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Falta clareza na política da Petrobras, dizem especialistas; ação sobe
Críticas incluem falta de transparência e confusão sobre PPI; entenda.
As ações da Petrobras operam em forte alta nesta terça-feira (16), com o mercado repercutindo a mudança na política de preços da companhia e a redução dos combustíveis nas refinarias. Apesar do avanço dos papéis, especialistas afirmam que não está claro como será feita a precificação e falam em falta de transparência.
A ação PETR4 subiu 2,49% e PETR3, 2,24%, depois de subirem mais de 5% na máxima do dia até agora.
Como era e o que foi anunciado
A política de preços anterior era baseada na Paridade de Importação (PPI), levando em conta a cotação do barril de petróleo lá fora e o câmbio. A ideia era manter os preços do mercado interno alinhados ao que era praticado no exterior, de forma a não desestimular importadoras a trazer ao mercado brasileiro a gasolina e o diesel que o país não dá conta de produzir para atender à demanda.
Agora, a Petrobras diz que a PPI não vai mais ser a base principal para os reajustes, dando lugar a uma nova estratégia que prioriza o “custo alternativo do cliente”, além de um valor marginal para a Petrobras.
“O custo alternativo do cliente contempla as principais alternativas de suprimento, sejam fornecedores dos mesmos produtos ou de produtos substitutos, já o valor marginal para a Petrobras é baseado no custo de oportunidade dadas as diversas alternativas para a companhia dentre elas, produção, importação e exportação do referido produto e/ou dos petróleos utilizados no refino”, diz o comunicado da Petrobras.
Os reajustes de preços da gasolina e diesel continuarão sendo feitos sem periodicidade definida e evitando repasse da volatilidade aos preços, disse a estatal.
O coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, disse que, “com a nova política, o Brasil terá gás de cozinha, gasolina e diesel mais baratos, pois os custos nacionais de produção, em reais, entrarão na composição dos preços.”
Nem especialistas do setor entendem a mudança
O presidente da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), Sergio Araujo, disse à Reuters que o texto é “confuso” e ficou “difícil ter uma referência”.
“Já li duas vezes esse fato relevante da Petrobras e realmente a gente não sabe exatamente o que ela vai fazer…”
presidente da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), Sergio Araujo
“Quando ela fala que vai considerar melhor alternativa do cliente, vai considerar competitividade do produto, margem por refinaria, acho que está muito confuso, vamos aguardar para que a gente possa fazer uma análise e comentar”, disse ele.
O especialista em energia Adriano Pires, do CBIE, também concordou que o “anúncio feito pela Petrobras da nova política de preços é muito confuso”.
“Não dá para entender de forma clara como serão feitos os reajustes futuros. O fato relevante no fundo é só blá-blá-blá. A única coisa que dá para afirmar é que acabou a transparência na determinação dos preços na refinaria”
especialista em energia Adriano Pires, do CBIE
Também em entrevista à Reuters, Pires disse também que, quanto mais elementos se usa para determinar o preço dos combustíveis, “menos transparência teremos e mais risco para o privado importar”. “Aumentou o risco para todos os agentes que atuam no mercado de combustíveis”, afirma.
Fim da PPI: mesmo?
Especialistas comentam que, em uma primeira análise, não é possível entender que a PPI será abandonada pela Petrobras na precificação dos combustíveis.
O economista André Perfeito diz que “a mudança da política de preços, numa leitura inicial, traz poucos elementos à análise”. “Foi dito que não haverá mudanças periódicas de preços e isso sugere que a Petrobras buscará amenizar a volatilidade externa nos preços domésticos, o que faz sentido. De fato a política atual dolarizou a gasolina e isso pode ser problemático em alguns momentos para se dizer o mínimo”, afirma.
“Mas como o Brasil ainda não é auto suficiente no refino, também está claro que a Petrobras não poderá abandonar algum tipo de paridade com os preços internacionais, logo o que foi anunciado precisa ser testado na realidade.”
economista André Perfeito
Heitor De Nicola, especialista de Renda Variável e sócio da Acqua Vero, comenta que “a nova política de preços, apesar de não seguir mais estritamente a paridade internacional, ainda levará em consideração em seu cálculo a cotação internacional da commodity e apenas incorporará custos locais de produção e margens de refino em cada região”.
“Dito isso, pode-se dizer que a mudança não foi tão radical como o esperado”.
Heitor De Nicola, especialista de Renda Variável e sócio da Acqua Vero
Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren, comenta que as mudanças continuarão levando em conta os custos externos, mas de forma diferente.
“A PPI considerava não apenas o custo do produto refinado e a taxa de câmbio, mas também outras despesas como frete e tarifas portuárias, não necessariamente incorridas pela Petrobras. Sob a ótica do custo alternativo do cliente, a empresa continuará olhando para as referências externas ‘da porta pra fora’, mas não mais ‘da porta pra dentro’.”
Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren
“A ideia é que, abdicando da obrigatoriedade de seguir a PPI, a Petrobras consiga ser mais competitiva em alguns mercados, sem ferir a rentabilidade da companhia”, diz Nobre.
Em relatório sobre a nova política de preços da Petrobras, analistas da XP Investimentos comentaram que, “quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem as mesmas.” “Embora as informações fornecidas pela Petrobras tenham sido um pouco opacas, vemos que, de fato, pouco mudará”, disseram Helena Kelm, analista de óleo, gás e materiais básicos, e Andre Vidal, head óleo, gás e petroquímicos, mencionando que não houve alteração na Lei das Estatais e nem no estatuto da empresa.
“No final, achamos que o preço da refinaria da Petrobras pode cair alguns centavos em alguns pontos de entrega, mas não mudará de maneira material.”
(* com informações da Reuters)
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