Negócios
Despesas da B3 surpreendem negativamente, dizem analistas; ação cai 1,9%
Companhia divulgou na véspera balanço do quarto trimestre de 2022; despesas no período cresceram 35% na comparação anual.
O balanço do quarto trimestre de 2022 da B3 (B3SA3), divulgado na quarta-feira (15), ficou abaixo das expectativas do mercado. Para analistas, as despesas da companhia vieram acima do esperado, impactando negativamente o resultado.
A ação da B3 caiu 1,9%, a R$ 11,37. Na mínima do dia, chegou a cair mais de 6%, a R$ 10,86, se destacando entre as principais perdas do dia no pregão.
André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, explica que pelo fato de a B3 não ser uma empresa muito barata em bolsa de valores, por ser de crescimento e, praticamente, um monopólio, isso acaba justificando os múltiplos mais altos da companhia.
“Quando a empresa não entrega um balanço que não vem muito acima do que o mercado está esperando, a ação da companhia acaba sofrendo fluxo vendedor. Até porque está em conversa no mercado de que pode vir uma nova bolsa. A própria B3 admite, mas que não vê isso no curto prazo. Colocando isso na mesa, acaba frustrando as expectativas no mercado e provocando esse fluxo nos papéis da companhia”, diz Fernandes.
A B3 teve leve queda do lucro no quarto trimestre de 2022, uma vez que maiores despesas operacionais e financeiras mais do que compensaram o crescimento da receita.
A operadora de infraestrutura de mercado anunciou que seu lucro líquido recorrente de outubro a dezembro somou R$ 1,17 bilhão, queda de 4,9% ante mesma etapa de 2021.
O número veio abaixo da previsão média de analistas consultados pela Refinitiv, de R$ 1,278 bilhão.
Despesas elevadas
De acordo com a companhia, o recuou no lucro do último trimestre refletiu despesas mais altas, em especial com pessoal e tecnologia. As despesas ajustadas da B3 no trimestre, de R$ 514,2 milhões, foram 35% maiores do que um ano antes.
Eduardo Nishio e Wagner Biondo, analistas da Genial Investimentos, avaliaram em relatório que as despesas de pessoal e tecnologia da empresa tiveram uma evolução expressiva, como consequência da sazonalidade.
Os analistas destacaram, no entanto, que, no quarto trimestre de 2022, a B3 ainda contabilizou despesas não recorrentes, nas linhas de pessoal e serviços de terceiros, piorando o resultado.
“As despesas tiraram um pouco do brilho operacional do trimestre. Com crescimento ano a ano e trimestre contra trimestre, as despesas aumentaram acima das expectativas por conta da sazonalidade no quarto trimestre, incremento da Neoway e itens não-recorrentes de rescisão contratual, despesa de fusões e aquisições entre outras”, disseram Nishio e Biondo.
Na mesma linha, a Ativa Investimentos apontou em relatório que o forte aumento dos gastos no negócio principal da B3, em conjunto com o investimento da companhia em novas iniciativas, foram os destaques negativos e contribuíram para uma divulgação de resultados ruins da empresa.
Pontos de atenção
Segundo os analistas da Genial, apesar do valuation atraente, o cenário de queda de juros mais acentuada em 2023, que poderia ajudar vários produtos da B3, fica cada vez mais distante, dado a piora das discussões político-econômicas.
Além disso, a Genial Investimentos destacou em relatório que a B3 continua a receber intimações relacionadas a disputas judiciais fiscais e improbidade administrativa, além do fundo soberano de Abu Dhabi Mubadala Capital, que comprou a Americas Trading Group (ATG), um concorrente potencial da B3.
“Sem muitos gatilhos de curto prazo, apesar de gostarmos das iniciativas de crescimento, tecnologia e diversificação, além do valuation atraente, reconhecemos que faltam motivos para ver o papel descolar da bolsa no curto prazo”, avaliaram Nishio e Biondo.
O analista Matheus Guimarães, da XP Investimentos, disse em relatório esperar que o balanço da B3 continue pressionado pela menor liquidez da ação e pelos recentes investimentos da companhia em negócios ligados à tecnologia até que comecem a render frutos.
“É importante ressaltar, no entanto, que o nível atual de margem Ebitda é semelhante ao nível pré-pandemia, mostrando a resiliência do negócio, mesmo em um cenário macroeconômico desafiador. Em suma, mantemos nossa visão conservadora sobre a B3, com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 14 por ação”, afirmou Guimarães.
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