A Hershey está pedindo permissão ao principal órgão regulador de derivativos dos EUA para comprar uma grande quantidade de cacau na bolsa de Nova York, depois de a escassez global ter feito com que os preços atingissem um recorde, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.
A fabricante dos chocolates Hershey’s, KitKat e dos Reese’s Peanut Butter Cups quer assumir uma posição que lhe permita comprar mais de 90 mil toneladas de cacau na bolsa de mercadorias ICE Futures US, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificadas porque a informação é privada. A solicitação à Commodity Futures Trading Commission equivale a cerca de 5.000 contêineres de 20 pés e é mais de nove vezes a quantidade permitida atualmente pela bolsa.
As ações da Hershey caíram até 3,4% com a notícia.
A medida ocorre em um momento em que se prevê que o mercado global enfrentará o quarto ano consecutivo de escassez de oferta depois que a disseminação de doenças e o mau tempo prejudicaram as colheitas na Costa do Marfim e em Gana, que normalmente respondem por mais de 60% da oferta global. Os preços já bateram recorde após recorde, levando o Diretor Financeiro da Hershey’s, Steve Voskuil, a alertar que a empresa enfrentaria custos mais altos com o cacau este ano.
A oferta de cacau é tão escassa que a Hershey, uma das maiores fabricantes de chocolate dos EUA, está solicitando a rara isenção do limite, disseram as pessoas. A quantidade que a empresa deseja comprar é tão grande que também excede o limite de posição federal de 4.900 contratos, ou 49.000 toneladas, estabelecido pela CFTC.
A Hershey disse em novembro que estava “bem protegida” em 2024, quando entrou no mercado mais cedo. Em uma teleconferência de resultados, Voskuil disse que os custos do cacau em 2025 enfrentariam um “aumento bastante significativo” em relação ao ano anterior.
Um porta-voz da empresa sediada na Pensilvânia disse que a Hershey tem um processo de aquisição “rigoroso” e que está “bem coberta” em suas necessidades de cacau para 2025. A CFTC e a ICE não quiseram comentar.
Os contratos futuros de cacau quase triplicaram em Nova York no ano passado, aumentando o custo das negociações e forçando os traders que não podem colocar mais dinheiro como garantia a retirar suas posições do mercado. O interesse aberto, ou o número de contratos em aberto, caiu 65% no ano passado, tornando a bolsa menos eficiente. A escassez de dinheiro também está impedindo que alguns traders transfiram os grãos dos países produtores para os países consumidores.
A escassez global de cacau é tão grande que agora é muito mais barato receber a entrega dos suprimentos por meio da bolsa de Nova York do que comprar no mercado físico. Como resultado, os estoques certificados pela bolsa estão diminuindo, tendo caído mais de 70% desde maio de 2023, mostram os dados da ICE.
A quantidade de cacau que a Hershey quer comprar é equivalente a praticamente todos os grãos atualmente certificados para entrega contra contratos futuros em Nova York. É provável que um limite de posição maior leve o preço dos futuros com data anterior a um prêmio significativo acima dos futuros com data posterior, perturbando o mercado de futuros.
Ainda assim, há mais estoques no mundo além dos grãos certificados pela bolsa, e a oferta está começando a melhorar em países produtores menores, como Peru e Equador.
A Hershey está sendo representada por Joshua Sterling, sócio da Milbank LLP em Washington, disseram as pessoas. Seu nome foi citado como um possível presidente da CFTC no segundo governo Trump. Sterling não quis comentar.
Essa não seria a primeira vez que a Hershey subverteria o mercado de futuros de Nova York. Em 2020, no auge da pandemia, a empresa assumiu uma posição tão grande que fez com que o prêmio do contrato de dezembro em relação a março atingisse o maior valor já registrado. A compra foi tão grande que exigiu uma permissão especial da ICE.