Site icon InvestNews

OneSkin, startup americana com sotaque mineiro, recebe aporte de US$ 20 milhões

Mulher em robe e toalha na cabeça fazendo skincare

Crédito: Envato

A americana de biotecnologia OneSkin, startup que desenvolve cremes anti-envelhecimento, anunciou em novembro o fechamento de uma rodada de investimento Série A – voltada para investimento em expansão dos negócios. A empresa levantou US$ 20 milhões junto a cinco fundos, em uma operação liderada pela Selva Ventures.

Embora esteja sediada em São Francisco e tenha sua operação concentrada nos Estados Unidos e na Europa, quem está no comando da empresa são quatro mineiras. Carolina Reis de Oliveira, Alessandra Zonari, Juliana Carvalho e Mariana Boroni se conheceram em 2009 durante mestrado e doutorado, enquanto atuavam no laboratório de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais. Elas são autoras de inúmeros estudos científicos e patentes sobre doenças derivadas do processo de envelhecimento. E viram na criação da empresa uma oportunidade de levar esse conhecimento para fora da universidade.

“Nos conectamos a partir do desejo de traduzir a ciência que estávamos desenvolvendo em algo que impactasse a vida das pessoas”, disse Carolina, a CEO da empresa, em entrevista ao InvestNews.

As cientistas mineiras por trás da OneSkin. Foto: Divulgação

A origem

O quarteto se dedicou ao estudo da engenharia de tecidos, medicina regenerativa e bioinformática. E a partir disso desenvolveu cremes faciais e corporais e protetor solar.

A OneSkin figura na lista das empresas mais inovadoras de 2024 pela revista FastCompany. E chegou a ser citada organicamente no podcast LifeSpan de David Sinclair, professor de genética e co-diretor do Centro de Pesquisa em Biologia do Envelhecimento da Harvard Medical School.

Os produtos, que custam entre US$ 49 a US$ 120, são distribuídos hoje para 33 países da América do Norte e Europa. Mas o Brasil está de fora da lista por causa da pesada carga tributária cobrada.

A empresa foi fundada em 2016 nos Estados Unidos, mas o primeiro produto foi lançado em 2021. Além da barreira do idioma, a nova startup teve de lidar com um mercado extremamente competitivo, o que exigiu muito esforço para se destacar junto aos investidores. “Não foi nada trivial nos destacar no Vale do Silício, um dos lugares mais competitivos do mundo”, diz Alessandra.

Tudo começou quando Carolina se mudou para os Estados Unidos para participar do IndieBio, um acelerador de biotecnologia. Alessandra se juntou a ela no ano seguinte, após concluir seu pós-doutorado na Universidade de Coimbra, em Portugal. Juliana e Mariana permaneceram no Brasil: Juliana é professora na Universidade de Brasília e Mariana é pesquisadora no Instituto Nacional de Câncer.

Durante cinco anos, elas formaram uma plataforma projetada para encontrar e validar moléculas com capacidades de reversão do envelhecimento da pele. Antes de criarem seus produtos, as cientistas testaram marcas já disponíveis no mercado e concluíram que nenhuma delas ataca a raiz do envelhecimento. Portanto, não chegam de fato a reverter o processo.

“Identificamos uma lacuna no mercado que nossa tecnologia poderia preencher”, diz Alessandra.

O próximo passo seria buscar uma molécula que cumprisse essa missão.

LEIA MAIS: Mapeamento genético: como Fleury, Delboni e cia faturam com a leitura de DNA

P&D

No laboratório, as cientistas analisaram a morfologia da pele, a expressão gênica e as mudanças epigenéticas. Elas chegaram a reproduzir o envelhecimento da pele e buscaram entender as mudanças usando biomarcadores.

Elas descobriram que o envelhecimento é causado pelas células mortas, também chamadas de células zumbis. Estas células secretam um fator inflamatório que se espalha e destrói as células vizinhas, agindo da mesma forma como uma maçã contaminada afeta as demais ao redor.

A partir desse ponto, as cientistas buscaram um peptídeo (molécula formada por aminoácidos) capaz de conter os danos dessas células. Elas o batizaram de OS-01. Esse peptídeo é a base de todos os produtos da OneSkin, sendo que o creme para os olhos tem a maior concentração deles. Os produtos funcionam penetrando na parte superior da pele, ajudando células saudáveis a se multiplicarem, reativando a produção de colágeno e fortificando a barreira de entrada da pele. 

“Com o envelhecimento, a barreira da pele enfraquece, contribuindo para a inflamação em todo o nosso organismo. Por isso, é extremamente importante manter a pele saudável”, diz Alessandra Zonari. 

LEIA MAIS: Sol de Janeiro, L’Oréal e Unilever: marcas disputam sua skincare – e bilhões

Construindo um negócio

Levar a tecnologia desenvolvida ao mercado na forma de produtos voltados ao setor de beleza foi desafiador. Afinal, nenhuma delas tinha treinamento para marketing, construção de marca, logística ou e-commerce. Foi preciso aprender tudo isso.

“Nos cinco anos iniciais, agimos como uma empresa de biotecnologia dedicada à nossa área de expertise: pesquisa. Hoje, continuamos liderando pesquisas laboratoriais, e também estamos envolvidas em todos os aspectos da construção de um negócio.” 

Alessandra Zonari

Os US$ 20 milhões que cinco fundos decidiram apostar na startup, segundo as cientistas, mostra que a tentativa de “traduzir a ciência” em produtos concretos tem seu valor.

“Apesar do ceticismo que enfrentamos em relação à nossa abordagem científica sobre longevidade na área de skincare, o recente aporte financeiro foi uma demonstração de que especialistas de diversas áreas reconheceram o rigor das nossas pesquisas e estudos clínicos, e acreditam em nosso produto”, conclui Carolina.

Exit mobile version