O entendimento já está selado e agora entra na fase final de execução, com um prazo de até 60 dias para a formalização da transferência das ações e aprovações regulatórias, entre elas do Cade. A IG4 negociava com os bancos desde agosto, conforme noticiou o InvestNews.
Ao final do processo, IG4 ficará com uma participação de 50,1% do capital votante e 34,3% do capital total. O acordo encerra um dos capítulos mais longos da crise societária da Braskem e destrava uma sucessão que se arrastava havia meses. Participaram do negócio os cinco princpais credores da Novonor: Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES.
Com o acerto, a IG4 passará a dividir o controle da companhia com a Petrobras. A estatal e a getora indicarão juntos a nova diretoria e cada uma terá quatro cadeiras no conselho da petroquímica. A Novonor ficará com uma fatia residual de 4% do capital, em ações preferenciais e sem poder de decisão.
De acordo com as partes envolvidas ouvidas pelo InvestNews, a Novonor assumiu “de forma irrevogável e irretratável” a obrigação de transferir suas ações em até 60 dias.
Após a conclusão da operação e as aprovações regulatórias, a expectativa é de assinatura de um novo acordo de acionistas com a Petrobras, formalizando o co-controle da Braskem.
Co-controle
Fontes próximas ao negócio afirmam ao InvestNews que a gestão da empresa terá maior participação da Petrobras, dona de outros 47% do capital votante da companhia, com 36,1% do total de ações.
A ideia é que o CEO e o CFO sejam pessoas indicadas pela IG4 para tocar o processo de turnaround da Braskem, que encerrou o terceiro trimestre com alavancagem superior a 14 vezes o resultado operacional (Ebitda). Por sua vez, a estatal terá peso na escolha de diretores das áreas operacionais e na definição do presidente do conselho da Braskem.
Nomes como Helcio Tokeshi, CEO da CLI, empresa controlada pela IG4, é um dos ventilados no mercado para assumir o comando da Braskem, já Camille Faria, ex-Americanas, é especulada para a diretoria financeira.
A atual gestão e os assessores financeiros seguem, por ora, mantidos, garantindo continuidade operacional. Mas uma diretoria está em formatação desde setembro, como antecipou o InvestNews. A IG4 não comenta.
Fundo administrará a empresa
A transferência das ações usará duas estruturas de fundos. As dívidas dos cinco bancos credores da Novonor que foram compradas serão concentradas em um fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC), enquanto as ações da Braskem serão alocadas em um fundo de investimento em participações (FIP).
Na prática, a engenharia separa as funções: o FIDC assume os créditos dos bancos e o FIP passa a deter as ações da Braskem. A tendência é de que os credores sejam cotistas do FIP.
Com isso, os bancos deixam para trás um crédito problemático e passam a participar da recuperação futura do valor da companhia, enquanto a IG4 assume o controle sem precisar imobilizar todo o capital na largada. “Será o maior case de turnaround da história do Brasil”, avalia uma pessoa que acompanha a empresa.
O acordo também afasta o risco de uma execução forçada da alienação fiduciária das ações — alternativa que os bancos já avaliavam diante do impasse prolongado com a Novonor.
Desafio
A definição do controle abre um novo ciclo para a Braskem, que enfrenta queda de margens, ações em forte desvalorização no ano e pressão para recompor credibilidade junto ao mercado. As mudanças na governança devem preparar o terreno para um plano mais claro de desalavancagem, revisão de portfólio e eventuais parcerias estratégicas.
Nos últimos dez anos, a Braskem viveu uma combinação rara de crise societária, desastre ambiental e deterioração operacional que a tirou da rota global das petroquímicas.
Desde que a Odebrecht (hoje Novonor) entrou em colapso, a empresa ficou à venda sem sucesso — Adnoc, J&F, Nelson Tanure, LyondellBasell, Apollo e Unipar recuaram em diferentes estágios — e esse limbo travou investimentos estratégicos e fez a companhia perder cerca de US$ 11 bilhões em valor de mercado desde 2017.
A tragédia em Maceió, causada pela extração de sal-gema, virou o símbolo desse período: bairros inteiros afundaram, o passivo totalizou cerca de R$ 18 bilhões em provisões ao longo dos anos e só começou a ser equacionado em novembro de 2025, com o acordo de R$ 1,2 bilhão firmado entre Braskem e o governo de Alagoas para encerrar de vez as disputas relacionadas ao evento geológico
No mesmo intervalo, o setor atravessou um ciclo global de baixa, enquanto a Braskem operava com margens comprimidas e alavancagem recorde — dívida líquida ajustada de US$ 7,1 bilhões e alavancagem de 14,76 vezes Ebitda no terceiro trimestre de 2025 — em um dos piores trimestres de sua história.
Somado à indefinição sobre o controle acionário, esse conjunto de choques deixou a companhia parada no tempo e correndo o risco de encolher na comparação com rivais internacionais que aceleraram sua expansão de capacidade no período.
O novo controlador
A IG4 Capital, comandada por Paulo Mattos, ganhou reputação ao entrar em empresas estressadas, reorganizar governança e transformar ativos problemáticos em negócios operacionais robustos. O caso mais emblemático é a virada da antiga CAB Ambiental, que Mattos reestruturou e relançou como Iguá Saneamento, hoje uma das maiores operadoras privadas de água e esgoto do país.
Fora do Brasil, o grupo peruano Aenza (ex-Graña y Montero) é o principal ativo da gestora. Comprado pela IG4 em 2020, o conglomerado foi redesenhado e dividido em quatro subsidiárias, incluindo a Unna Infraestructura, que controla concessões como a Linha 1 do Metrô de Lima e a rodovia Norvial, dois dos maiores ativos de mobilidade e logística do Peru.
