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Apesar de lucro acima do esperado, Ebitda desaponta e derruba ação da Vale

Ações da mineradora caem mais de 5% na B3 e 6% em Nova York.

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A mineradora Vale (VALE3) relatou na noite de quinta-feira (27) que encerrou o terceiro trimestre com lucro líquido de US$ 4,44 bilhões, montante que superou, por exemplo, as estimativas compiladas pela Refinitiv, que esperavam ganhos de US$ 2,754 bilhões no período. Mas o fato é o mercado não reagiu nada bem aos números.

Isso porque o lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado, um dos principais indicadores para avaliar como está efetivamente o caixa da companhia, veio 12% abaixo do que previa o consenso, ao somar US$ 4 bilhões no período.

O BTG Pactual, por exemplo, considerou que o terceiro trimestre da companhia “é para esquecer”.

Andre Vidal, da XP Investimentos, explicou que o lucro é muitas vezes afetados por questões contábeis que não têm efeito caixa (ou seja, não geram necessariamente entrada ou saída de dinheiro), como é o caso de impairment (redução dos valores recuperáveis dos ativos) e as variações cambiais e, por esta razão, o mercado olha com mais atenção para o Ebitda.

“Do lucro do terceiro trimestre, US$ 2,4 bilhões vieram de outros itens financeiros, por sua vez afetado por uma reclassificação de ajustes de conversão (sem efeito caixa). Essa reclassificação contábil sozinha teria reduzido o lucro líquido da Vale de US$ 4,44 bilhões para US$ 2,90 bilhões”, explicou Vidal.

De acordo com o analista, além do Ebitda, outro indicador visto com lupa pelo mercado é a geração de caixa operacional da companhia.

Crédito: Adobe Stock

Ações em queda

Por volta das 15h30, os papéis negociados na B3 caíam mais de 5%, enquanto os recibos de ações (ADRs) negociados na bolsa de Nova York recuavam mais de 6%.

Os bancos de investimentos apontaram que os menores preços de minério de ferro, que é o principal produto da companhia, prejudicaram os resultados da Vale que também teve custos maiores no período.

Em relatório, a equipe da XP Investimentos analisou que o preço-referência médio do minério de ferro caiu 25% no trimestre (de US$ 138 a tonelada, para US$ 103).

Além disso, o custo unitário do frete marítimo foi de US$ 22,4 por tonelada – quantia US$ 1,1 maior do que a registrada no segundo trimestre.

Veja abaixo a análise das principais casas que cobrem a companhia:

BTG Pactual

Leonardo Corre e Caio Greiner, analistas do BTG Pactual, escreveram em relatório que a Vale reportou um conjunto “decepcionante” de resultados e que o terceiro trimestre da companhia “é para esquecer”.

O Ebitda ficou 13% abaixo da projeção do banco, que atribui o resultados aos custos de produção dos finos de minério de ferro da mina ao porto, chamado de C1, mais altos e 8% acima do projetado pelo banco, além de custos com frete mais altos e Ebtida de metais básicos substancialmente mais baixos.

XP Investimentos

Andre Vidal e Helena Kelm, da XP Investimentos, avaliaram que os menores preços de minério de ferro e os menores preços de níquel aliados a maiores custos impactaram significativamente os resultados da Vale, “apesar de um ambiente de melhoria na produção e vendas”.

Os analistas pontuaram que o Ebitda ajustado proforma de US$ 4 bilhões ficou 14% abaixo de de suas estimativas e 12% inferior ao calculado pelo consenso.

Além disso, a receita líquida de US$ 9,9 bilhões ficou 2% abaixo do previsto pela XP e 3% inferior ao estimado pelo consenso.

O Ebitda de minério de ferro foi de US$ 3,8 bilhões (queda de 27% na variação trimestral) “devido ao menor preço de venda do ferro e maiores custos de frete”, afirmaram os analisas.

Já o Ebitda da divisão de metais básicos (níquel e cobre) de US$ 364 milhões caiu 40% na comparação como segundo trimestre e ficou 30% abaixo das previsões da XP..

Para os analistas, os principais temas observados a partir daqui devem ser: comentários sobre a participação da Cosan na empresa; spin-off  (independência) das operações de metais básicos e expectativa sobre a demanda de aço chinesa. 

Bofa

Caio Ribeiro, Leonardo Neratika e Guilherme Rosito, do Bank of America (BofA), apontaram que o Ebitda da Vale de US$ 4 bilhões ficou 7% abaixo de suas previsões.

“Após o relatório de produção, sinalizamos que os embarques de minério de ferro mais baixos implicavam uma potencial queda de US$ 150 milhões para nossa previsão de US$ 4,3 bilhões. Portanto, a queda foi atribuída principalmente a custos caixa ligeiramente mais altos para o minério de ferro (1,4% acima do previsto pelo BofA) e custos mais altos na divisão de metais básicos do que havíamos previsto”.

Os analistas reiteraram que a companhia manteve sua meta de alavancagem de US$ 10 a US$ 20 bilhões.

“No geral, mantemos nossa classificação neutra, pois vemos os preços do minério de ferro permanecendo pressionados à frente, mas ainda vemos retornos de caixa atraentes (7% de rendimento médio em dividendos em 2023 e 2024 e mais programa de recompra)”.

Itaú

Ao considerar que a companhia reportou resultados negativos, Daniel Sasson, do Itaú BBA, escreveu que o Ebitda ajustado da companhia ficou 12% abaixo das estimativas que eram de US$ 4,5 bilhões.

“A diferença em relação a nossa projeção é explicada principalmente por desempenho de custos abaixo do esperado na divisão de minério de ferro e fracos resultados na divisão de metais básicos, principalmente devido aos maiores custos de níquel”, avaliou.

Em termos positivos, a casa apontou que geração de caixa (FCF) de US$ 2,2 bilhões foi “sólida”.

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