Maré baixa à vista: gigantes do frete marítimo veem lucros recuarem com tarifas e novas rotas

Empresas do transporte marítimo que registraram ganhos recordes em 2024 devem enfrentar queda de até 50% nos lucros este ano

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Grandes empresas globais de navegação, da dinamarquesa Maersk à chinesa Cosco Shipping, que registraram lucros extraordinários no ano passado, podem ver uma reversão de seus bottom lines polpudos em 2025 com a potencial reabertura da rota do Mar Vermelho e a ameaça de tarifas punitivas dos Estados Unidos.

Os planos do presidente americano Donald Trump de introduzir novas taxas de importação estão prejudicando o comércio, enquanto a perspectiva de um cessar-fogo duradouro no Oriente Médio poderia redirecionar o tráfego de volta pelo Canal de Suez, pressionando as tarifas de frete para baixo.

As tarifas globais de transporte marítimo caíram 5,9% na semana encerrada em 27 de fevereiro, de acordo com dados do World Container Index. O Índice de Frete de Contêineres de Xangai perdeu 57% desde seu pico em julho.

"O setor de transporte marítimo é uma indústria volátil, vulnerável a ciclos de alta e baixa", lembra o analista da Bloomberg Intelligence, Lee Klaskow. As empresas de navegação "provavelmente não teriam tido um bom ano sem a crise do Mar Vermelho", avaliou Klaskow, estimando que os desvios pelo Cabo da Boa Esperança adicionaram de 10 a 15 dias às viagens.

"Não parece haver fatores orgânicos para ajudar a conter o declínio contínuo em 2025", afirmaram Klaskow e o colega analista Kenneth Loh em uma nota de pesquisa de 20 de fevereiro.

O aumento das tarifas americanas sobre produtos chineses provavelmente reduzirá os volumes no transporte de contêineres em 1,5 a 2 pontos percentuais em 2025, de acordo com o analista da Kepler Cheuvreux, Axel Styrman, que estima um crescimento de 3,5% a 4% quando se excluem as tarifas. A reabertura das rotas do Mar Vermelho – esperada em algum momento do ano – pode reduzir a demanda por transporte de contêineres em cerca de 6%, segundo seus cálculos.

"Se ambos os eventos se materializarem, a utilização da capacidade – que também será impactada negativamente pelo contínuo crescimento elevado da frota – sofrerá forte pressão de queda em 2025, com uma potencial redução nas tarifas à vista de 30% a 40% em comparação com 2024", disse Styrman. Os benefícios de curto prazo do adiantamento de importações antes das tarifas também estão diminuindo na China, disse Parash Jain, chefe global de pesquisa de transporte e logística do HSBC.

Os planos de Trump também ameaçam as perspectivas de longo prazo para o setor, escreveram analistas do Citi, incluindo Kaseedit Choonnawat, em uma nota, dizendo que as tarifas propostas poderiam significar custos unitários mais altos para a rota transpacífica. A Cosco Shipping parece ser a mais arriscada, dado seu alto percentual de navios construídos na China, enquanto transportadoras taiwanesas e japonesas podem ser potenciais beneficiárias, segundo eles.

A Maersk prevê lucro operacional (Ebitda) de US$ 6 bilhões a US$ 9 bilhões em 2025, abaixo dos US$ 12,1 bilhões do ano passado. Uma reabertura do corredor do Mar Vermelho até meados do ano apontaria para o limite inferior da faixa de orientação, mas poderia atingir o limite superior se os navios não puderem transitar por lá até o final do ano, disse a empresa em 6 de fevereiro.

"2025 parece estar em terreno instável" para a Maersk, escreveu o analista da Bernstein, Alex Irving, em uma nota.

As empresas de navegação asiáticas, que devem reportar seus resultados no próximo mês, também enfrentam quedas de lucros em 2025. A Cosco, com sede em Xangai, a maior empresa de navegação do mundo em valor de mercado, mais do que duplicou o lucro líquido no ano passado, conforme relatório preliminar divulgado em janeiro. O consenso de mercado mostra que o lucro deve cair quase 50% este ano.

As transportadoras taiwanesas, mais expostas ao comércio transpacífico de contêineres – que geralmente vê maiores oscilações nas tarifas de frete – não são diferentes. Enquanto o lucro líquido ajustado da Evergreen Marine em 2024 deve aumentar quatro vezes, espera-se que caia mais de 30% em 2025. O lucro líquido da Yang Ming Marine Transport para 2024 pode aumentar mais de 10 vezes, mas deve cair mais de 50% este ano. O lucro líquido da japonesa Nippon Yusen KK para o ano fiscal que termina em março de 2026 deve cair 45%.

Incerteza tarifária

Enquanto o impacto da reabertura do Canal de Suez é bem compreendido pelas empresas de navegação, elas estão mais céticas quanto à ameaça de tarifas, segundo os analistas. A Maersk espera que a demanda do consumidor desafie a intensificação da guerra comercial, prevendo um crescimento de 4% no mercado global de contêineres este ano.

"As empresas de transporte de contêineres percebem que a reabertura do Canal de Suez terá um impacto material nas tarifas à vista, porém, parece que elas não acreditam que as tarifas prejudicarão severamente o mercado", disse Styrman, da Kepler Cheuvreux.

A Hapag-Lloyd também minimizou o potencial impacto das tarifas em sua mais recente teleconferência de resultados. "Na primeira vez que Trump esteve no poder, certamente vimos os efeitos das tarifas que ele impôs para mercadorias vindas da China", disse o CEO Rolf Habben Jansen em janeiro. "Isso não significou necessariamente que o comércio global diminuiu, mas é mais que os fluxos mudaram. E eu não ficaria surpreso se algo semelhante acontecesse desta vez."

Embora os próprios fluxos comerciais possam não ser impactados, as tarifas provavelmente terão um impacto no poder de compra do consumidor e, portanto, na demanda, disse Klaskow, da Bloomberg Intelligence.

A gigante francesa de navegação CMA CGM, propriedade de um bilionário e parceira de longo prazo das empresas de navegação chinesas, está se tornando mais cautelosa.

"Estamos acompanhando isso muito de perto, trabalhando com clientes para preparar soluções, se necessário", disse o diretor financeiro Ramon Fernandez na sexta-feira durante uma apresentação dos resultados do quarto trimestre da empresa. "Os maiores fluxos comerciais são da China para as economias ocidentais, especialmente para os EUA, então qualquer coisa que tenha como alvo a China terá um impacto em todos os players."

As transportadoras asiáticas podem reconhecer os potenciais efeitos das tarifas em seus lucros em suas teleconferências de resultados no próximo mês, embora seja improvável que abordem explicitamente as recentes taxas propostas sobre embarcações comerciais chinesas, disse Loh, da Bloomberg Intelligence. "O consenso de mercado sugere que há uma boa chance de que esta proposta possa ser uma tática de negociação e talvez não seja implementada", ele disse.

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