Negócios
Jogando a toalha: BHP desiste de comprar Anglo American
Recuo acontece após BHP oferecer US$ 49 bilhões pela rival
O Grupo BHP decidiu não fazer uma oferta formal pela Anglo American, optando por se afastar do que teria sido o maior negócio de mineração em mais de uma década.
O anúncio marcou o fim abrupto da batalha pública de cinco semanas entre dois dos maiores nomes da mineração. Isso aumentará a pressão sobre o CEO da Anglo, Duncan Wanblad, para entregar um ambicioso plano de reestruturação, enquanto seu homólogo na BHP pode ter que procurar em outro lugar o crescimento em cobre que a Anglo poderia ter proporcionado.
A BHP queria que a Anglo separasse parte dos seus ativos e topasse ser adquirida pela concorrente, o que não agradou a mineradora 107 anos. A Anglo American rejeitou repetidamente as propostas da BHP, mas na semana passada concordou em estender o prazo para permitir negociações. Ainda assim, as duas partes não conseguiram chegar a um acordo sobre a complexa estrutura de negócio de US$ 49 bilhões proposto pela BHP, e a Anglo disse que não via razão para outro adiamento, apesar de um apelo de última hora da BHP.
Uma aquisição bem-sucedida teria criado uma potência em commodities que superaria seus concorrentes mais próximos, aumentando significativamente a produção de cobre da BHP em um momento em que mineradoras e investidores se posicionam para um período prolongado de oferta restrita de metais e aumento dos preços.
A decisão da BHP de se afastar também reflete uma nova realidade para a indústria de mineração: os maiores produtores finalmente voltaram às negociações de fusões e aquisições após anos à margem, mas conselhos e gestões estão cautelosos para não irritar investidores depois de passarem a última década reconstruindo a reputação de suas empresas após uma série de aquisições desastrosas e caras.
Agora, a pressão está sobre o CEO Wanblad para mostrar que a Anglo pode gerar mais valor para os acionistas como uma empresa independente, após revelar um plano radical para reestruturar o negócio no início deste mês. Analistas e investidores também sugeriram que a BHP ou outro concorrente ainda poderiam mirar na Anglo no futuro, especialmente se a empresa conseguir sair de alguns de seus negócios menos atraentes. As regras de aquisição do Reino Unido exigem que a BHP se mantenha afastada por seis meses, a menos que a Anglo receba uma oferta rival.
As ações da Anglo caíram 3,1% na quarta-feira (29), mas permanecem bem acima dos níveis vistos antes da Bloomberg relatar pela primeira vez o interesse de aquisição. Os preços das principais commodities, incluindo cobre e minério de ferro, subiram no mesmo período.
A BHP abordou a Anglo pela primeira vez com uma proposta em meados de abril para que a empresa menor desmembrasse suas participações majoritárias em duas mineradoras listadas na África do Sul antes de uma aquisição total do restante do grupo. A Anglo rejeitou a oferta e, em vez disso, apressou-se a apresentar um plano para reestruturar seus negócios, saindo dos setores de diamantes, platina e carvão, enquanto desacelerava os gastos em um enorme projeto de fertilizantes no Reino Unido.
A Anglo há muito é vista como um alvo potencial devido às suas lucrativas minas de cobre, mas sua estrutura complicada e mistura incomum de commodities de nicho mantiveram os pretendentes afastados. Uma série de reveses fez com que o preço de suas ações despencasse no final do ano passado, deixando a empresa vulnerável à BHP e seu CEO Mike Henry, que vinha buscando um grande negócio para crescer no setor de cobre.
Mas, embora a BHP tenha aumentado duas vezes o número de ações que estava disposta a pagar pela Anglo, Henry manteve-se firme ao insistir nos desmembramentos e evitou adicionar um elemento em dinheiro ao negócio.
A Bloomberg informou na semana passada que as partes estavam mais próximas em termos de valor após o segundo aumento da BHP, mas a estrutura permaneceu um ponto de discórdia chave e as empresas e seus conselheiros não conseguiram encontrar uma solução.
As objeções da Anglo à proposta da BHP centraram-se na África do Sul, que tem estado no centro de um possível acordo desde que se tornou público. É o lar de algumas das maiores operações da Anglo, empregando dezenas de milhares de pessoas, e a empresa tem profundos laços políticos e sociais com o país.
A Anglo estava preocupada que a exigência da BHP de que ela saísse primeiro da Anglo American Platinum e da Kumba Iron Ore pudesse deixar as recém-independentes empresas listadas em Joanesburgo arcando com o custo de quaisquer concessões impostas pela África do Sul, reduzindo seu valor e, em última análise, penalizando os atuais investidores da Anglo que receberiam as ações nas desmembramentos. O negócio em várias etapas exigiria várias camadas de aprovação na África do Sul, onde os negócios são submetidos a avaliações de “interesse público” e as autoridades têm histórico de extrair concessões substanciais das empresas.
As duas partes pareceram falar uma sobre a outra na quarta-feira, enquanto a BHP enfatizava os compromissos que assumiu para garantir a aprovação regulatória na África do Sul, enquanto a Anglo repetia suas preocupações de que as aprovações poderiam resultar em uma perda de valor para seus acionistas, dependendo das condições impostas pelas autoridades.
A BHP argumentou que a Anglo deveria estender o prazo pela segunda vez e ofereceu discutir uma taxa de rescisão se o negócio não recebesse aprovações regulatórias, mas o conselho da empresa menor disse que não via razão para isso, dado o contínuo abismo entre suas duas posições.
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