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Demissões no McDonald’s são sinal de crise? Não é o que os números mostram
No começo do ano, maior rede de fast food do mundo anunciou uma revisão no quadro de colaboradores, mas resultados financeiros estão batendo recordes.
Em janeiro, o McDonald’s (MCDC34) anunciou que iria revisar seu quadro de colaboradores, o que poderia levar a cortes em algumas áreas e expansão em outras. Em abril, a rede de fast food fechou temporariamente seus escritórios nos Estados Unidos e começou a informar os funcionários corporativos sobre demissões em cargos executivos. O movimento foi justificado como uma ampla estratégia de reestruturação.
O McDonald’s tem mais de 150 mil funcionários em cargos corporativos. Cerca de 70% deles estão baseados fora dos Estados Unidos, segundo a rede.
Mas não é de hoje que a rede vem fazendo rodadas de demissões. Em 2018, a gigante de hambúrgueres disse que a empresa estava realizando cortes com o objetivo de ser mais dinâmica, ágil e competitiva e que as demissões ocorreriam como parte de um plano de meio bilhão de dólares para reduzir despesas administrativas até o fim de 2019.
Com uma operação eficiente em todas as pontas, a rede está em busca de “queimar a gordura excedente”, segundo William Castro Alves, estrategista da Avenue nos EUA. Além disso, com as margens apertadas do setor e sem tanto espaço para subir os preços dos hambúrgueres devido à forte concorrência, o Mc Donald’s precisa ser certeiro na estratégia de se manter em crescimento em um momento de perspectiva de recessão.
Fast food: mercado agressivo e com margem apertada
O mercado de fast-food é considerado agressivo, dado o número de concorrentes tentando abocanhar os consumidores e seu alto nível de crescimento.
Em 2021, a indústria de fast food foi estimada em mais de US$ 255 bilhões apenas nos EUA. No mundo, a cifra sobe para US$ 647,7 bilhões, segundo a Globe Newsware. Até 2023, a estimativa é que o mercado atinja US$ 998 bilhões.
A indústria experimentou um crescimento consistente ao longo dos anos devido a fatores como o estilo de vida agitado dos consumidores, o fator de conveniência do fast food e a capacidade dos restaurantes em fornecer refeições acessíveis e de fácil acesso.
McDonald’s, Subway, Taco Bell, Wendy’s, Burger King, entre outras companhias dominam o mercado americano. Analisando apenas as redes de hambúrguer com o maior número de lojas nos Estados Unidos, o McDonald’s desponta em primeiro lugar com suas 13.436 unidades, seguido por Burger King (7.105) e Wendy’s (5.938).
Mesmo que nos últimos anos tem havido uma tendência crescente de preocupações com o impacto do fast food na saúde, as marcas arregaçaram as mangas e incluíram opções mais saudáveis nos cardápios, com menos calorias e maior valor nutricional. Além disso, muitas redes têm investido em tecnologia para aprimorar a experiência de pedidos e entregas para os clientes – em especial após a pandemia, quando o movimento nas lojas físicas caiu dado as restrições pela covid-19.
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McDonald’s vs Burger King
Para fazer frente ao rival Burguer King, o McDonald’s também fez ajustes de preços em seu cardápio, com opções mais econômicas para concorrer contra ofertas agressivas do concorrente, segundo comunicado aos investidores.
Em janeiro deste ano, a rede disse aos acionistas que alguns consumidores de menor renda estavam pedindo menos itens ou optando por ofertas mais baratas – e por isso o ajuste pensado nessa parcela.
Mas este movimento para oferecer produtos com menor tícket médio não vem sendo suficiente, uma vez que o negócio opera com margens apertadas, disse William Castro Alves, estrategista chefe da Avenue, nos EUA.
“A rede está buscando onde tem gordura para queimar, uma vez que suas margens são apertadas, e quando precisa subir preço nos cardápios é coisa de dez centavos dado os fortes competidores. O que justifica o movimento de demissões entre os “colarinhos brancos”, já que é menos pior do que cortar lojas físicas.”
William Castro Alves, estrategista chefe da Avenue, nos EUA.
Em entrevista ao InvestNews, o estrategista apontou para a eficiência das operações do McDonald’s e que há expectativa de crescimento na lucratividade da rede de pelo menos 7% nos próximos anos.
No ano passado, as vendas globais da rede aumentaram quase 11%, enquanto as vendas nos EUA subiram quase 6%. As margens totais do restaurante aumentaram 5%.
No último balanço referente ao 1º trimestre deste ano, a rede viu suas receitas crescerem 4,1%, a US$ 5,9 bilhões, o que fez subir as ações após a divulgação dado o resultado ser melhor que o esperado por agentes do mercado.
“A companhia consegue repassar inflação nos seus produtos, tem uma operação redonda, e suas ações estão bem precificadas na relação risco retorno. Em outras palavras, acho uma ação cara em que vale mais a pena investir em um título do governo americano dado ter menor risco. Mas se o papel cair 10%, já entra num patamar de preço atrativo”.
william castro alves, estrategista da avenue
No entanto, analisando número de lojas e capitalização de mercado, o McDonald’s ainda não tem do que se preocupar.
