Negócios

Uber em crise? Número de motoristas diminui e usuários enfrentam problemas

22 milhões de usuários utilizam o aplicativo no Brasil, mas problemas têm ficado mais frequentes.

Publicado

em

Tempo médio de leitura: 5 min

Usuários do aplicativo de transporte Uber (U1BE34) têm relatado problemas ao solicitar uma viagem pela plataforma da empresa, enquanto motoristas também reclamam das condições de pagamento. Impasses envolvendo o serviço não são novos, mas a dificuldade em encontrar um motorista próximo e os cancelamentos das corridas ficaram mais frequentes.

“Pego Uber toda semana para a casa do meu namorado. Esperar 10 minutos para conseguir alguém que aceite a corrida já é quase uma lei. Pela manhã, já cancelaram umas quatro vezes, mas o pior é que só fazem isso depois de um tempo. Você fica esperando e acompanhando no aplicativo para depois de alguns minutos eles cancelarem”, relata Bárbara Siciliato, estudante de zootecnia e moradora da Zona Leste de São Paulo.

Com cerca de 22 milhões de usuários cadastrados no Brasil, a Uber e seus problemas não são exclusividade do país. Uma reportagem da “CNBC” relatou que passageiros europeus também estão sofrendo com cancelamentos e altos preços da plataforma em certas partes do Reino Unido.

“Sempre voltava de Uber do estágio, há 6 quilômetros de casa, mas minha vida começou a virar um inferno. Algumas vezes fiquei mais de 30 minutos esperando por um motorista, entre diversos cancelamentos e tempo de espera. Com isso, comecei a ter atrasos, tendo que implorar por carona e para que os motoristas não cancelassem, então não vi outra alternativa senão me mudar”, declara Giulio Sala, acadêmico de farmácia residente de Florianópolis.

A alta no preço dos combustíveis e a diminuição do número de motoristas não são os únicos causadores da “crise”. Segundo as fontes ouvidas pela reportagem, o maior problema da plataforma são os percentuais dos valores repassados pela empresa aos motoristas. 

“Isso tem acontecido porque os motoristas estão migrando para outros ramos, devido à alta dos combustíveis e às taxas da Uber, que são bem altas. Depende da corrida, mas eles tiram de 25% a 45%, às vezes até 50%”, relata Vitor Paiva, veterinário e motorista cadastrado no aplicativo.

A insatisfação é crescente de ambos os lados, e não há previsão de melhora.

Alta dos combustíveis

Segundo Eduardo Lima, presidente da Associação de Motoristas de Aplicativo de São Paulo (AMASP), para contornar a alta do custo com o preço dos combustíveis (que não é coberta pela Uber), os motoristas de aplicativo se veem forçados a escolher quais corridas vão aceitar e cancelam em cima da hora.

Claudomiro Alves, motorista de Uber há 6 meses, diz que, às vezes, a corrida que o motorista pega não vale o tempo que ele gasta para pegar o passageiro. “Com o preço do combustível hoje, não compensa gastar 20 minutos só pra ir buscar, então o motorista cancela”.

De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), até 16 de outubro, o preço médio da gasolina comum no Brasil era de R$ 6,32, o que representa um aumento de 3,3% em relação à semana anterior. O combustível chega ao preço máximo de R$ 7,50. No ano até setembro, o preço nos postos chegou a avançar 32%.

Na última quarta-feira (13), a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que estabelece um valor fixo para a cobrança do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias (ICMS) sobre os combustíveis, na intenção de reduzir os valores repassados aos consumidores. No entanto, os estados afirmaram que a medida não resolverá o problema. O projeto agora foi encaminhado para o Senado.

Uber: cancelamentos e até banimento

No final de setembro, a Uber chegou a banir 0,16% de sua frota de motoristas do aplicativo no Brasil por cancelamento excessivo, segundo nota da empresa. 

“Muitos motoristas estão desistindo. No mês passado, a Uber também fez uma exclusão em massa de 1.600 motoristas, e os que ficaram estão recebendo notificações de que serão punidos”, diz o presidente da AMASP.

Segundo ele, se tivesse havido um reajuste nas taxas e no valor repassado aos motoristas, não haveria problemas com cancelamentos, pois o aumento no preço dos combustíveis não os afetaria tanto.

A escassez de condutores na plataforma tem feito com que a abrangência das distâncias entre usuários e motoristas seja bem maior, o que resulta em um maior tempo de espera.

“Tive um relato de um motorista que estava a 15,9 km de distância do passageiro. O motorista aceita a corrida e, quando abre o mapa com a quantidade de quilômetros que vai percorrer, se depara com uma situação em que vai rodar 9 km, para depois correr 1,5 km na corrida solicitada e ganhar R$ 5,25, que sequer paga o combustível, o que resulta num cancelamento”, diz o presidente da AMASP.

Tem solução para a crise?

“Eles não vão mudar, porque eu posso sair hoje, mas amanhã entra outro que está desempregado. O dinheiro continua entrando para a empresa”, afirma Claudomiro.

A recente “solução” criada pela plataforma foi a opção de embarque rápido, chamada “Uber Prioridade”. Para os motoristas, há uma promoção de indicação de colegas, que gera um bônus de R$ 1 mil.

Eduardo Lima defende que tudo depende da Uber para resolver a situação. Segundo ele, o reajuste das taxas corrigiria os problemas em solicitações de corrida, mas isso ainda não aconteceu.

Procurada pelo InvestNews, a assessoria da Uber não havia retornado com um posicionamento até a última atualização desta matéria.

Mais Vistos