Negócios
Lucro da JSL cai 21,5%, mas margens sobem em meio ao repasse de custos
Empresa intensificou diálogo com clientes e motoristas autônomos para driblar aumento dos custos.
A empresa de logística rodoviária JSL (JSLG3) registrou uma queda de 21,5% no lucro líquido no primeiro trimestre de 2022 ante o mesmo intervalo do ano passado, para R$ 33 milhões. Em relatório de resultados divulgado na madrugada desta quarta-feira (4), a companhia afirmou que o recuo se deve à maior despesa financeira como “consequência da alta de juros“.
O fato é que a inflação, especialmente, tem afetado em cheio diferentes setores da economia. Esse é o caso da empresa de logística, que tem enfrentando o aumento nos valores dos insumos, especialmente a subida de preços dos combustíveis após os reajustes anunciados pela Petrobras na primeira semana de janeiro e na primeira semana de março.
“O aumento foi tão alto que tivemos que sentar com todos os nossos clientes para renegociar e antecipar a data-base dos contratos”, explicou Guilherme Sampaio, CFO da JSL, em entrevista ao Investnews sobre o balanço financeiro reportado pela companhia.
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Em relatório, a empresa mencionou ainda que a inflação continua a pressionar a base de insumos e o repasse de preços aos clientes ocorre com defasagem temporal em relação ao aumento dos custos.
Mas não foi só com os clientes que a empresa precisou dialogar. Se a JSL teve seus custos pressionados pela alta do combustível, para os motoristas terceiros o estrago foi ainda maior.
“O combustível representa 50% do custo deles, então tivemos que ter muita habilidade e agilidade para negociar com o cliente e com o carreteiro ao mesmo tempo, fazer a conta fechar para todo mundo e não parar a operação”, disse Sampaio.
A estratégia contribuiu para que a companhia pudesse elevar suas margens, mesmo diante de um cenário desafiador. A margem Ebitda (lucro da companhia sem considerar custos como juros, impostos, depreciação e amortização) ficou em 17,3%, expansão de 2,3 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano anterior. “Obviamente, há muita coisa retroativa para resolver (em relação ao repasse aos clientes), mas a margem está ali, ela não mente, a gente conseguiu repassar tudo o que tivemos de aumento de custo”, reiterou Sampaio.
Outros números
Se de um lado a inflação atuou como vilã, do outro ela contribuiu para a apreciação dos bens da empresa. “É importante destacar que observamos forte valorização nos nossos ativos operacionais (caminhões, máquinas e equipamentos), que atualmente estão contabilizados com valor total de R$ 2,5 bilhões. Se considerarmos a margem bruta de venda de ativos do primeiro trimestre, de aproximadamente 26%, e aplicarmos sobre o valor imobilizado, teremos cerca de R$ 664 milhões de geração de valor adicional, o que é mais que suficiente para contrapor a elevação da taxa básica de juros do país”, disse a empresa em relatório.
Nesse sentido, Guilherme Sampaio mencionou que o Roic (retorno sobre capital investido) avançou 5,5% pontos percentuais, o que mostra, em sua visão, que os ativos adquiridos pela companhia (o que inclui as empresas compradas recentemente) geraram retorno adequado. “Isso leva a uma geração de caixa maior e reduz a dívida líquida”, aponta.
Além disso, a companhia conseguiu elevar sua receita em 49,3% no terceiro trimestre ante o mesmo intervalo do ano passado, para R$ 1,29 bilhão, enquanto o Ebitda subiu 71,4%, para R$ 219,1 milhões. “O Ebitda teve um crescimento ainda maior do que a receita. Isso mostra como uma gente teve bons resultados mesmo em um cenário complexo com o aumento de insumos”, avaliou Ramon Alcaraz, CEO da companhia.
Em relatório de resultados, a empresa mencionou, dentre os segmentos que contribuíram para o avanço da receita, que as operações de armazenagem tiveram um crescimento de 298%, o que está relacionado em grande parte à consolidação da empresa TPC, que foi adquirida no segundo semestre e representa hoje 75% da receita líquida de serviços da operação.
A empresa adquirida está inserida principalmente nos setores de cosméticos, moda, varejo, eletroeletrônicos, telecomunicações, farmacêutico, equipamentos hospitalares, bens de consumo, óleo & gás e petroquímico.
Espaço para crescer
O CFO da JSL lembrou que enquanto nos Estados Unidos e na Europa as empresas líderes do mercado de logística têm 7% e 9% de participação, aproximadamente, a JSL, que é hoje a maior empresa do setor no Brasil, tem menos de 1%. “Há um espaço de consolidação para criação de um grande player brasileiro que chegue a 7% até 10% do mercado”.
Para assumir esse espaço, o plano da JSL é continuar buscando aquisições. “As empresas compradas crescem no combinado mais do que a JSL. Significa que conseguimos fazer boas aquisições com empresas que ajudam no nosso resultado”, diz.
De acordo com a companhia, enquanto a receita bruta de serviços combinada das companhias adquiridas subiu 31% no terceiro trimestre deste ano ante o mesmo intervalo do ano passado, a da JSL separadamente avançou 15%.
O executivo lembrou ainda que a JSL terminou o trimestre com uma posição de caixa R$ 1 bilhão. “Isso nos deixa em uma posição confortável para continuar comprando empresas e investimentos”.