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Cosan levanta R$ 9 bilhões e entra em nova fase com BTG e Perfin no bloco de controle

Com o BTG à frente, Cosan reforça o caixa e mantém o controle formal com Rubens Ometto até 2031

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A Cosan precificou na segunda-feira (3) a emissão de ações que marca uma das mudanças mais importantes de sua história recente. A operação, que movimenta R$ 9 bilhões e pode chegar a R$ 10,4 bilhões com um lote adicional, abre espaço para a entrada do BTG Pactual e da Perfin como sócios relevantes — e dá fôlego a um grupo que vinha pressionado por uma dívida crescente e pela necessidade de reorganizar sua estrutura de capital.

A operação ocorre num momento de reorganização financeira da empresa e vem após um ciclo de forte endividamento. A Cosan, dona de participações em companhias como Raízen, Rumo, Compass, Radar e Moove, tenta reduzir a pressão sobre o caixa depois de anos de expansão por aquisições e investimentos de grande porte.

A nova configuração altera o mapa de poder da Cosan, sem romper com o passado. O BTG Pactual, liderado por André Esteves, passa a ser o maior acionista individual, com cerca de 23% do capital, seguido pela Aguassanta Participações, holding de Rubens Ometto (21%), e pela Perfin, com 10%

O acordo de acionistas preserva a Ometto o controle formal: ele continua com 50,01% das ações com direito a voto vinculadas ao bloco de controle e mantém a presidência do conselho até 2031. Mas, na prática, o poder passa a ser mais compartilhado — um equilíbrio que reflete a entrada de novos capitais e de novos interlocutores em setores estratégicos como energia, combustíveis e logística.

A operação teve participação direta da Aguassanta, que emitiu R$ 750 milhões em notas comerciais para acompanhar a capitalização. O BTG aportou R$ 6,5 bilhões e a Perfin, R$ 2 bilhões. O dinheiro vai reforçar o caixa e reduzir o endividamento da holding, hoje um dos principais desafios da Cosan.

Além de reforçar o caixa, o arranjo amplia a influência do BTG em setores estratégicos da economia — de energia e combustíveis à logística ferroviária e à distribuição de gás. O banco já tem presença relevante na Perfin, gestora com mais de R$ 20 bilhões sob gestão, o que fortalece o alinhamento entre os novos sócios.

A nova estrutura acionária também tem implicações diretas para os acionistas minoritários. Na primeira emissão, de 1,45 bilhão de papéis, apenas o consórcio formado por BTG, Perfin e Aguassanta pôde participar, o que significa que os investidores individuais não tiveram direito de preferência. Na prática, isso provoca uma diluição automática: cada ação atual da Cosan perde cerca de 43% de participação relativa.

Os minoritários só poderão exercer o direito de preferência na segunda oferta, menor, de 550 milhões de ações. Embora a medida tenha gerado críticas no mercado, ela está prevista no estatuto da companhia e foi considerada essencial para viabilizar a entrada dos novos sócios e a rápida injeção de capital.

Alívio financeiro e início de uma nova fase

O aumento de capital é a resposta a um ciclo de forte alavancagem que começou em 2022, quando a Cosan desembolsou R$ 18,5 bilhões para adquirir quase 5% da Vale, numa tentativa de ganhar influência na mineradora. O plano não deu certo, e a dívida consolidada do grupo chegou a R$ 93 bilhões, equivalente a 3,4 vezes o Ebitda dos últimos 12 meses.

Para acelerar o ajuste, a Cosan também vendeu participações minoritárias em ativos de energia, açúcar e etanol, além de ter vendido de sua fatia no Grupo Nós, dono dos minimercados Oxxo. Essas medidas, somadas ao novo aporte, buscam restabelecer a capacidade de investimento e preparar a empresa para uma nova fase, com governança mais compartilhada e foco em rentabilidade.

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A operação consolida, ainda, a aproximação entre o capital financeiro e o industrial. Ometto, figura histórica da indústria sucroenergética, e Esteves, um dos principais nomes do setor financeiro brasileiro, passam a dividir espaço num mesmo conglomerado — uma aliança que, além de resolver um problema de balanço, amplia o raio de influência do BTG em negócios ligados à infraestrutura e energia.

Com o novo capital, a holding deve reduzir quase pela metade o passivo e economizar cerca de R$ 1 bilhão por ano em despesas financeiras. Mais do que um alívio no balanço, a operação redefine a forma como a Cosan se organiza: um grupo que historicamente concentrou decisões em torno de Ometto agora passa a dividir espaço com um banco de investimento que acumula influência em infraestrutura, energia e agronegócio.

*Com Reuters

Andre Esteves. Crédito: Bloomberg
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