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Plano contra crise dos Correios prevê venda de imóveis, PDV e fechamento de mil agências

Estatal busca estancar a crise de caixa e retomar o lucro a partir de 2027 com corte de custos, venda de ativos e reorganização da rede

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Os Correios detalharam nesta segunda-feira (29) um amplo plano de reestruturação para tentar reverter 12 trimestres consecutivos de prejuízos, que combina captação de crédito, corte de gastos com pessoal, venda de ativos e redução da rede de atendimento. A principal âncora do plano é a tomada de um empréstimo de R$ 12 bilhões, considerada essencial para aliviar a crise de caixa e viabilizar a reorganização da estatal.

O anúncio foi feito pelo presidente da empresa, Emmanoel Rondon, durante entrevista coletiva. Segundo ele, o modelo econômico-financeiro dos Correios “deixou de ser viável” e exige ajustes imediatos para evitar um cenário ainda mais adverso nos próximos anos.

O contrato de financiamento foi publicado no Diário Oficial da União no último sábado (27) e envolve um consórcio formado por Banco do Brasil, Caixa e Bradesco, com aportes de R$ 3 bilhões cada, além de Itaú e Santander, que vão emprestar R$ 1,5 bilhão cada.

Do total contratado, R$ 10 bilhões entram no caixa da empresa até quarta-feira (31), enquanto o restante deve ser liberado em janeiro de 2026. O acordo tem validade até 2040, conta com garantia da União, prazo de carência de três anos e prevê pagamentos mensais a partir de dezembro de 2029.

O empréstimo foi autorizado pelo Tesouro Nacional e reduz o risco para os bancos, já que o governo federal se compromete a honrar as parcelas caso a estatal se torne inadimplente.

Durante a coletiva de imprensa, Rondon não descartou a possibilidade de novas captações, afirmando que o plano original previa até R$ 20 bilhões em crédito, mas que parte da operação foi barrada pelo Tesouro devido às taxas de juros consideradas elevadas.

Corte de pessoal e fechamento de agências

No eixo de redução de despesas, os Correios planejam cortar R$ 2,1 bilhões por ano em gastos com pessoal, por meio da implementação de um Programa de Demissão Voluntária (PDV). A expectativa é reduzir em até 15 mil o número de funcionários em dois anos, o equivalente a 18% da folha de pagamentos.

Além disso, o plano prevê o fechamento de cerca de mil agências deficitárias, dentro de uma rede que hoje soma aproximadamente 5 mil unidades em todo o país.

A estatal também pretende levantar R$ 1,5 bilhão com a venda de imóveis não operacionais, após revisão completa de sua carteira imobiliária, como forma de gerar caixa extraordinário e reduzir custos de manutenção.

Outro ponto sensível é a reformulação do plano de saúde dos funcionários, o Postal Saúde, que, segundo Rondon, precisa ser revisto devido ao alto custo. A expectativa é reduzir as despesas em cerca de R$ 500 milhões por ano.

A Postal Saúde enfrenta dificuldades financeiras e apontou, em suas demonstrações de 2024, risco à continuidade operacional. A operadora depende diretamente dos repasses dos Correios e foi afetada por uma perda de liquidez após a devolução de R$ 221 milhões à estatal, decorrente de uma transação frustrada.

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Queda de receitas e impacto do Remessa Conforme

No lado das receitas, os Correios vêm sofrendo com um ambiente mais competitivo e com mudanças regulatórias. Até setembro de 2025, a empresa registrou uma queda de quase R$ 2 bilhões na receita, na comparação com o mesmo período de 2024.

Um dos principais fatores foi a implementação do programa Remessa Conforme, que instituiu imposto de importação de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50 — medida que ficou conhecida como “taxa das blusinhas”. Com a nova regra, empresas privadas passaram a poder distribuir encomendas internacionais no Brasil, reduzindo a exclusividade operacional dos Correios.

A estatal fechou 2024 com receita de R$ 18,9 bilhões, abaixo dos R$ 19,2 bilhões em 2023 e dos R$ 19,8 bilhões em 2022. Para 2027, o plano projeta uma recuperação para R$ 21 bilhões, sustentada por novas estratégias comerciais e operacionais.

Apesar do foco imediato em ajuste fiscal e estabilização, os Correios planejam investir R$ 4,4 bilhões entre 2027 e 2030, com recursos do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB/Brics). Os investimentos serão direcionados à automação de centros de tratamento, renovação e descarbonização da frota, modernização da infraestrutura de TI e redesenho da malha logística.

Segundo a empresa, o objetivo é recuperar a saúde financeira em 2026 e voltar a registrar lucro de forma sustentável a partir de 2027.

“Se a rota não for ajustada rapidamente, o prejuízo pode chegar a R$ 23 bilhões em 2026”, disse Rondon. “Não haverá mudança substancial em 2025, e ainda esperamos uma leve piora em 2026. A virada vem depois.”

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