A companhia reportou receita líquida de R$ 41,8 bilhões no terceiro trimestre de 2025, alta de 9,2% na comparação anual (já somando os resultados das duas empresas), e um Ebitda ajustado de R$ 3,5 bilhões, com margem de 8,4%. O número ficou próximo das projeções de mercado. O lucro líquido foi de em R$ 94 milhões, 62% menor que o de um ano antes, mas 10% acima do segundo trimestre.
No consolidado, os volumes avançaram quase 4% em relação ao 3T24, puxados por BRF e pela operação de bovinos na América do Sul. A geração de caixa operacional somou R$ 3,3 bilhões e a empresa encerrou setembro com alavancagem de 3,09 vezes dívida líquida sobre o Ebitda.
Sinergias da fusão
O CFO José Ignacio Rey faz questão de sublinhar que o trimestre marcou o “início da captura das sinergias da fusão”. A MBRF mapeou R$ 1 bilhão em ganhos e espera entregar cerca de 60% desse total já em 2026, o primeiro ano completo pós-consolidação.
Dentro do trimestre, a companhia pagou R$ 3,8 bilhões em proventos – dividendos e juros sobre capital próprio relacionados à operação de fusão. “A posição de caixa no final do trimestre segue extremamente confortável, encerrando o período com alavancagem de dívida líquida de 3,09 vezes”, afirma o executivo. Segundo ele, se forem excluídos os pagamentos de proventos e recompras de ações, a dívida líquida teria crescido apenas 1,7% em relação ao segundo trimestre.
O trimestre também foi marcado por um movimento considerado estratégico no Oriente Médio: a expansão da joint venture com a HPDC, ligada ao fundo soberano saudita, e a criação da Sadia Halal. “A nova companhia vai incorporar ativos avaliados em 2 bilhões de dólares, um múltiplo implícito de 9 vezes o Ebitda, destravando valor para nossos acionistas”, diz o CFO.
Ciclo do gado nos EUA e no Brasil
Do lado de bovinos, a fotografia é diferente entre Brasil e Estados Unidos – onde a MBRF opera com sua controlada, a gigante National Beef.
O CEO da National Beef, Tim Klein, reforçou que a indústria ainda vive a fase mais apertada do ciclo pecuário, com oferta de gado restrita e preços em patamares elevados. Ainda assim, a MBRF conseguiu manter margens estáveis e crescer receita em dólares graças a preços mais altos da carne bovina.
Não só. “Já começamos a ver sinais de que o rebanho vai começar a se recompor nos próximos 6 a 12 meses.” Segundo ele, a liquidação acelerada de rebanho ficou para trás e já há sinais de retenção de fêmeas e bezerros voltando para os ranchos, um indicativo de reconstrução de oferta à frente.
Sobre a possibilidade de uma nova investigação antitruste nos EUA, anunciada por Donald Trump, Klein tratou o tema mais como ruído de setor do que como um risco imediato para a companhia. Ele lembrou que o Departamento de Justiça já havia conduzido, há cerca de quatro anos, uma apuração semelhante sobre os grandes frigoríficos, encerrada sem encontrar indícios de práticas anticoncorrenciais.
Segundo o executivo, a National Beef ainda não recebeu nenhuma comunicação formal das autoridades, mas está pronta para cooperar com qualquer pedido de informação. “É um assunto de indústria”, resumiu, indicando que não espera grandes desdobramentos mesmo que o tema volte oficialmente ao radar do governo americano.
No Brasil, a leitura é outra. O CEO da MBRF, Miguel Goularte, destaca que a oferta de gado continua abundante. “Nós estamos vendo no Brasil hoje um aumento do abate que anda em torno de 3,5% a 4% em relação ao ano anterior. Então, não se vê ainda uma retração da oferta.” O abate de fêmeas permanece na casa de 44% a 45%, ainda elevado para um ciclo que caminharia para maior restrição.
Os estudos internos e de mercado com os quais a MBRF trabalha apontam para uma queda de oferta em 2026, na casa de 7% a 10%. “Nós nos alinhamos num cenário mais conservador, uma diminuição mais perto de 7%”, afirma Goularte. A diferença, segundo ele, é que a companhia entra nesse cenário com um amortecedor que parte dos concorrentes não tem: o confinamento próprio.
“Esse confinamento próprio no Brasil, tendo em vista o nosso volume de abate previsto para 2026, pode aportar em torno de 25% a 28% da nossa necessidade”, diz. “Isso funciona como um elemento de regulação entre oferta e demanda de abate e pode ser um fator diferencial muito interessante para a companhia em 2026, descomprimindo uma possível diminuição de oferta.”
Frango, China e mercado Halal
Se o boi ainda reflete o fim de um ciclo nos Estados Unidos e um atraso na virada no Brasil, o frango é descrito pela MBRF como um mercado “extremamente equilibrado entre oferta e demanda”.
Na BRF, os volumes totais cresceram 5% na comparação anual, com destaque para os processados no Brasil, que subiram 7% no trimestre e já acumulam alta de 20% em dois anos – algo próximo a 10% ao ano. “Quando falamos de volume histórico de processados, que é um dos destaques do trimestre, estamos entregando exatamente o que está no plano estratégico da companhia: aumentar a exposição do portfólio a esse mercado”, diz Goularte.
Goularte lembrou que, mesmo após o embargo da China às exportações brasileiras de carne de frango em 15 de maio, o setor conseguiu realocar a produção sem derrubar preços. “Mesmo num cenário em que um dos principais players de importação, a China, saiu do mercado, o Brasil encontrou caminhos para a sua produção, de modo não só a colocar essa produção com bons preços e boa margem de rentabilidade, como também não vimos no mercado interno um excesso de oferta que derrubasse preços.”
O executivo atribuiu esse equilíbrio ao trabalho de habilitações feito pela BRF nos últimos anos. “Nós temos quase 200 habilitações nos últimos dois anos. Isso permite fazer escolhas e decidir destino de produtos em mercados que se abriram ao longo desse período”, afirma. A retomada das exportações para a China, anunciada em 7 de novembro, é tratada como um gatilho adicional de lucro para os próximos trimestres.
É nesse contexto que o negócio halal ganha status de vitrine da nova MBRF. A região do MENA (Oriente Médio e Norte da África) já responde por aproximadamente um quarto da receita da antiga BRF, com forte crescimento em produtos de maior valor agregado.
“Desde 2022 até 2025, os processados na região do MENA já cresceram quase 30%, algo perto de 10% ao ano”, afirmou Fábio Mariano, vice-presidente de mercado Halal. Na Turquia, onde a companhia introduziu uma nova linha de processados, o salto foi ainda maior: quase 60% no período. Considerando MENA e Turquia juntos, o crescimento em processados chega a cerca de 40% desde 2022.
“A categoria de alimentos na população muçulmana é uma categoria de mais de trilhão de dólares, e a gente tem uma participação de mercado já relevante, mas quando fala de processados ainda perto de 20%, sendo que no frango inteiro temos uma participação acima de 40%”, diz Mariano.
