A família Dubrule, fundadora da Tok&Stok, lançou um contra-ataque para tentar recuperar o controle da varejista de imóveis após sua fusão com a concorrente Mobly. Na sexta-feira (28), Régis, Ghislaine e Paul fizeram uma oferta pública de aquisição (OPA) para comprar até 100% das ações da Mobly, com um alvo mínimo de 69% do capital da empresa. A proposta tornou-se pública na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) noite deste sábado (1).
Em um mercado onde prêmios para aquisição do controle são a norma, a oferta dos Dubrule se destaca pelo substancial desconto. O preço proposto de R$0,68 por ação representa um desconto de 50% em relação ao preço atual de negociação da Mobly de R$1,35. A justificativa é que os dados financeiros da empresa não permitem uma avaliação de mercado (“valuation”) precisa.
Se bem-sucedida, a OPA pode custar cerca de R$ 58 milhões aos fundadores. A oferta está condicionada ainda a um waiver ("perdão") dos credores da Tok&Stok, evitando que o vencimento das dívidas seja antecipado com a mudança de controle.
Os Dubrule justificam a oferta afirmando que a Mobly precisa urgentemente de uma capitalização para continuar operando de forma sustentável. Nos nove primeiros meses de 2024, a companhia registrou um crescimento de 8,5% na receita operacional líquida, alcançando R$ 433 milhões, mas teve um prejuízo de R$ 58,7 milhões e um prejuízo operacional (Ebitda) de R$ 6,4 milhões.
O movimento da família fundadora da Tok&Stok ocorreu apenas seis meses após a gestora SPX, que era controladora e sócia dos Dubrule na varejista, ter encaminhado a fusão da empresa com a concorrente Mobly contra a vontade dos fundadores.
O controle da Tok&Stok foi vendido pelos Dubrule em 2012, quando a gestora americana Carlyle investiu R$ 700 milhões na varejista. Com a saída da gestora do país, em 2021, a gestão do ativo ficou com a SPX, de Rogério Xavier.
As relações começaram a se deteriorar em 2015-2016, durante a crise do varejo brasileiro, levando a uma série de cinco CEOs em menos de seis anos. Em abril de 2023, quando a Tok&Stok, já enfrentando sérias dificuldades financeiras com dívidas estimadas em R$ 600 milhões, anunciou uma reformulação em sua administração que marcou o retorno de Ghislaine Dubrule à direção executiva, após um período de tentativas frustradas de recuperação sob outros gestores.
Em julho de 2024, após Ghislaine mostrar sinais de recuperação para a empresa, a SPX destituiu-a do cargo de CEO, reinstalando o conflito entre os acionistas. Esse movimento foi descrito por Régis Dubrule como o estopim para a proposta de aumento de capital que a família tentou implementar — e que teria sido ignorada pela SPX, que optou por seguir com a fusão com a Mobly.