A vitória de Donald Trump na eleição presidencial americana pode intensificar a “invasão” do aço chinês no Brasil, fenômeno que tem castigado a vida das siderúrgicas nos últimos anos. Para o presidente global da Gerdau, Gustavo Werneck, se os Estados Unidos subirem as tarifas de importação – como prometeu o republicano durante a campanha –, o excedente de aço chinês vai buscar outros endereços. E o Brasil será, com certeza, um deles.
O executivo é, há tempos, bastante vocal em relação aos efeitos da concorrência com o aço chinês – que ele classifica como “desleal”. Agora, ele reforça a crítica. “É urgente que o sistema de cota tarifa seja aprimorado”, afirma.
Ele se refere à política adotada este ano pelo governo, de taxar o volume que exceder um determinado volume importado em 25%. A regra vale apenas para 15 tipos de aço. Para o restante, a alíquota varia entre 10,8% e 12%.
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Segundo dados levantados pelo Instituto do Aço, o Brasil importou um volume de 451,1 mil toneladas durante todo o ano de 2023. Em apenas nove meses neste ano, o volume já está em 450,7 mil – mesmo com a taxação. A tarifa, na visão de Werneck, deveria ser de 35%, e atingir todos os produtos da indústria siderúrgica.
“À medida que outros países coloquem mais proteção, o aço da China vai buscar os países que estiverem sem proteção”, disse Werneck, durante entrevista para comentar o resultado da companhia no terceiro trimestre. “É uma escolha sobre onde vai estar o emprego: no Brasil ou na China.”
A Gerdau, globalmente, pode até se beneficiar desse cenário Trump. A companhia tem operações nos Estados Unidos e o México. E as políticas a serem adotadas pelo republicano devem estimular o investimento em produção na América do Norte – algo que já se viu no primeiro governo de Trump, entre 2017 e 2021. “A política de Trump deve puxar a demanda por aço, e isso pode beneficiar nossas operações”, diz.
Entretanto, o executivo vê riscos para a dinâmica do mercado brasileiro. Werneck diz que, dada a relevância da China no mercado de aço, a Gerdau faz um acompanhamento minucioso da economia e das medidas adotadas pelo país. E a leitura é que as medidas de estímulo econômico adotadas pela China este ano não serão capazes de reverter o excesso de produção de aço. E isso significa que o produto deve continuar sendo vendida para outros mercados – a preços muito baixos.
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Essa afirmação se baseia em números: o Brasil consome 4 milhões de toneladas de vergalhão por ano, enquanto a China consumia 400 milhões de toneladas nos anos em que teve seu crescimento sustentado por investimentos em infraestrutura e construção civil. Só que a dinâmica econômica do país mudou. Os projetos foram concluídos, o que significa que esse aço todo está “sobrando”. “Esse excedente está indo mundo afora com preços muito baixos, muitas vezes abaixo até do que é o preço da matéria-prima, que é o minério de ferro”, explica Werneck.
A gente tem muita segurança de que o aço chinês vai continuar transitando no mundo, não só no curto prazo, mas nos próximos anos.
Gustavo Werneck
Outro problema enfrentado pelo setor, segundo Werneck, é o aumento da importação de aço vindo de Manaus – que não paga a cota tarifa. “Não temos as informações para avaliar o que está acontecendo, mas é necessário que o governo investigue por que cresceu tanto”, defende Werneck.
Câmbio
A vitória de Trump deve provocar outro efeito colateral: a alta do dólar. E isso, segundo o CFO da Gerdau, Rafael Japur, pode beneficiar a companhia, que, por causa das operações fora do país, tem também receita em dólares. Além disso, o câmbio desvalorizado pode viabilizar mais exportações a partir do Brasil.
O planejamento da Gerdau para o ano, em geral, prevê uma cotação do dólar próxima da estimativa trazida pela pesquisa Focus, do Banco Central. Atualmente, essa projeção está em 5,50%. Mas Japur acredita que a eleição de Trump, que deve justificar uma elevação dessa projeção.
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Resultados
A Gerdau registrou no terceiro trimestre lucro líquido de R$ 1,432 bilhão, 10% abaixo do registrado em igual período de 2023. O lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado totalizou R$ 3,016 bilhões, também uma queda de 10% na comparação com o terceiro trimestre do ano passado.
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