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O Google está tentando agir normalmente, mas a verdade é que ele está sob risco
Alphabet investe para não ficar para trás na batalha das IAs, mas seu futuro será definido mesmo nos tribunais
Se algum amigo te perguntar “você ficou sabendo do Google?”, ele pode estar querendo falar dos últimos lançamentos da empresa, como o assistente virtual Gemini Live. Mas a referência pode ser também à batalha judicial que vai definir se o Google do futuro será minimamente parecido com a empresa que conhecemos hoje.
São batalhas diferentes e travadas ao mesmo tempo, ambas parte de uma só guerra pela sobrevivência. Na frente comercial, o Google tenta não ficar para trás na corrida da inteligência artificial. O objetivo é aproveitar a gigantesca base de 2,5 bilhões de aparelhos Android e o domínio de 90% no mercado de buscadores para tornar o Gemini o produto de IA mais popular do mundo – e tentar ganhar algum dinheiro com ele, claro.
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Na contenda judicial, porém, essas vantagens competitivas são justamente o calcanhar de Aquiles do Google. Para o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a quase onipresença da empresa é fruto de uma dispendiosa postura anticoncorrencial, cuidadosamente construída ao longo dos anos.
O juiz Amit Mehta – sim, piada pronta – não tem dúvidas: o Google é um monopólio e este domínio precisa ser desfeito pelo governo americano.
Essa ação governamental pode significar que a Alphabet, controladora do Google, terá de pagar uma multa e ainda ser obrigada a se desfazer de algum de seus produtos. Pode ser o navegador Google Chrome, líder de mercado, com uma fatia de 65%. Pode ser a AdWords, ferramenta que monetiza anúncios no Google – o buscador – e representa dois terços das receitas da empresa.
Também se especula que o Departamento de Justiça obrigue o Google a compartilhar com outros buscadores seu banco de dados de buscas, ou ainda que a empresa abra mão dos contratos que fizeram do Google o buscador padrão em praticamente todos os navegadores concorrentes – ao custo médio de US$ 20 bilhões por ano.
A Alphabet tem argumentado que sua ampla liderança é consequência da superioridade dos seus produtos, e não um resultado direto da exclusividade conquistada pelos bilhões de dólares despejados nas contas de empresas como Mozilla e Apple.
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A decisão do juiz Mehta ainda pode levar meses, ou até anos, para ser anunciada, e o Google claramente vai recorrer dela. Mas o fato é que o cerco se fechou contra a big tech, que já acumula outras condenações por agir injustamente para esmagar a concorrência. Se a decisão for confirmada e não houver como evitar um desmembramento, estaremos diante de um fato histórico, que remete às grandes – e raras – medidas antimonopolistas tomadas pelos Estados Unidos, como as feitas contra AT&T (1982) e Microsoft (1999).
Como não se sabe quais remédios serão escolhidos e se de fato eles serão aplicados, é difícil até especular os possíveis impactos para o futuro da empresa, mas eles não seriam nada desprezíveis, dada a interdependência dos seus produtos. A ofensiva da Justiça contra o Google também está sendo acompanhada de perto por outras gigantes da tecnologia. Amazon, Meta e Apple também estão na fila para serem julgadas, todas acusadas de serem monopólios, cada uma à sua forma.
Até que alguma medida seja tomada na prática, no entanto, as big techs devem continuar usando suas dimensões mastodônticas para botar um pezinho – ou as pernas inteiras – em produtos e serviços do futuro; ou seja, tudo o que envolva inteligência artificial.
Nesta quinta-feira (15), o Google começou a liberar no Brasil a AI Overview, resumos feitos por IA com o objetivo de responder a questionamentos mais complexos dos usuários do seu buscador.
O produto teve seus tropeços – alguns bem constrangedores – quando foi lançado nos EUA, mas o Google dobrou a aposta. E o Gemini Live, evolução do Google Assistente, deverá chegar aos assinantes do Gemini Advanced nas próximas semanas – no Brasil, a mensalidade está na faixa dos R$ 100.
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