A República Democrática do Congo vai permitir a volta das exportações de cobalto, mas a conta-gotas. Maior produtor do metal no planeta, o país vai instituir cotas agora.
A proibição dos embarques veio em fevereiro, depois de uma queda brusca de 10% no preço internacional do cobalto. Motivo: o grupo chinês CMOC tinha aumentado a produção em duas grandes minas no Congo, e o mercado acabou com um certo excesso de oferta.
E aí a restrição catapultou os preços. A alta é de 60% na comparação com fevereiro. Bom para a Vale, que minera cobalto no Canadá – deu 1,27 mil toneladas no primeiro semestre, o equivalente a 1% da produção do Congo para o mesmo período.
As exportações voltam em 15 de outubro. “Uma política de cotas será implementada” até novo aviso, disse o equivalente ao Ministério de Minas e Energia do Congo num comunicado neste domingo.
As mineradoras poderão embarcar pouco mais de 18 mil toneladas do metal durante o resto deste ano e um máximo de 96,6 mil toneladas em cada um dos anos de 2026 e 2027, segundo a entidade. As cotas serão calculadas proporcionalmente com base nas exportações históricas e “serão comunicadas a cada empresa”, afirmou a ARECOMS, após reunião do conselho realizada no sábado.
O Congo produziu quase 220 mil toneladas de cobalto em 2024, segundo a trading especializada Darton Commodities. O país responde por cerca de três quartos da produção global do metal, usado em baterias de veículos elétricos e também na indústria aeroespacial.
No início do ano, os preços de referência caíram abaixo de US$ 10 por libra, nível não visto havia 21 anos, salvo uma breve queda no fim de 2015, segundo dados da Fastmarkets. Mas o cobalto já recuperou aqueles 60% desde então, enquanto o preço do hidróxido de cobalto — principal produto exportado do Congo — subiu 150%.
A situação “já não requer uma suspensão total das exportações” e a cota vai “fazer os ajustes finais necessários nos próximos meses para reequilibrar o mercado nos próximos anos”, disse o presidente da ARECOMS, Patrick Luabeya, à Bloomberg. A política busca reduzir os estoques globais para o “equivalente a aproximadamente um mês de demanda por cobalto”, afirmou.
O governo do presidente congolês Félix Tshisekedi vem tentando exercer maior influência sobre os preços do cobalto, alinhando a oferta à demanda global. Mas analistas alertam que controles excessivos e preços muito altos podem acelerar a mudança dos fabricantes para baterias de veículos elétricos que não utilizem o metal.
A unidade de trading da CMOC declarou força maior sobre entregas de hidróxido após a decisão do país, em junho, de estender a proibição de exportação. As importações chinesas de intermediários de cobalto caíram 27% em julho em relação ao mês anterior, segundo dados alfandegários. Isso seguiu uma queda de mais de 60% em junho, o primeiro recuo significativo desde o anúncio da proibição.
No ano passado, a CMOC produziu mais de 40% do cobalto mundial. Apesar da suspensão das exportações, a produção da empresa até aumentou levemente no primeiro semestre deste ano. As mineradoras estão estocando cobalto enquanto continuam exportando cobre — os dois metais são extraídos juntos no Congo.
Dos volumes autorizados para exportação em 2026 e 2027, 10% serão destinados à ARECOMS e “reservados para projetos de importância estratégica nacional”, disse o regulador. A agência também poderá revisar a cota total dependendo da evolução do mercado ou de “perspectivas de internalização do processamento de hidróxido de cobalto em produtos de maior valor agregado”, segundo o comunicado.
“Obviamente esperamos que os preços do cobalto retornem a um nível que permita não apenas a sobrevivência, mas a sustentabilidade de uma indústria essencial para a transição energética”, afirmou Luabeya.
Por William Clowes e redação InvestNews