Empossado em outubro como diretor-presidente da companhia, Fernando Soares, prevê que o futuro do e-commerce da varejista seja potencializar as vendas nas lojas físicas da marca. A empresa vem reduzindo paulatinamente o número de sellers em seu portal de vendas, deixando essa competição no ambiente virtual para players como Amazon, Magazine Luiza e Mercado Livre. “É uma escolha difícil, mas a gente entende que a decisão correta para a companhia é não ver mais o digital da forma como era antes”, diz Soares.
A CFO da Americanas, Camille Faria, reforça que a estratégia de despriorização do e-commerce era algo já previsto no cronograma da empresa. “A gente já tinha acabado com 1P [a venda com estoque próprio] no site, mas a gente tinha aquele 3P [com vendedores independentes pelo marketplace] ainda bastante grande, com muitos sellers. [Essa redução] estava no desenho estratégico que agora está sendo implementado”, diz Camille.
No período, a empresa registrou receita líquida de R$ 2,7 bilhões, decréscimo de 1% frente ao terceiro trimestre do ano anterior. Foco da operação, o varejo físico registrou um GMV de R$ 3,4 bilhões, empatado com o ano anterior. Já no consolidado entre janeiro e setembro, a receita líquida foi de R$ 8,6 bilhões, saldo positivo de 1,4%.
A companhia registrou lucro líquido de R$ 367 milhões, queda de 96,4% em relação ao mesmo período de 2024, quando o resultado havia sido impactado por eventos não recorrentes. Naquela ocasião, a Americanas reconheceu como receita financeira os haircuts gerados no momento de quitação de dívidas concursais com credores e a reversão de juros em atualizações monetárias.
“O lucro do terceiro trimestre de 2024 foi impactado pela novação da dívida. A emissão das debêntures que novou toda a dívida da recuperação judicial da Americanas foi em julho de 2024. É quando você cristaliza contabilmente o haircut que foi dado. Antes disso, a gente seguia reconhecendo R$ 35 bilhões da dívida anterior e os juros sobre isso”, explica a CFO.
Foco na operação física
A Americanas seguiu dando tração ao encerramento de unidades no período. A empresa fechou o terceiro trimestre do ano com 1.475 lojas, registrando pela primeira vez um número inferior a 1,5 mil unidades. Além disso, há redução no tamanho de algumas unidades. Algumas operações que detinham mais de um andar, sobretudo em shopping centers, foram reduzidas e hoje ocupam apenas um andar. Para conseguir renegociar os custos com aluguéis, a companhia também optou por trocar seu espaço para outro dentro do mesmo shopping em algumas ocasiões.
Segundo os executivos, a estratégia de otimização tem melhorado as margens da operação física. Um número que ilustra isso é o aumento das vendas de suas lojas maduras. No quesito “same store sales”, a empresa avançou 6,5% no trimestre – de janeiro a setembro, o volume evoluiu 10,1% na comparação com os nove primeiros meses do ano anterior.
Para o especialista Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail e sócio da consultoria IRTT, a companhia acerta ao priorizar sua operação física em detrimento do e-commerce. “É um negócio gerador de caixa e de resultados, que dava um bom retorno para os acionistas. O grande problema [do conglomerado] era a B2W, que era devoradora de caixa, deficitária e vinha enfrentando uma pressão competitiva crescente”, afirma ele. “Mas a loja física é destino em algumas categorias. Ela tem condições de continuar operando e de ter um espaço de uma loja de variedades com forte apelo nas categorias sazonais.”
Em um momento de aparente consolidação de grandes players no e-commerce, German Quiroga, uma das mentes por trás da criação do portal de vendas da Americanas no passado, discorda da estratégia de abrir mão do potencial de receita advinda da internet. “Acho um equívoco os varejos abdicarem de ter uma boa solução omnicanal para os clientes”, aponta ele. “Eles deveriam estar se esforçando para terem ótimas soluções com mecanismos também de fidelização e de compensação para que possam ser as primeiras opções na mente dos clientes de itens onde eles são especialistas.”
Venda de ativos
No fim de setembro, a Americanas anunciou o aceite de uma proposta vinculante da Fan Store Entretenimento, dona da rede de lojas Piticas, pela Uni.Co, detentora das marcas Puket e Imaginarium, por R$ 152,9 milhões. Agora, a empresa tem buscado receber propostas para outro ativo, a rede de hortifruti Natural da Terra, mas não tem desespero. Embora haja interessados, a CFO descarta a venda da rede por “qualquer preço” e fala sobre a possibilidade de manter o negócio no futuro. “Se não aparecer nenhuma proposta, ou se a companhia julgar, junto com os credores, que as propostas recebidas são propostas oportunísticas, totalmente fora de mercado, a companhia considera, sim, continuar com o negócio”, diz Camille. “Não vamos vender o negócio a qualquer preço. É um negócio bom, de R$ 1,8 bilhão de GMV.”
