No mesmo dia em que Daniel Vorcaro celebrou a venda de 58% das ações do Banco Master para o BRB, em uma operação que está sob escrutínio do Banco Central, o Master atuou sem alarde para mover os ponteiros de outra companhia: o GPA, grupo dono das redes Pão de Açúcar e Extra.
Naquela sexta-feira, 28 de março, um fundo investido pelo Master, o Saint German, encaminhou ao conselho do GPA uma proposta para trocar grande parte do board, cujo mandato iria até meados do ano que vem.
O Saint German é citado nos relatórios gerenciais do Banco Master, sendo o único cotista do veículo, apurou o InvestNews. O fundo detém cerca de 3% das ações da varejista e tem direito a convocar uma assembleia de acionistas para trocar o conselho – decisão que será tomada no fim deste mês.
O pedido do fundo Saint German foi coordenado com três acionistas relevantes do grupo varejista: Nelson Tanure, Ronaldo Iabrudi e o francês Casino. Com o acordo entre os investidores mais engajados – o trio soma cerca de 40% dos papéis – tudo caminhava para uma pacificação na governança do GPA.
Mas o investidor Rafael Ferri, que foi um dos fundadores do TC, promete entrar na disputa por uma das cadeiras do board, frustrando os planos do trio.
Ferri detém cerca de 1,5% das ações do GPA e se articula com outros investidores para juntar pelo menos 8% de participação, o que lhe daria condições de pleitear uma ou duas cadeiras no colegiado – sendo uma ocupada pelo próprio investidor, disse Ferri ao InvestNews.
Os indicados
Rafael Ferri formalizou no início desta semana a sua candidatura ao conselho do GPA. Mas o grupo ainda não comunicou ao mercado.
Hoje, entre os nomes indicados oficialmente, três já fazem parte do atual board: Ronaldo Iabrudi (que seria mantido e passaria a ser o chairman), Christophe José Hidalgo (representante do Casino, como vice-presidente) e Marcelo Pimentel, atual CEO do GPA.
Os outros seis nomes indicados para compor o conselho como membros são:
- Helene Esther Bitton (ligada ao Casino);
- Rodrigo Tostes (ligado a Tanure);
- Pedro de Moraes Borba (ligado a Tanure);
- Líbano Miranda Barroso (ligado a Iabrudi);
- Eliana Ambrósio Chimenti (advogada);
- Sebastián Dario Los (ex-CEO do Cencosud Brasil).
Master, Tanure e GPA
Tanure montou sua posição de quase 10% no GPA por meio de conjunto de fundos geridos pela Reag, enquanto o Saint German tem como gestora a Trustee, casa de Maurício Quadrado, ex-sócio do Master.
Não é novidade no mercado que Vorcaro, Quadrado, Reag e Tanure atuam em conjunto em muitos investimentos. A novidade é o GPA ser mais um dos ativos estressados que compõem a controversa carteira do Master.
Em processo de turnaround, o grupo dono do Pão de Açúcar enfrenta um desafio comum – e difícil – ao de outras empresas do varejo: juros altos e controle da dívida. No ano passado, o GPA registrou prejuízo líquido de R$ 2,41 bilhões, ainda pior que os R$ 2,27 bilhões de prejuízo registrado em 2023. Em 12 meses, os papéis sobem 36,2%; em um intervalo maior, de cinco anos, a queda supera os 90%.
A troca no conselho da varejista chega em um momento estratégico: Tanure vem ampliando sua participação na companhia e articulando apoios para aumentar sua influência no controle do GPA, com planos de eventualmente promover uma fusão com o supermercado Dia, que adquiriu em dezembro.
O empresário estaria em conversas com o Casino, maior acionista do GPA com participação de 22,5%, buscando apoio para sua estratégia no curto prazo, segundo informou a coluna Pipeline. O grupo francês, que passa por reestruturação financeira, já classificou o GPA como “ativo para venda” em seu balanço.
Nesta quarta-feira (9), as ações do GPA subiam 18,89%.
Procurado, o Master não comentou.
(Colaborou Lucinda Pinto)