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Exclusivo: Reag compra imóvel de R$ 180 milhões da ArcelorMittal e reforça ‘onipresença’
Gestora com R$ 206 bi em ativos monta FII para adquirir planta da siderúrgica e alugar de volta para a própria siderúrgica
Você pode ainda não conhecer a Reag, mas deveria. Em algum momento, vai se deparar com ela. Caso esteja na cidade de São Paulo, talvez ali na Rua da Consolação: o icônico Cine Belas Artes agora se chama Reag Belas Artes, com a venda dos naming rights para essa gestora de investimentos. E se você contratar um serviço na GetNinjas vai colaborar com o caixa da Reag. Ela se tornou a acionista controladora da plataforma em janeiro.
Criada pelo economista João Carlos Mansur como “Real Estate Administração e Gestão”, a sigla ficou pequena para o que a gestora nascida há 12 anos anda fazendo nos últimos quatro: além da parte imobiliária, que deu origem ao nome, há também os investimentos em empresas, a gestão de fortunas (wealth management) e a oferta de seguros, por exemplo. Uma postura que o mercado costuma chamar de “agnóstica” – sem apego por este ou aquele setor.
A grande característica ali é não deixar oportunidades para trás. Isso ajuda a explicar seu M&A mais recente: uma operação de sale and leaseback de R$ 180 milhões com a ArcelorMittal.
Ou seja, vão comprar uma planta industrial da siderúrgica e alugar de volta para a própria siderúrgica. Trata-se de uma jogada comum no mercado, já que tende a ser boa para ambas as partes: quem vende obtém liquidez, dinheiro vivo, e quem compra leva um imóvel já ocupado por um inquilino respeitável.
A Reag criou um fundo imobiliário, o Francorchamps, para adquirir a estrutura, que fica na cidade de Rio das Pedras (SP). Com 181 mil metros quadrados, ela possui galpões, equipamentos para corte e dobra de vergalhões de aço e máquinas de trefilaria (fabricação de fios de aço).
O contrato de locação da siderúrgica sediada em Luxemburgo é de 10 anos e em “formato atípico” – em caso de rescisão, a Reag recebe 100% do valor do contrato.
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“[Esse tipo de transação] é natural. Fica mais vantajoso ter o dinheiro empregado no seu negócio principal em vez de ele ficar imobilizado”, explica Telêmaco Genovesi Jr, um dos sócios das Reag.
A disposição em fechar o negócio surpreendeu positivamente os luxemburgueses, relata o executivo. Agora, com o ativo dentro de casa e com o formato de remuneração claro, a gestora tem tempo para definir o que será feito. “Podemos financiar a compra com uma emissão no mercado, ou mesmo incorporar no RMAI11, que é nosso fundo listado na bolsa.”
E o setor de siderurgia e mineração segue no radar da Reag, com negociações com outras gigantes do setor, conforme apurou o InvestNews.
611 fundos, R$ 206 bilhões sob gestão
A Reag é a maior gestora independente – sem uma instituição financeira como sócia – do país. Musculatura e apetite para fechar negócio, o histórico recente tem mostrado que não faltam.
Foi esse conjunto de forças que atraiu Telêmaco Genovesi Jr, também chamado de Tel pelos colegas. Ele já teve sua própria gestora, a GGR Investimentos, focada no setor imobiliário e que foi vendida em 2017 para a Zagros Capital. De lá para cá, mudou-se para os Estados Unidos, com passagens por bancos de investimento e até se aventurou nos e-Sports (é um dos sócios do time Furia, um dos mais renomados do mundo).
Desde meados do ano passado, sua responsabilidade é estruturar a Reag nos Estados Unidos, com foco no segmento de alta renda. “Como a Reag fez muitas aquisições em wealth, sempre tem algum veículo que já opera aqui e precisamos incorporar”, explica. Desde 2022 foram quase 10 aquisições de gestoras de fortunas, sendo a compra da Empírica, neste mês, a mais recente.
Também mostrou bolso no caso GetNinjas, o primeiro deal em que a Reag ganhou a grande mídia.
Ao anunciar que devolveria parte do caixa da empresa aos acionistas, o fundador da GetNinjas, Eduardo L’Hotellier, se indispôs com a gestora, que detinha 32% da plataforma de serviços. Resultado: a Reag tomou o controle da GetNinjas via compra de ações, com direito a uma oferta pública de aquisição (OPA), e hoje possui 69,6% dos papéis – L’Hotellier saiu do negócio.
Na frente institucional, a tacada foi adquirir os naming rights do Cine Belas Artes, em janeiro, dando sobrevida a um patrimônio histórico de São Paulo – o cinema existe desde 1943, algo nada trivial na cidade.
Mas difícil mesmo, diante do apetite variado da Reag, é imaginar qual será o próximo negócio a entrar em cartaz na gestora.
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