O Google foi multado em quase € 3 bilhões (US$ 3,6 bilhões ou cerca de R$ 20 bilhões) pela União Europeia (UE) e ordenado a parar de favorecer seus próprios serviços de tecnologia de publicidade. A medida corre o risco de aumentar ainda mais as tensões da UE com o presidente dos EUA, Donald Trump.
A Comissão Europeia informou nesta sexta-feira (5) que o Google abusou de sua posição dominante ao dar às suas próprias plataformas de anúncios uma vantagem competitiva sobre os rivais.
“Quando os mercados falham, as instituições públicas devem agir para impedir que players dominantes abusem do poder“, disse a comissária antitruste da UE, Teresa Ribera, em um comunicado. “A verdadeira liberdade significa igualdade de condições, quando todos competem em igualdade de condições e os cidadãos têm o direito de escolher.”
O Google vai recorrer. Lee-Anne Mulholland, vice-presidente de assuntos regulatórios da empresa, disse que a medida “impõe uma multa injustificada e exige mudanças que prejudicarão milhares de empresas europeias, dificultando sua lucratividade”.
A Casa Branca não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre a multa.
Multa para o Google
A multa bilionária está entre as sanções mais severas de Bruxelas e é a segunda mais alta aplicada pela UE contra o Google por supostos abusos de posição dominante. Ela segue uma multa de € 4,125 bilhões (US$ 4,95 bilhões ou cerca de R$ 27,2 bilhões) para o Android.
Já uma Uma taxa de € 1,49 bilhão sobre o AdSense foi anulada no ano passado.
A empresa sediada em Mountain View, Califórnia, é a número 1 no mercado global de anúncios digitais, avaliado em US$ 757,5 bilhões, segundo estimativas da empresa de pesquisa EMarketer para 2025.
No total, em todo o mundo, a expectativa é que o Google arrecade US$ 205,04 bilhões (cerca de R$ 1,1 trilhão) em receita com anúncios digitais em 2025. A maior parte (US$ 171,72 bilhões ou R$ 940 bilhões), vem dos negócios globais de publicidade em buscas do Google. Os US$ 33,33 bilhões (R$ 181 bilhões) restantes são provenientes de anúncios gráficos.
O Google administra um serviço de compra de anúncios para profissionais de marketing e um de venda de anúncios para editores. A empresa tem também uma bolsa de negociação onde ambos os lados concluem transações em leilões extremamente rápidos.
Angela Mills Wade, diretora executiva do Conselho Europeu de Editores, que apresentou a queixa à Comissão Europeia, afirmou que “uma multa não consertará o mercado de tecnologia publicitária da Europa, que está em dificuldades”.
“Sem uma fiscalização forte e decisiva, o Google simplesmente desconsiderará isso como um custo de negócio, consolidando seu domínio na era da IA”, afirmou. “A Europa corre o risco de minar as suas próprias regras e de enfraquecer os meios de comunicação social e o setor editorial.”
Relações com os EUA
A punição da UE ocorre em um momento tenso para as relações comerciais UE-EUA, com Trump ridicularizando repetidamente os esforços do bloco para controlar as gigantes do Vale do Silício.
Embora o Google enfrente escrutínio antitruste em todo o mundo, a empresa obteve algum alívio esta semana quando um juiz americano decidiu que seus negócios de busca não precisariam ser desmembrados para lidar com os danos alegados pelo Departamento de Justiça.
As operações de tecnologia de anúncios do Google, no entanto, também permanecem ameaçadas nos EUA.
O Departamento de Justiça deve apresentar propostas de reparação ainda nesta sexta-feira (5) em outro caso, antes de uma audiência em 22 de setembro sobre essas propostas. Anteriormente, o departamento havia cogitado forçar o Google a desinvestir em sua plataforma Ad Manager para lidar com os supostos riscos anticompetitivos.
Ribera, da UE, apontou para a possibilidade de uma decisão nos EUA que forçaria o Google a desmembrar sua plataforma de tecnologia de anúncios.
“Neste momento, parece que a única maneira de o Google encerrar seu conflito de interesses de forma eficaz é com uma solução estrutural, como a venda de parte de seus negócios em tecnologia de publicidade”, disse ela em seu comunicado.
A UE alertou o Google em 2023 de que ele havia abusado de sua posição dominante em tecnologia de publicidade para prejudicar editores online.
Na época, a comissão sediada em Bruxelas afirmou que o Google havia favorecido seu próprio programa de troca de anúncios em detrimento de seus rivais e reforçado o papel central da empresa na cadeia de suprimentos de tecnologia de publicidade.
A antecessora de Ribera, Margrethe Vestager, disse na época que apenas um “desinvestimento obrigatório” de parte de seus negócios resolveria os problemas. Ela havia passado uma década em Bruxelas, onde aplicou ao Google multas de mais de € 8 bilhões (US$ 9,6 bilhões ou R$ 52 bilhões) em três casos diferentes, embora uma penalidade tenha sido anulada e outra reduzida pelos juízes da UE.