Enquanto o Burguer King é avaliado em US$ 22 bilhões e está presente em mais de 19 mil endereços pelo planeta, a capitalização de mercado da rede era de US$ 215,9 bilhões no início de maio. Fora o fato de que a marca pode ser encontrada em 40.275 lugares do mundo.
Performance das ações MCD
O analista da Avenue pondera que a ação da gigante de fast food sempre performou bem, além de pagar dividendos recorrentes, apesar deste último ser considerado baixo. O dividend yield (retorno com dividendos) do McDonalds no ano é de 2% ao ano, em média.
Analisando os últimos 10 anos, a média anual do rendimento das ações MCD foi de quase 14% ao ano contra 10% do S&P 500, maior índice acionário de Nova York. A título de comparação, o dólar saltou contra o real 9% em média ao ano no período, segundo o estrategista da Avenue. “Logo, o investidor brasileiro teria tido um retorno composto anual de 14% mais a variação cambial com McDonald’s”.
O último dividendo trimestral da empresa foi pago em 15 de março. Os acionistas posicionados na companhia receberam um dividendo de US$ 1,52. Isso representa um dividendo anualizado de US$ 6,08 e um rendimento de 2,10%, segundo dados do MarketBeat.
Entradas e saídas institucionais
Fundos de hedge e outros investidores institucionais recentemente compraram e venderam ações da empresa. O Macquarie Group Ltd. aumentou sua posição nas ações do McDonald’s em 6,1% durante o 4º trimestre, assim como o Moneta Group Investment Advisors LLC que elevou sua participação em 6,4% no período. Mais de 66,8% das ações são de propriedade de investidores institucionais e hedge funds.
A GHP Investment Advisors Inc. também aumentou sua posição em 4,8% no quarto trimestre. O fundo agora possui 2.817 ações da gigante do fast-food avaliadas em US$ 742 mil, depois de comprar 130 ações adicionais no último trimestre.
Enquanto que a WealthPLAN Partners LLC comprou uma nova participação em ações do McDonald’ s no quarto trimestre avaliados em US$ 2,175 milhões.
Arcos Dourados: vendas em alta na América Latina
Cerca de 90% dos restaurantes do McDonald’s nos Estados Unidos são operados por franqueados que pagam ao McDonald’s uma porcentagem de suas vendas pelo direito de usar a marca.
Esse tipo de parceria é muito comum nos Estados Unidos, seja por meio de parcerias com grupos de franquias locais ou fusão direta com o franqueador.
Na América Latina e Caribe, as operações do McDonald’s são licenciadas para a Arcos Dourados – a maior franquia independente da rede. Ela tem o direito exclusivo de possuir, operar e conceder franquias de restaurantes McDonald’s em 20 países e territórios da América Latina e Caribe. E 2022 foi considerado o melhor ano para a Arcos Dorados, que reportou 58% de crescimento nas vendas apenas no 4º trimestre.
Aos investidores, a rede disse que a lucratividade registrada nunca foi tão alta, com um crescimento anual de Ebitda ajustado de 41,8% – sendo esta a maior margem Ebitda consolidada da história. O que levou a um fluxo de caixa com significativo crescimento também.
O digital foi o responsável a impulsionar as vendas em todos os canais, gerando 44% das vendas no quarto trimestre e atingindo US$ 580 milhões – um novo recorde de vendas trimestrais em termos absolutos. As vendas digitais do ano inteiro também atingiu um recorde histórico de US$ 1,9 bilhão, um aumento de 55% em relação ao ano anterior.
E por isso que, em janeiro, a rede disse que se concentraria em “entregas, Drive Thru, digital e desenvolvimento”.
Aberturas de restaurantes: saldo positivo
Para 2023, a projeção da marca para as licenciadas internacionais é que o saldo entre aberturas e fechamentos de restaurantes fique positivo em 1270 unidades. Atualmente estas operações compreendem mais de 16 mil restaurantes espalhados em 115 países pela Ásia, América Latina, Oriente Médio e Coréia do Sul.
Já para as operações internacionais – que consiste em operações e franchising de restaurantes na Austrália, Canadá, França, Alemanha, Itália, Holanda, Rússia, Espanha e Reino Unido totalizando 24 países – o saldo entre aberturas e fechamentos deve ficar positivo em 210 unidades.
Apesar de ser menor a projeção quando comparado às licenciadas, é deste “lado” que as receitas são mais proeminentes para a rede. Em 2022, elas foram responsáveis por 49% das receitas totais, seguida pelas operações nos Estados Unidos (41%).
Recomendações
De 28 casas de análises e bancos que cobrem os papeis nos EUA, 23 recomendavam compra e cinco recomendavam manutenção até esta sexta-feira (5). Porém, o analista da Avenue avalia que o preço-alvo médio de US$ 306,8 tem pouco espaço para ganhos (3,6%), analisando o preço da cotação, em torno de US$ 296.
Logo, o investidor precisa levar em consideração que uma nova valorização das ações da rede conhecida por seus “arcos dourados” pode ficar para o longo prazo, uma vez que, historicamente, seu crescimento sempre foi contínuo.
Para o curto prazo, talvez faça sentido investir no estômago, em um dos mais de 40 mil pontos em que o Big Mac ou o Duplo Quarteirão estejam disponíveis.
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