Lembra da Estrela? Empresa fecha acordo para quitar quase R$ 750 milhões em impostos

Fabricante de brinquedos clássicos como Susi e Banco Imobiliário tenta recuperar o fôlego com acordo tributário

A Estrela, uma das marcas mais tradicionais do mercado brasileiro de brinquedos, renegociou R$ 747,9 milhões em dívidas com a Receita Federal. Além dos descontos dados pelo Fisco, parte do montante foi quitado com créditos de prejuízos fiscais e depósitos judiciais já existentes. Com isso, o valor a ser pago em dinheiro ficou em R$ 72,4 milhões, que será parcelado ao longo de dez anos.

Segundo a empresa, o acordo foi firmado com base na Lei da Transação Tributária, que permite a renegociação de débitos com a União. A fabricante aderiu ao programa por meio da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e do programa especial da Receita voltado a companhias em dificuldades financeiras.

Boa parte dessas dívidas se refere a autuações fiscais acumuladas desde os anos 2000, ligadas ao uso de incentivos fiscais e à interpretação de créditos de ICMS e IPI. A empresa vinha contestando esses débitos na esfera administrativa e judicial, mas parte relevante deles foi consolidada em execuções que resultaram no bloqueio de bens e comprometeram o caixa da companhia.

O acordo ajuda a empresa a virar a página após viver duas recuperações judiciais, uma em 2004 e outra em 2008. Desde esse período, a Estrela enfrentou uma série de processos da Receita Federal que bloqueavam ativos e pressionavam os resultados.

Segundo o balanço anual mais recente, referente a 2024, a Estrela teve prejuízo líquido de R$ 24,3 milhões. Um dos principais entraves no resultado foi a dificuldade para montar um terceiro turno de produção antes do Natal, o que comprometeu a entrega de pedidos no período mais importante do ano para a indústria de brinquedos.

Apesar de operar fora dos holofotes, a Estrela segue como negociada na Bolsa. Em 2015, o atual acionista controlador da empresa, Carlos Tilkian, chegou a lançar uma oferta pública de aquisição de ações (OPA) para fechar o capital da companhia, mas desistiu formalmente da operação dois anos depois, em 2017, por falta de adesão dos minoritários. 

Até hoje, as ações da companhia (ESTR3 e ESTR4) são negociadas na B3 — ainda que com baixíssima liquidez.

Parte da infância

A história da Estrela se confunde com a do setor de brinquedos no Brasil. Fundada em 1937 por Siegfried Adler e sócios em São Paulo, a empresa foi por décadas uma das maiores fabricantes do segmento no país.

Brinquedos como Banco Imobiliário, Genius, Susi, Falcon, Aquaplay, Pega Vareta e Bate‑Bate fizeram parte da infância de milhões de brasileiros.

No auge (anos 70‑80), a Estrela chegou a ter milhares de funcionários e várias fábricas; a competição de brinquedos importados ainda era modesta. Com a abertura econômica nos anos 1990, a Estrela passou a enfrentar concorrência pesada de brinquedos importados — muitos deles mais baratos vindos da China. 

Mas o golpe mais duro viria anos depois: a partir dos anos 2000, o Brasil começou a restringir cada vez mais a propaganda infantil, o que mudou radicalmente as regras do jogo para quem vivia de falar direto com as crianças. Sem comerciais com jingle na TV, sem apelo visual em revistas ou embalagens chamativas, a Estrela perdeu boa parte da sua conexão direta com seu público mais fiel.

Hoje, a Estrela opera com uma estrutura mais enxuta. Embora a localização exata da fábrica principal varie conforme documentos, unidades produtivas em Itapevi (SP) ou em outros polos são citadas, e sua sede histórica se mantém em São Paulo. A linha de produtos ultrapassa os 400 itens, com licenciamento de personagens como Peppa Pig, Patrulha Canina e Galinha Pintadinha.

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