Depois de um início de ano marcado por margens pressionadas e dúvidas sobre sua capacidade de execução, a RD Saúde, dona das farmácias Raia e Drogasil, virou o jogo no segundo trimestre, com números acima das expectativas.
Em teleconferência, o CEO, Renato Raduan, disse que os resultados representam uma “reversão de tendência e o início de um novo momento da rede”. O mercado gostou – e as ações têm forte avanço de 14% nesta quarta-feira (6), liderando os ganhos do Ibovespa.
O lucro líquido foi de R$ 374 milhões, alta de 14,5% na comparação anual. O Ebitda ajustado, uma medida de desempenho operacional, alcançou R$ 885 milhões, com margem de 7,6%. Foi o primeiro trimestre desde 2020 em que a RD conseguiu entregar uma margem operacional em linha com o consenso de mercado, segundo o Safra. “Devemos monitorar se esse novo patamar é sustentável nos próximos trimestres”, escreveram os analistas do banco, em relatório.
A melhora veio acompanhada de ganhos claros de eficiência. As despesas gerais e administrativas caíram para 2,6% da receita — o menor nível desde o início da transformação digital da companhia. “As despesas de última milha foram reduzidas, e a reorganização interna aumentou a autonomia da liderança e simplificou processos”, destacou o BTG Pactual.
Para o Safra, esse avanço permitiu uma margem Ebitda 0,49 ponto percentual pontos-base acima do esperado. “Não espero ver despesas maiores do que os patamares desse trimestre”, disse Raduan.
O Citi chamou atenção para o impacto direto dessa eficiência nos resultados. O banco destaca que o ganho da participação de mercado deve “apoiar revisões positivas de lucro”, especialmente com a retomada da categoria de higiene e beleza, combinada ao controle firme de despesas. Para os analistas da instituição, o desempenho das vendas maduras e o crescimento da receita digital também chamam a atenção.
De fato, o trimestre marcou uma retomada de produtividade nas lojas. A receita bruta subiu 12% e as vendas em mesmas lojas cresceram 7,3%. A receita média mensal por farmácia chegou a R$ 1,2 milhão, frente a R$ 1,1 milhão no mesmo período de 2024. O canal digital ganhou ainda mais relevância, com avanço de 52% e participação de 24% na receita total — puxado principalmente pela introdução do Mounjaro, da classe dos medicamentos GLP-1.
Esses medicamentos, voltados para obesidade e diabetes, ajudaram a impulsionar as vendas, mas também contribuíram para a compressão da margem bruta, que recuou 0,70 ponto percentual a 0,80 pp na base anual. “A maior penetração de GLP-1 já responde por cerca de 40 pontos-base [0,40 pp] de impacto negativo”, estimou o BTG.
Raduan, no entanto, vê um horizonte positivo: “A queda de patentes dos GLP-1 em 2026 deve contribuir para ganhos na primeira linha do balanço”, afirmou.
Ainda que o tom geral tenha sido de otimismo, Raduan reconhece que há espaço para ajustes. A perfumaria, por exemplo, segue aquém das expectativas. “Ainda não está onde a gente deseja, e estamos trabalhando para avançar”, disse o executivo. A empresa adotou uma política de preços mais refinada no trimestre, que ele chamou de “gestão cirúrgica”, considerando categoria, subcategoria, produto e região.
Para o time do BTG, o resultado reforça a ideia de que a direção mudou. No acumulado de um ano, as ações ainda caem 21%, refletindo a crise de confiança nos primeiros meses de 2025.
Ainda é cedo para declarar vitória, mas a leitura do mercado, agora, passa a ser mais positiva.