Negócios
L’Oreal e Heineken neutralizam carbono de campanhas digitais
Publicidade digital também gera impactos negativos ao planeta.
À primeira vista pode parecer que a publicidade digital gera pouco impacto quando o assunto é emissão de gás carbônico – afinal, não se usa papel e tudo fica nas telas. Mas a realidade é que, na prática, os conteúdos virtuais também contribuem negativamente para o planeta.
Não à toa, empresas já se movimentam para diminuir os impactos a partir da neutralização do carbono – que é basicamente diminuir a emissão de gases que causam o efeito estufa por meio, por exemplo, da plantação de árvores. A startup de marketing HYPR começou a oferecer o produto há alguns meses e já tem dois gigantes globais como clientes: L’Oreal e Heineken.
“Grandes marcas, principalmente as globais que operam na Europa, já têm uma preocupação de neutralizar as emissões para além das fábricas, o que permeia o marketing e consequentemente a mídia. E essas empresas, quando atuam no Brasil, querem manter o mesmo padrão de excelência”, explica César Moura, diretor e cofundador da HYPR.
Segundo ele, na Europa muitas empresas já são obrigadas a neutralizar o CO2 da publicidade, enquanto no Brasil a iniciativa é voluntária.
Por que a publicidade digital polui o planeta?
Moura lembra que a monetização da versão gratuita de diversos aplicativos, como o Youtube, ocorre por meio da publicidade. Por trás disso, há plataformas que chegam a fazer, por exemplo, 12 milhões de análises por segundo para saber qual anúncio entregar para cada usuário que acessa essas plataformas.
“Para se ter ideia, a bolsa de valores americana faz de 3 a 6 bilhões de transações diárias com a compra e venda de ações, o ecossistema de publicidade é 100 vezes maior em volume, e isso consome muita eletricidade”.
Cesar explica que a publicidade faz parte do terceiro nível de escopo de emissões de gás carbônico – significa que são emissões indiretas, mas que são de responsabilidade das empresas.
Neutralização do carbono
Para fazer a neutralizarão do carbono, a HYPR usa uma metodologia que calcula e mensura a emissão de GEEs (Gases de Efeito Estufa) do plano de mídia digital dos anunciantes e aponta o volume necessário para neutralizar o impacto.
“Nossa missão vai até a emissão do certificado que garante que os créditos de carbono foram emitidos”, explica.
Para concretizar a neutralização do carbono, a empresa fez uma parceria com a Moss, climatech que usa a tecnologia a favor do meio ambiente e no combate à crise climática. A empresa mapeia locais da Amazônia que podem ser preservados e que são monitorados diariamente por satélite.
“A Moss entra com essa expertise e gera uma renda para essa área. O dono da terra vai ficar desincentivado a desmatar, porque ele está obtendo outro tipo de receita e ainda preservando”.
Cases
No caso da Heineken, a neutralização envolveu a campanha Green Your City, veiculada em múltiplos canais digitais de outubro a dezembro de 2022.
Moura, da HYPR, explica que mais 310 toneladas de CO2 foram neutralizadas, montante equivalente a 44 mil árvores preservadas.
Para que as empresas não precisem criar uma nova linha de orçamento para compensação de carbono, a ideia da HYPR é que a própria campanha seja sustentável. “Ou seja, para cada valor investido em mídia, a gente gera um retorno financeiro e um percentual da venda é usado para compensar a neutralização do carbono”.
No caso da L’Oreal, Moura explica que foi possível neutralizar a campanha de lançamento do perfume My Way, da Giorgio Armani Beauty, a um custo de 2,83% do impacto financeiro gerado pelo próprio projeto. “Com 2,83% das vendas que a campanha gerou, neutralizamos toda a campanha. Se a gente conseguisse precificar um pouco de quase tudo da publicidade, conseguiríamos resolver boa parte do problema do planeta”, explica.
My Way é o primeiro lançamento do grupo com o compromisso de neutralidade de carbono e até 2025 a empresa quer usar 100% de energia renovável em seus processos.
A lição de neutralizar o carbono também é feita dentro da própria HYPR, já que a própria startup neutraliza o gás carbônico que produz.
O objetivo da HYPR é chegar a 10 clientes no segmento de neutralização de carbono até o fim de 2023. “O grande desafio das marcas é fazer a neutralização de forma perene e não em uma campanha só”, afirma.
Veja também
- Com demanda de inteligência artificial, Google acelera emissões
- De Luciano Huck a Nathalia Arcuri, BYD faz ofensiva para popularizar elétricos
- B4, primeira bolsa de crédito de carbono do mundo, planeja IPO na Nasdaq e B3
- Brasil pode atender a metade da demanda global de carbono. Como investir?
- Fecomercio SP quer regras claras para criação de mercado de carbono