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Cena final: Cine Belas Artes rompe acordo de patrocínio com Reag

Patrocínio serviu de base para modernização e manutenção do aluguel do Belas Artes, que gira na faixa de R$ 2 milhões ao ano

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Cinema de rua tradicional da cidade de São Paulo, o Belas Artes vai deixar de levar as cores e o nome da gestora Reag Investimentos. As empresas firmaram um distrato do acordo de patrocínio, firmado em 2024 e que era válido por cinco anos. O rompimento foi definido na quinta-feira (27), mas o comunicado oficial se deu apenas nesta sexta-feira (28). A Arandu Partners, companhia que assumiu a Reag, arcará com uma cláusula contratual que dará fôlego de caixa ao cinema durante sua busca por um novo parceiro comercial.

André Sturm, o presidente do Belas Artes Grupo, do qual fazem parte o cinema, a distribuidora Pandora Filmes e o streaming À La Carte, afirmou ao InvestNews que não faria sentido manter o contrato com a antiga parceira, já que a marca Reag deixa de existir após a assunção do nome Arandu pela gestora. “A gente precisava rescindir o contrato de uma marca que tecnicamente não existe. Achamos melhor fazer a rescisão. Eles também”, disse Sturm. “Agora, a gente está aberto a novas propostas.”

A gestora de fundos que patrocinava o espaço cultural entrou em uma crise sem precedentes após ser relacionada à Operação Carbono Oculto, na qual a Polícia Federal investiga o uso de fundos e gestoras para lavagem de dinheiro pelo crime organizado. Sob nova gestão após o redesenho do negócio, a Reag mudou seu nome para Arandu recentemente, o que forçou uma negociação entre as partes.

O imbróglio envolvendo a parceira não trouxe danos à reputação do cinema, na visão de Sturm. O executivo informa que a Reag arcou com os últimos vencimentos estipulados no acordo e pagou parte de uma cláusula prevista em caso de quebra de contrato.

“Logo no começo, quando aconteceu todo o problema, teve um atraso, mas as pessoas com quem a gente lidava diretamente fizeram todos os esforços para colocar as coisas em ordem”, afirmou ele. “Tendo em vista tudo que estava acontecendo, era razoável fazer uma rescisão amigável e eles ainda se dispuseram a fazer um pagamento que ajuda a gente a manter nossos compromissos com aluguel por mais alguns meses.”

Sturm revela que só esteve uma vez com João Carlos Mansur, o fundador da Reag. Ele foi procurado por diretores da empresa no fim de 2023. Na época, o cinema lidava com o fim de outro contrato de naming rights — no caso, com a cervejaria Petrópolis, dona da marca Petra. Antes disso, o espaço foi patrocinado pela Caixa Econômica Federal.

Embora as empresas tenham optado por não divulgar o montante envolvido no acordo de naming rights entre o Belas Artes e a Reag, sabe-se que o custo de locação do imóvel que hospeda o cinema atualmente é um pouco a mais de R$ 2 milhões ao ano, valor que seria coberto pelo patrocinador.

Mesmo com os problemas envolvendo a parceira nos últimos meses, o Belas Artes evitou abrir conversas com outras empresas para substituir a Reag. “A gente não poderia fazer isso antes porque não estava assinado. Seria indelicado [abrir conversas com possíveis patrocinadores], até porque se, de repente, eu falo com a empresa X ou Y, alguém poderia vazar a informação para a própria Reag.”

O Belas Artes opera hoje uma parceria voltada à curadoria de catálogo com a rede de cinemas Cinesystem, que arrematou as operações do antigo Espaço Itaú de Cinema, mas Sturm não vislumbra, no momento, a ampliação da parceria para o cinema de rua administrado por ele. “Eles operam multiplex, que têm uma lógica de operação, em relação a número de salas e funcionários, diferente”, diz ele. “Mas estamos aberto a possibilidades.”

Localizado próximo à Avenida Paulista, o edifício foi construído e projetado nos anos 1950 pelo arquiteto italiano Giancarlo Palanti. No início, era conhecido como Cine Trianon. Nos anos 1980, foi reformado e ganhou a configuração que se mantém até hoje, com seis salas. Devido a várias crises financeiras, o espaço foi descontinuado em algumas ocasiões. Em 2011, uma mobilização de cinéfilos reuniu 90 mil assinaturas e levou o governo de São Paulo a tomar a fachada como patrimônio histórico em 2013. Logo depois, foi firmado um acordo de naming rights com a Caixa.

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