A Smart Fit já enxerga um empurrão extra para seu crescimento vindo de fora das salas de musculação: os medicamentos análogos ao GLP-1 — como Ozempic e Mounjaro —, que têm revolucionado o tratamento da obesidade e podem também ampliar a demanda por academias. “Nos Estados Unidos e no Reino Unido, vimos o efeito dos GLP-1 impulsionar a procura por academias. A tendência é que no Brasil aconteça o mesmo”, disse o CEO Edgar Corona durante a 26ª Conferência Anual do Santander, em São Paulo, nesta quarta-feira (20).
A percepção do executivo se apoia no movimento que vem ganhando tração internacional. Ao promover a perda de peso, os remédios não têm reduzido o interesse por atividade física — ao contrário, acabam incentivando quem começa a emagrecer a manter os resultados com exercício regular. De olho nesse potencial, a rede já contabiliza os possíveis efeitos positivos em seu planejamento estratégico, que inclui abrir mais de 300 novas academias em 2025, ultrapassando a marca de 2 mil unidades e dando fôlego a um plano mais amplo de dobrar de tamanho até 2028.
Expansão com disciplina
O crescimento, no entanto, não é a qualquer custo. Mesmo com apetite para aumentar sua presença no Brasil e na América Latina — e testando operações em novos mercados como o Marrocos —, a Smart Fit reforça que a expansão segue critérios rígidos. A empresa mantém comitês para aprovar tanto a abertura de unidades quanto a continuidade daquelas já existentes.
“Às vezes, dizer não é mais duro do que dizer sim”, afirmou Corona, ao comentar sobre pontos comerciais medianos. Segundo ele, locais com performance apenas razoável podem funcionar no curto prazo, mas se tornam vulneráveis com a chegada da concorrência. “Loja boa resiste a qualquer concorrente. O que não resiste é ponto ruim.”
Dados como diferencial competitivo
Para sustentar o crescimento, a companhia tem apostado em tecnologia. Ferramentas de machine learning são utilizadas para prever demanda, calcular índices de cancelamento e otimizar o relacionamento com os alunos. Atualmente, 70% dos frequentadores usam o aplicativo próprio para treinar, e a digitalização é vista como uma alavanca para retenção e eficiência operacional.
Outra frente de crescimento é o ecossistema da marca, com destaque para o aplicativo TotalPass, que conecta empresas e colaboradores a academias. A ideia, inicialmente vista com ceticismo até dentro do próprio conselho, hoje representa uma das principais fontes de receita complementar da Smart Fit. “Foi uma decisão que poderia até parecer arriscada, mas se mostrou estratégica”, disse o executivo.
O impacto dos genéricos
Na mesma conferência, Eugênio De Zagottis — ex-diretor executivo e hoje conselheiro da RD Saúde — reforçou o potencial de transformação dos análogos ao GLP-1. Segundo ele, a entrada de genéricos deve reduzir os preços desses medicamentos, com margens atrativas e forte expansão de mercado. “Na Rússia, por exemplo, o mercado desses produtos cresceu cinco vezes após a chegada dos genéricos”, afirmou.
No Brasil, o Itaú BBA já projeta ganho de margem para a RD Saúde com o lançamento da versão genérica da liraglutida pela EMS — mais um indicativo de que a popularização das “canetas emagrecedoras” pode alterar não só o mercado farmacêutico, mas também o de bem-estar e atividade física.