade
Movimento do país é estratégico para atrair mais investimento internacional.
O Brasil se tornará o primeiro país do mundo a adotar novas regras de sustentabilidade no padrão da Fundação IFRS nas peças de divulgação de informações das empresas aos investidores, segundo o Ministério da Fazenda e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As normas do Conselho de Sustentabilidade Internacional (ISSB) serão incorporadas voluntariamente em 2024 para uso obrigatório pelas companhias em 2026.
(Para quem nunca ouviu falar, a Fundação IFRS é uma organização sem fins lucrativos de interesse público criada para desenvolver padrões de divulgação contábil e de sustentabilidade de alta qualidade, compreensíveis, aplicáveis e globalmente aceitos).
O significado desse ato para o Brasil é gigantesco, foi um movimento estratégico de demonstração para o mundo de que somos um dos principais portos de destinos dos investimentos sustentáveis. Saibam que tais investimentos devem ultrapassar os US$ 53 trilhões em 2025, segundo a Bloomberg. Um terço do volume total de ativos sob gestão no mundo nesse mesmo ano, estimado em US$ 140 trilhões.
Está aí o motivo do movimento do governo brasileiro de incorporar o ESG nas peças de informação aos investidores com tanta rapidez, já que faz parte de uma estratégia robusta de tornar o país protagonista mundial nas questões de sustentabilidade e consequentemente, conseguir atrair muitos investimentos. Apenas o IFC, braço financeiro do Banco Mundial, destinou em 2022 mais de US$ 14 bilhões em projetos de impacto climático.
Ademais, quantos recursos não devem entrar no Brasil diante desse incentivo à sustentabilidade que está sendo dado. A questão é que os investidores estrangeiros são muito importantes para as companhias brasileiras. Em 2022 foi registrado recorde de entrada de recursos de fora, somando o montante com de R$ 119,8 bilhões, segundo a B3.
Atrair mais investimentos sustentáveis está no topo da lista do plano estratégico do Ministério da Fazenda, mas as empresas brasileiras possuem inúmeros desafios nos próximos anos. Não será fácil para os executivos de finanças, por exemplo, mudarem a mente tão rapidamente e perceberem que as letras podem valer mais que os números.
Mudar todas as peças de informação aos investidores não é algo trivial, depende de inúmeras transformações organizacionais. Mais uma que teremos que enfrentar – o que não foi diferente na pandemia ou na era pós pandemia.
Faço um alerta aos executivos: comecem a fazer a implantação das normas de sustentabilidade logo. Quem sair na frente está também demonstrando aos investidores uma maturidade maior de governança e de sustentabilidade que vai permitir que sua empresa se mostre um porto seguro para seus investimentos.
Por fim, acredito que o maior desafio para implantação das normas é a capacitação dos profissionais que farão a preparação das informações. Será crucial para aproveitar a oportunidade que está sendo dada às nossas empresas de mais uma guinada de entrada de investimento robusto em nosso país nos próximos anos.
Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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