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Petrobras não quer manter retorno parado no caixa, diz diretor sobre dividendos

Em entrevista exclusiva ao InvestNews, diretores da empresa falaram sobre a política de dividendos.

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A Petrobras (PETR3 e PETR4) “não tem nenhum interesse em manter parado no caixa o que ela gera de retorno”, diz Rodrigo Araujo Alves, diretor executivo financeiro e de relacionamento com investidores da empresa. A declaração foi feita em resposta a uma das críticas à mudança na política de dividendos da Petrobras

A Petrobras anunciou em novembro que a nova política prevê pagar dividendos trimestrais aos acionistas, com eventuais pagamentos extraordinários. O dividend yield (retorno com dividendos) pode chegar a 20% nos próximos cinco anos, segundo cálculo do Credit Suisse. 

Entre os críticos da mudança, um dos apontamentos é que a empresa estaria com “excesso de caixa” e, em vez de investir esse volume, direciona aos acionistas na forma de dividendos. 

Em entrevista exclusiva ao InvestNews, Alves afirmou que “o dividendo é um retorno fundamental daquilo que a companhia gera”. “Tudo que a gente gera de valor, a gente tem um compromisso cada vez mais forte de retornar esse resultado”. 

Sobre os investimentos, o diretor reforça que todos os recursos previstos estão sendo direcionados conforme o planejado. Segundo o mais recente plano de negócios, a Petrobras pretende investir US$ 68 bilhões de 2022 a 2026. 

Cenários adversos

Alves explica que a Petrobras tem diversos critérios para definir os investimentos a serem feitos pela empresa, mas o principal deles é aumentar a resiliência da companhia para que ela seja capaz de sobreviver em cenários adversos.

Um dos pontos de atenção são as mudanças que a transição energética deve trazer para a demanda por petróleo no mundo todo. Por esse motivo, o foco da Petrobras segue sendo o desenvolvimento do pré-sal, segundo Alves. 

“Quando a gente olha para o panorama mundial, a gente acredita que, mesmo nos cenários mais desafiadores da transição energética, em que a demanda pode chegar a quase metade do que é hoje, são ativos que são competitivos e conseguem sobreviver mesmo num cenário tão desafiador”, explica o diretor.

Também no radar da empresa está a possibilidade de o preço do barril de petróleo cair dos atuais US$ 70 para US$ 35 no longo prazo.

“A gente olha no passado, o petróleo, na média, a um preço de US$ 42 o barril. Este ano, mais próximo de US$ 70. A indústria é cíclica. Os nossos investimentos precisam sobreviver a esse tipo de cenário. Às vezes a gente esquece que o petróleo vem a US$ 30 na mesma velocidade que ele vai a US$ 70, US$ 80. E isso aconteceu várias vezes ao longo do tempo”, diz Alves.

O diretor também comenta “o quão desafiador é o cenário da indústria de óleo e gás”. “É uma indústria que você fura um poço de petróleo e gasta US$ 100 milhões e pode eventualmente não encontrar nada, não ter nenhum retorno de um investimento desse. Então, a gente precisa ser muito cauteloso na tomada de decisão.”

Desabastecimento

Também participou da entrevista o diretor diretor de comercialização e logística da Petrobras, Claudio Mastella, que comentou os rumores sobre desabastecimento de combustíveis no Brasil após a Petrobras recusar parte dos pedidos feitos para novembro. Na ocasião, a associação que representa as distribuidoras chegou a afirmar que o mercado brasileiro corria o risco de não ter a demanda totalmente atendida naquele mês.

“O que a Petrobras fez foi aceitar os pedidos no mesmo nível que vinha aceitando nos últimos anos”, diz Mastella sobre o ocorrido no último mês. “O que aconteceu foi que diversos atores resolveram comprar da Petrobras em vez de comprar de importadores naquele momento específico. E a Petrobras, basicamente, ofertou ao mercado o produto que ela tinha condições de ofertar em condições seguras.”

Perguntado se existe a possibilidade de o mercado brasileiro ficar desabastecido em algum momento, Mastella disse que não, desde que os preços se mantenham competitivos em relação às cotações de fora. “Com relação a risco desabastecimento, não vejo essa possibilidade, desde que a gente continue com o mercado brasileiro praticando preços em equilíbrio com o mercado internacional. Isso é a garantia básica que não falta produto, sempre vai ter atores interessados em atender aos clientes.”

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