‘Queridinha’ dos Ermírio de Moraes, CBA reorganiza balanço em meio à boa fase da Votorantim

Redução de capital marca tentativa da CBA de virar a página após dois anos de resultados negativos

Enquanto a Votorantim colhe os frutos de uma estratégia bem-sucedida de diversificação com o caixa cheio, uma de suas empresas mais tradicionais atravessa vive um momento complicado — e é justamente uma das queridinhas da família Ermírio de Moraes. A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), considerada a “filha predileta” de Antônio Ermírio de Moraes, ainda sente os efeitos de dois anos seguidos de prejuízo e tenta reorganizar seu balanço para iniciar um novo ciclo.

A CBA aprovou no fim de abril uma redução de capital de R$ 401 milhões. A operação serve para “limpar” o balanço, eliminando os prejuízos acumulados dos últimos anos sem afetar o número de ações ou distribuir recursos aos acionistas. Com a mudança, o capital da CBA passará a ser de R$ 4,55 bilhões.

A operação tem como pano de fundo o desempenho ruim que a CBA registrou nos últimos anos – em 2023, a empresa entregou o pior resultado de sua história recente. Naquele ano, a companhia teve prejuízo líquido de R$ 810 milhões, fruto da combinação de piora operacional com recuo nas margens. Já no ano passado, o desempenho melhorou, mas ainda com a última linha do balanço negativa em R$ 73 milhões.

Para João Schmidt, CEO da Votorantim, esse tipo de oscilação faz parte da “natureza do negócio cíclico”, especialmente no setor de commodities. “Por isso que é importante ter governança, processo decisório e um balanço forte, pra você aguentar os anos de baixa”, afirmou em entrevista recente ao InvestNews.

Apesar das dificuldades, o executivo da Votorantim demonstra otimismo com o futuro da CBA. “O alumínio tem um papel de protagonista na transição energética. A companhia tem atributos únicos pela sua integração produtiva e energética. A gente acha que ela está super bem posicionada”, acrescentou.

Projeções de mercado indicam que o setor deve crescer de US$ 199 bilhões em 2024 para US$ 209 bilhões em 2025, com picos potenciais de preço na segunda metade da década, na esteira da chamada “corrida verde”.

João Schmidt, atual comandante da Votorantim, retomou a memória do “doutor Antônio” ao comentar a atual fase da companhia. Para ele, a CBA continua sendo um ativo simbólico para o grupo — carregando peso histórico e potencial industrial dentro do portfólio da Votorantim.

A favorita

Criada em 1955, a CBA foi a quinta empresa do grupo Votorantim e nasceu como parte de um movimento estratégico para verticalizar a cadeia do alumínio no Brasil. A companhia era tocada pessoalmente pelo empresário Antônio Ermírio de Moraes, falecido em 2014, que foi uma figura histórica e um dos alicerces do conglomerado.

Antônio Ermírio – ou “doutor Antônio” para os funcionários – ganhou a missão de cuidar da CBA de seu pai, José, perto de seus 30 anos idade. Ele dizia que a empresa o ajudou a ter um rumo na vida. Por essa ligação histórica, Antônio Ermírio dizia que a CBA era sua “filha predileta”. “Fizemos da companhia de alumínio uma empresa que merece respeito no mundo inteiro”, disse em uma entrevista nos anos 2000.

A planta da empresa, localizada na cidade de Alumínio (SP), também é o motor econômico da região. Para os mais jovens, a companhia é sinônimo de boas oportunidades profissionais, com possibilidade de crescimento, bons salários e uma forte cultura de segurança — algo que se tornou parte da rotina da fábrica e da identidade corporativa.

A despeito de seus 70 anos de história, a abertura de capital da CBA ocorreu somente em 2021 e foi vista como a tentativa de reacender o protagonismo da empresa, que por décadas ocupou um lugar estratégico dentro da Votorantim.

Desde o IPO, a empresa alternou altos e baixos. Chegou a registrar lucros robustos em 2021 e 2022, impulsionada pelos altos preços do alumínio no pós-pandemia e pelo apetite dos investidores por empresas que podem surfar a transição energética. Mas a virada chegou rapidamente: em 2023, o prejuízo veio e o endividamento cresceu.

O atual CEO da CBA, Luciano Francisco Alves, um funcionário que fez sua carreira dentro da Votorantim, é hoje o responsável por cuidar do turnaround. Alves substituiu Ricardo Carvalho, executivo que levou a empresa para bolsa e hoje integra o conselho de administração. Carvalho, profissional formado na Vale, é uma figura carismática entre os funcionários e comandou a CBA de 2016 a 2023.

Neste novo momento e em linha com a estratégia de focar no core business, a CBA vendeu, no fim de 2024, sua participação de 3,03% na refinaria de alumina Alunorte para a suíça Glencore por R$ 236,8 milhões. A companhia justificou a operação destacando sua autossuficiência em alumina (matéria-prima do alumínio) e a busca por simplificação e foco na cadeia integrada de produção — um dos seus principais diferenciais competitivos.

Redução de capital

Tecnicamente, a redução de capital se trata de uma operação contábil comum em empresas que buscam reorganizar sua estrutura patrimonial antes de iniciar um novo ciclo de geração de lucros.

Embora não tenha efeito financeiro imediato, a medida aprovada pela CBA exigirá o aval de credores e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) por poder interferir em cláusulas contratuais de financiamento, os chamados covenants, e também nos contratos de fornecimento de energia — insumo vital e um dos maiores custos da produção de alumínio.

Do ponto de vista tributário, a medida não gera benefício fiscal direto. A legislação permite que empresas compensem prejuízos fiscais com lucros futuros, mas apenas até o limite de 30% do lucro apurado em cada exercício. Por isso, manter prejuízos acumulados elevados no balanço acaba limitando a eficiência tributária nos anos seguintes.

(Colaborou Anne Dias)

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