Segundo estatísticas do Banco Mundial, havia quase 8,1 mil companhias com capital aberto nos EUA em 1996, no início da bolha “ponto com”. Esse número encolheu para pouco mais de 4 mil no fim do ano passado.
Mais empresas estão optando por permanecer privadas por mais tempo. Pense em unicórnios como SpaceX, Stripe, Fanatics e a Epic Games (desenvolvedora de Fortnite), por exemplo.
E mais companhias abertas têm decidido fechar o capital. A Electronic Arts (EA) acaba de ser comprada por US$ 55 bilhões por um consórcio de investidores; há também conversas de que a empresa de energia AES pode ser adquirida pela unidade General Infrastructure Partners da BlackRock por US$ 38 bilhões.
A desenvolvedora de software de recursos humanos Dayforce anunciou no fim de agosto planos para deixar a bolsa, enquanto a rede de farmácias Walgreens e a fabricante de tênis Skechers concluíram operações para fazer o mesmo.
Fechar o capital — ou manter-se privada por mais tempo — tem suas virtudes. As empresas evitam a tentação de tomar decisões pensando no curto prazo, sempre tentando “bater” as expectativas de resultados trimestrais e elevar o guidance (projeções financeiras), em vez de focar no longo prazo. Ao mesmo tempo, o aumento das regulações federais nas últimas décadas tornou mais oneroso ser companhia listada.
Assim, apesar de toda a conversa sobre a recuperação do mercado de IPOs, há muitos motivos para que companhias hoje abertas não queiram continuar negociando na Nyse (Bolsa de Nova York) ou na Nasdaq.
Investidores não deveriam se surpreender se o número de empresas listadas encolher ainda mais. As transações envolvendo EA e Walgreens também sugerem que os compradores estão mais dispostos a assumir negócios gigantes.
Kyle Walters, analista de private equity na PitchBook, disse à Barron’s, que o acordo da EA “oficialmente levanta a bandeira verde” para as empresas “retomarem transações de megadeals após vários anos ‘pescando’ alvos menores”.
“Também é a continuidade de uma tendência em operações de fechamento de capital, em que os deals vêm crescendo de tamanho”, afirmou.
A expectativa de novos cortes de juros pelo Federal Reserve (o banco central dos EUA), após a redução do mês passado, pode impulsionar a atividade de fusões e aquisições. Juros mais baixos tornam mais barato financiar compras com dívida.
“À medida que as taxas caírem dos níveis elevados ao longo dos próximos trimestres, esperamos ver mais operações de fechamento de capital patrocinadas por fundos financeiros”, escreveram analistas de e-commerce do Cantor Fitzgerald em relatório na quarta-feira (1). Eles sugeriram que GoDaddy e Instacart, duas ações que caem no ano, poderiam ser candidatas a fechar o capital. Nenhuma das empresas respondeu de imediato a pedidos de comentário.
Ainda assim, há limites para essa migração fora da bolsa. Outros apontam que novas operações de fechamento de capital tendem a ser bem menores do que a da EA — o maior leveraged buyout (LBO, compra alavancada) da história, avaliado em US$ 55 bilhões.
“Dado o tamanho incomum, esperamos que o negócio da EA seja um ponto fora da curva”, escreveu Yuri Seliger, estrategista de crédito do BofA Securities, em relatório na terça-feira (30). Seliger sugeriu que apenas cerca de 3,7% das empresas com dívida de grau de investimento seriam candidatas viáveis a LBO.
E não se engane: para algumas companhias, permanecer listada é mais atraente do que ser comprada por um grupo maior.
Trevor Burgess, CEO da Neptune Insurance, que estreou na bolsa na quarta-feira, disse à Barron’s que um dos motivos para abrir o capital é “ajudar a espalhar a marca” tanto para consumidores quanto para investidores que queiram comprar a ação. Ele acrescentou que não tem interesse em transformar a seguradora de enchentes em parte de uma empresa maior. “Parte da razão para abrir o capital é manter o controle da companhia.”
E, embora seja apenas o primeiro dia da Neptune em Wall Street, a decisão de abrir o capital foi positiva até aqui. O IPO saiu a US$ 20 por ação, no topo da faixa indicativa, e o papel fechou o dia um pouco abaixo de US$ 25, alta de 24% sobre o preço da oferta.
Escreva para Paul R. La Monica em paul.lamonica@barrons.com.