A família Saadé comprou cerca de 4% do capital da Carrefour, informou a empresa nesta quarta-feira (12), e Rodolphe Saadé passará a integrar o conselho de administração. Embora os termos financeiros não tenham sido divulgados, a participação é avaliada em aproximadamente US$ 452 milhões (€ 390 milhões).
A transação ocorreu após a saída da Península, veículo de investimento do falecido empresário brasileiro Abilio Diniz, que revolucionou o varejo no Brasil ao combinar supermercados e lojas de departamento com ampla variedade de produtos.
As ações da Carrefour subiram até 2,1% em Paris nesta quinta-feira (13), após acumularem queda de 10% nos 12 meses até o fechamento de quarta-feira.
Fortuna da família
Segundo o Bloomberg Billionaires Index, a fortuna da família Saadé é de cerca de US$ 34 bilhões, proveniente principalmente da CMA CGM SA, a terceira maior empresa de transporte de contêineres do mundo, controlada pelo clã.
O investimento na Carrefour é o movimento mais recente da família para diversificar seus ativos, estratégia que nos últimos anos levou a aportes em empresas francesas como a Air France-KLM, o grupo de mídia BFM, a companhia de satélites Eutelsat e a operadora de cinemas Pathé. A Carrefour, assim como a Walmart, é uma importante cliente da CMA CGM.
Com o acordo, os Saadé tornam-se o segundo maior acionista da Carrefour, atrás apenas da família Moulin Houzé, dona da rede Galeries Lafayette, que detinha cerca de 11% do capital da varejista no fim do último ano.
A participação da família Saadé será mantida principalmente pelo family office Merit France, por meio da holding Carrix, também co-controlada pela CMA CGM.
De acordo com o analista Geoffroy Michalet, do Oddo BHF, não há sinergias evidentes entre os negócios da família Saadé e a Carrefour. Ele lembrou que o grupo é mais conhecido por sua entrada na Air France-KLM, em 2022, e por investimentos na M6 e na Eutelsat.
Saída de Diniz
A saída da Península encerra mais de uma década de envolvimento da família Diniz na Carrefour, que enfrenta forte concorrência no mercado francês.
“Após uma década de forte parceria, a decisão da Península de vender sua participação na Carrefour faz parte da nova estratégia de alocação de ativos do fundo”, afirmou Eduardo Rossi, presidente da Península, em comunicado.
A Península detinha 9,2% da Carrefour no fim de 2024. Com a venda, as cadeiras de Rossi e Flavia Buarque de Almeida no conselho serão desocupadas.
Tanto Brasil quanto França concentram a maior parte do lucro da Carrefour, mas ambos os mercados enfrentam dificuldades. A rede reportou vendas fracas no terceiro trimestre, afetadas por cortes de preços na França e por altas taxas de juros que reduziram o consumo no Brasil.
Sob a liderança do presidente Alexandre Bompard, a Carrefour tentou, sem sucesso, se vender ou se fundir com outras empresas — entre elas, a Alimentation Couche-Tard Inc., do Canadá, e a francesa Auchan, do grupo Mulliez. No início deste ano, anunciou planos de vender suas operações na Itália.
Segundo Michalet, da Oddo BHF, “embora entendamos que a Carrefour busque simplificar sua estrutura acionária com a venda de ativos e um possível programa de recompra de ações, a situação na França segue desafiadora, e as tendências mais recentes no Brasil não são animadoras.”