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Cielo deixa ‘bacia das almas’, atrai fundos e dobra na bolsa

Alta de juros encareceu o custo de captação para as rivais Stone e PagSeguro.

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As ações da Cielo (CIEL3) caíram de forma desenfreada nos últimos quatro anos, com recomendações de venda acumuladas entre os analistas e apostas do mercado de que a gigante de pagamentos brasileira não seria capaz de acompanhar o rápido crescimento dos novos entrantes no setor. Agora, a Cielo esboça uma recuperação inesperada.

Os papeis da companhia com sede em Barueri, São Paulo, mais do que dobraram no acumulado do ano, liderando ganhos percentuais no índice Ibovespa, à medida que a alta de juros encareceu o custo de captação para as rivais Stone e PagSeguro, permitindo que a Cielo recuperasse participação de mercado e atingisse um novo patamar de rentabilidade.

Logo da Cielo em painel na B3, em São Paulo (SP) 25/07/2019 REUTERS/Amanda Perobelli

A Cielo, controlada por Banco do Brasil e Bradesco, apresentou um lucro bem acima do esperado no segundo trimestre, mesmo excluindo itens não recorrentes, e fez com que analistas incluindo Henrique Navarro, do Santander, ficassem otimistas com a empresa pela primeira vez em anos. 

“Há um ciclo virtuoso para a Cielo”, disse Navarro, o primeiro analista a rebaixar o papel para venda após as ações atingirem um pico em 2015. Desde então, a empresa perdeu cerca de R$ 81 bilhões em valor de mercado e fechou na mínima histórica em dezembro do ano passado. 

A empresa chegou a ser uma das “queridinhas” dos investidores no setor financeiro da bolsa, oferecendo tecnologia de pagamentos a comerciantes ao redor do Brasil e também permitindo o adiantamento do recebimento de valores futuros. Isso foi colocado em xeque após uma série de empresas entrarem no setor com preços menores aos consumidores — fazendo com que a Cielo perdesse espaço.

Cielo leva vantagem frente a concorrentes

Agora, após a taxa básica de juros subir de 2% para perto de 14% em menos de dois anos, os novatos estão tendo dificuldade em acessar capital barato para oferecer crédito, enquanto a Cielo, graças aos grandes bancos controladores que ajudam a diminuir custos de captação, leva vantagem, segundo Navarro.

“O papel estava na bacia das almas”, disse Marcos Peixoto, gestor da XP Asset Management. “Mas, nesse cenário de juros altos, a Cielo tem uma vantagem pelo aspecto do funding. O ambiente competitivo está bem melhor, enquanto os pares sofreram com problemas operacionais”, disse Peixoto. 

Mesmo após a recuperação recente, as ações negociam a cerca de 8 vezes o lucro esperado para 2023, um múltiplo atrativo, disse Peixoto. 

XP Asset, BW Gestão de Investimentos, Ibiuna Investimentos e Norte Asset Management estão entre as casas que aumentaram a posição em Cielo ao longo dos primeiros quatro meses do ano, segundo dados compilados pela “Bloomberg”.

Apesar do espaço para ganhos adicionais no curto prazo, a Cielo precisará lidar com desafios como expectativas para um crescimento econômico fraco da maior economia da América Latina em 2023 e uma reversão do ciclo de juros no Brasil em algum ponto — o que pode levar a um novo cenário competitivo mais agressivo, disse Navarro. 

Rumores de fechamento de capital

Outro ponto de atenção é o que os controladores podem decidir fazer com a companhia. Ao longo dos últimos anos, a mídia local reportou que Banco do Brasil e Bradesco estavam considerando fechar o capital da empresa (OPA). 

Porém, antes disso, a empresa pode colher ganhos até mesmo do sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central. Originalmente visto como uma ameaça para o setor, pois diminuiria a necessidade de empresas que intermediassem pagamentos para lojistas, o Pix acabou não sendo um “vilão” e pode estar até ajudando os volumes de negociações com cartões, segundo Pedro Leduc, analista do Itaú BBA.

“O Pix gerou muito ruído e os investidores falavam que a maquininha e o cartão morrerriam”, disse Leduc. “Só que não foi o que aconteceu.”

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