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Meta revive temores do metaverso com nova farra de gastos em IA

Investidores temem repetição dos erros de 2022 após Zuckerberg anunciar planos bilionários para o Superintelligence Labs

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Os cheques bilionários que a Meta está assinando para sustentar suas ambições em inteligência artificial estão lembrando alguns investidores dos gastos massivos com o metaverso que derrubaram as ações da empresa há poucos anos.

A controladora do Facebook divulgou resultados na semana passada que superaram as expectativas em indicadores-chave. Mas o foco de Wall Street recaiu sobre os gastos de capital, que devem chegar a até US$ 72 bilhões neste ano e ser “notavelmente maiores” em 2026.

Durante a teleconferência, o CEO Mark Zuckerberg minimizou as preocupações de que a Meta estaria gastando demais em iniciativas como o grupo Superintelligence Labs, dizendo que “a estratégia correta é construir capacidade de forma agressiva e antecipada”.

Agora, as ações da Meta enfrentam sua pior sequência de quatro dias desde novembro de 2022, com queda de quase 17% e perda de US$ 307 bilhões em valor de mercado — coincidência ou não, a mesma situação que deflagrou o colapso de 2022, quando investidores questionaram o apetite por gastos da empresa, o que acabou levando a ação a cair 77% em relação ao pico de 2021.

“Parece um retorno aos velhos tempos da Meta, de gastos excessivos com coisas frívolas ou sem exigência de retorno adequado”, disse Tiffany Wade, gestora sênior da Columbia Threadneedle Investments. “Os investidores estão perdendo a paciência.”

Apesar da queda recente, a ação ainda acumula alta de 7,1% em 2025 — reflexo de que, até pouco tempo atrás, gastar pesado com IA era visto como algo positivo, por demonstrar competitividade tecnológica.

Zuckerberg tem insistido que a IA melhora o direcionamento e o engajamento dos anúncios. Mas, com os gastos subindo sem sinais imediatos de retorno, os investidores começam a ficar nervosos.

Embora a IA seja uma aposta menos incerta do que o metaverso, “é possível traçar paralelos entre os gastos com Superintelligence e com a Reality Labs”, disse Wade. “Ambos são projetos de longo prazo, de retorno incerto e sem perspectiva de monetização imediata.”

Jason Helfstein, analista da Oppenheimer, rebaixou a recomendação da ação logo após o balanço, observando que “o investimento significativo em Superintelligence, apesar da receita incerta, espelha os gastos com o metaverso em 2021 e 2022”.

Gastos com IA

A Meta não é a única enfrentando a impaciência do mercado com os gastos em IA. A Microsoft também caiu após divulgar resultados — embora menos, já que os investidores veem um caminho mais claro de monetização pela Azure, sua divisão de computação em nuvem. Diferentemente da Microsoft, Amazon e Alphabet (Google), a Meta não possui um braço corporativo robusto que se beneficie diretamente da expansão da IA.

“Há uma clara falta de diversificação no modelo de negócios”, afirmou Stefan Slowinski, chefe global de pesquisa de software do BNP Paribas. “A empresa fracassou em se expandir para o mercado corporativo — e ainda carrega o erro estratégico do metaverso.”

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O retorno sobre o capital investido da Meta caiu para 25% no terceiro trimestre, após atingir um recorde de quase 32% no período anterior — mas ainda acima dos níveis de 2023. Segundo Slowinski, “a única forma de monetizar centenas de bilhões em capex é com mais publicidade. Ela deve conseguir, mas vai levar tempo.”

O Bank of America chamou atenção também para o uso de dívidas fora do balanço e grandes baixas contábeis, que ampliaram a distância entre o lucro líquido e o lucro ajustado — um sinal, segundo o banco, de “deterioração da qualidade dos ganhos”.

Por outro lado, as projeções de receita e lucro seguem robustas: crescimento de 21% em 2025 e expectativa de lucros avançando mais de 25% em 2026. E, mesmo com o tombo recente, a Meta ainda é a mais barata entre as “Magníficas Sete”, negociando a 19 vezes o lucro estimado, abaixo da média de 10 anos e do múltiplo de 23 vezes do S&P 500.

“A queda é desconcertante”, disse David Katz, CIO da Matrix Asset Advisors. “O metaverso foi uma aposta que não deu certo. Mas há um caminho muito mais claro para usar a IA em busca de vantagem de mercado e rentabilidade. Fora o fato de ser muito dinheiro sob o controle de Zuckerberg, as semelhanças param por aí.”

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