Gerdau reduz investimentos no Brasil diante do sufoco do aço chinês e do tarifaço de Trump

CEO do grupo reclamou de falta de ação do governo para barrar o aço subsidiado da China

A Gerdau já decidiu: vai reduzir seus investimentos no Brasil. O CEO do grupo, Gustavo Werneck, criticou a demora das autoridades em defender o setor no país. “Vemos uma lentidão do governo de entender a situação e tomar uma decisão de defesa comercial. O mundo todo está fechando as portas só o Brasil deixa aberta”, disse em referência a invasão do aço chinês, durante coletiva sobre os resultados do segundo trimestre de 2025 nesta sexta-feira.

O CEO avisou que, se o volume de aço importado continuar crescendo no mercado doméstico, a empresa pode ter de fazer mais demissões e ajustes operacionais. O grupo já realizou 1,5 mil desligamentos entre janeiro e junho deste ano e opera em muitas plantas no limite da ociosidade. A Gerdau já paralisou uma usina em Minas Gerais, em Barão de Cocais, e, caso haja mais redução de demanda, terá de desligar a planta de Mogi das Cruzes (SP), que já está “no limite da paralisação”.

O problema do setor no Brasil, segundo Werneck, está na entrada excessiva de aço importado, principalmente o produto da China, que chega ao país com preços subsidiados. O executivo classificou a inundação dos produtos metálicos asiáticos por valores muito abaixo do mercado como “desleal”. Para o CEO da Gerdau, “não faz sentido a gente continuar com patamar de investimentos tão grande no Brasil, já que a gente não consegue competir aqui de forma igualitária, isonômica”.

O aço importado alcançou uma participação de 27,2% do consumo interno no Brasil em maio de 2025. Esse avanço sobre o mercado tem sido crescente. Bem pouco tempo atrás, em janeiro deste ano, essa fatia estava em 22,8%.

Ao mesmo tempo, a Gerdau, embora não vá ser afetada diretamente pelo tarifaço imposto pelo presidente americano Donald Trump, preocupa-se com o impacto da elevação de alíquota contra o Brasil para 50% sobre clientes, como as indústrias de máquinas e a automobilística. A companhia já se prepara para uma nova pressão de redução de demanda devido às restrições para exportação aos EUA.

Ruim aqui, bom lá fora

Por outro lado, se aqui a situação só piora, nos Estados Unidos, onde a Gerdau mantém praticamente metade de sua operação siderúrgica, só melhora. A mesma política tarifária que está causando tremores mundo a fora tem ajudado a aumentar a demanda interna para produtos do grupo fabricados em solo americano.

A perspectiva é que o volume de demanda por aço nos EUA continue a crescer nos próximos anos. Werneck ressaltou que o próprio processo de reindustrialização americana traz uma perspectiva otimista. ” Temos vendido muito aço para indústrias que voltam a se instalar nos EUA e nossos volumes devem continuar elevados para os próximos anos.”

O CEO da Gerdau deixou claro que a prioridade no planejamento da próxima fase de investimentos serão os Estados Unidos. “Nosso foco são os EUA e o México.” Sobre os investimentos no Brasil, Werneck explicou que os projetos já iniciados serão terminados e que a redução decidida pelo grupo vai contemplar projetos que ainda estão no papel, além do destino dos recursos nos próximos períodos.

A operação norte-americana, que inclui o México, já puxou os resultados do segundo trimestre. A produção de aço bruto da Gerdau cresceu 4,7% no trimestre, para 3,1 milhões de toneladas, e as vendas de aço totalizaram 2,8 milhões de toneladas, 4,1% acima de um ano antes, justamente diante do aumento nas vendas na América do Norte.

A Gerdau teve um lucro líquido ajustado no segundo trimestre 8,6% menor no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado de R$ 864 milhões. Já o Ebitda ajustado, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, alcançou R$2,56 bilhões de abril ao final de junho, uma queda de 2,4% ano a ano. A receita líquida da empresa teve uma expansão de 5,5% na base anual, para R$17,5 bilhões.

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