Durante anos de retração do setor e com custos decorrentes de desastre ambiental, a petroquímica Braskem teve uma grande salvação: suas robustas reservas financeiras. Agora, até mesmo esse pilar de sustentação está sendo corroído.
A Moody’s Ratings e a Fitch Ratings rebaixaram o rating da empresa brasileira no início deste mês, após resultados desanimadores mostrarem queima de caixa persistente e níveis de endividamento crescentes. Somente no segundo trimestre, a Braskem consumiu R$ 1,45 bilhão em caixa.
Os resultados e os rebaixamentos levaram o rendimento dos títulos em dólar da empresa com vencimento em 2030 a um recorde de 15,7% esta semana, acima dos cerca de 9% registrados apenas três meses antes.
“Se a empresa seguir nesse ritmo de consumo de caixa, vai chegar um momento que não vai ter mais caixa para cumprir com as obrigações”, disse Marcelo Pappiani, analista da Fitch. “A gente já vem, nos últimos 12 a 18 meses, com uma lupa um pouco maior, mas este último trimestre foi a gota d’água.”
A Braskem foi atingida pelo excesso de capacidade global na indústria petroquímica, pelas consequências de um desastre ambiental que custou o seu grau de investimento e, mais recentemente, por um selloff de títulos fomentado por temores ligados a uma aquisição de Nelson Tanure, conhecido por seus investimentos em ativos ‘distressed’, ou seja, ativos depreciados.
Adicione isso a uma queda de 40% em suas reservas de caixa nos 12 meses encerrados em junho e os investidores estão tendo dificuldades para encontrar motivos para permanecer na empresa.
A Fitch rebaixou a Braskem em um nível, para BB-, em 12 de agosto, seu segundo corte neste ano. Pappiani afirmou que outro rebaixamento poderá ocorrer caso a empresa não apresente melhora nos próximos seis meses. As métricas atuais estão mais em linha com B, B- ou mesmo CCC, disse ele.
Queima de caixa
A Braskem encerrou o último trimestre com aproximadamente US$ 1,7 bilhão em caixa, queda de cerca de US$ 1,1 bilhão desde junho de 2024, e reduziu sua cobertura de dívida para 30 meses — metade dos 61 meses reportados no mesmo período do ano anterior.
Ao mesmo tempo, a dívida líquida da companhia aumentou em US$ 235 milhões no segundo trimestre, para US$ 6,8 bilhões. Isso representa 10,6 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) dos últimos 12 meses, acima das 7,98 vezes registradas no final de março.
A Braskem está considerando refinanciar sua dívida de curto prazo, iniciando conversas dois anos antes dos vencimentos, segundo uma pessoa a par do assunto.
A empresa também está em negociações com stakeholders para discutir opções de financiamento — que vão desde operações de sale-leaseback e operações lastreadas em ativos até a monetização de créditos tributários — enquanto implementa medidas para reduzir o consumo de caixa, disse a pessoa, que pediu anonimato por se tratar de informações privadas.
Investidores da Braskem
Os resultados foram impactados pelas tensões comerciais entre os EUA e a China, pelas incertezas em relação às tarifas e pelos fracos números operacionais da Braskem Idesa, escreveu o analista da Lucror Analytics, Filipe Botelho, em um relatório.
O rendimento extra que os investidores exigem para manter os títulos em dólar da Braskem com vencimento em 2030, em relação aos títulos do Tesouro dos EUA similares, aumentou mais de três vezes nos últimos seis meses, para cerca de 1.041 pontos-base nesta quinta-feira (21), de acordo com a precificação da Trace — ultrapassando a marca de 1.000 pontos-base considerada distressed.
Ainda assim, a Braskem não está em um ponto crítico — não enfrenta grandes vencimentos de dívidas até 2028 e tem caixa suficiente para honrar seus limitados pagamentos anteriores, disse Pappiani. A empresa também possui uma linha de crédito rotativo internacional de US$ 1 bilhão com vencimento em dezembro de 2026.
“A empresa precisa tomar ações porque as condições de mercado não vão melhorar até 2030, disse a analista da Moody’s, Carolina Chimenti. “O que me geraria preocupação seria se eles não conseguirem renovar a RCF, se gente chegar ali no meio de 2026 e a empresa não conseguir reverter essa queima de caixa e não tiver anunciado novas medidas para reduzir o risco de refinanciamento.”
A Braskem deve agir rapidamente para se refinanciar — mesmo que isso signifique emitir nova dívida a um custo mais alto ou que exija algum tipo de garantia, disse Chimenti. A empresa também deve cortar custos e investimentos, fechar plantas deficitárias e explorar a venda de ativos para aumentar sua liquidez.
“O que precisamos fazer é gastar menos, melhorar o desempenho da nossa planta e buscar produtos que nos deem melhor Ebitda, e é exatamente isso que estamos fazendo”, disse Roberto Ramos, CEO, durante teleconferência com analistas.
Os títulos em dólar da Braskem apresentaram aos investidores uma perda média de 10,7% no último mês, a pior entre as empresas emergentes. Um índice da Bloomberg para empresas de países em desenvolvimento retornou 1,5% no mesmo período.
Outra preocupação persistente para os investidores tem sido a oferta feita por Tanure, que alimentou receios de uma reestruturação da dívida. Mas o magnata brasileiro pode desistir do negócio diante da falta de clareza sobre o custo de um desastre ambiental de longa duração relacionado ao colapso de uma mina de sal que a Braskem operava no estado de Alagoas, segundo uma pessoa a par do assunto.
Os bonds da empresa subiram após o jornal O Estado de São Paulo noticiar que a Petrobras estava considerando aumentar sua participação na Braskem, da qual é coproprietária com a Novonor. No mês passado, a Petrobras solicitou sua inclusão como uma terceira interessada na análise da potencial venda da Braskem para a Tanure.
“Se Tanure não comprar, os preços voltam um pouco, mas não tudo, porque ainda tem os desafios operacionais, disse Chimenti. “Se a gente chegar perto de 2028 com essa queima de caixa , você começa a falar de risco de refinanciamento.