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Conheça o room-office, a saída para o setor hoteleiro na pandemia

De hospedagem a escritório privado, conheça o mais novo concorrente dos coworkings.

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Existe a máxima de que diversificar é bom para os investimentos, mas a regra também serve para os negócios, especialmente em tempos de crise. Pelos menos, é o que está fazendo a rede hoteleira Accor, presente em 110 países, que acabou de lançar um novo formato de hospedagem, aproveitando a vacância dos hotéis: o room-office.

A iniciativa é pioneira no Brasil e procura usufruir dos quartos que ficaram livres nos hotéis, durante a pandemia, transformando estes no espaço ideal para o home-office. “A ideia surgiu porque em tempos de Covid-19 tem muitas pessoas trabalhando em casa, mas todos sabemos que isso não é fácil. Com os escritórios e os coworking fechados, acreditamos que os hotéis, com pouca ocupação, podem ser uma solução” explica ao InvestNews Olivier Hick, COO das marcas midscale e econômicas da Accor no Brasil, em entrevista ao InvestNews.

A partir desta sexta-feira (15), é possível alugar uma sala de home-office em qualquer dos 23 hotéis abertos das marcas econômicas, midscale e premium na cidade de São Paulo. O novo modelo de negócios da Accor vai transformar os quartos dos hotéis Ibis, Adagio Aparthotel, Mercure, Pullman e The Capital São Paulo Itaim em escritórios privados para 1 ou 2 pessoas. “Acreditamos que a retomada do setor vai ser lenta, e que há uma demanda de profissionais procurando por espaços tranquilos e seguros para trabalhar na pandemia. Por este motivo disponibilizamos um espaço de trabalho silencioso, com boa internet e preços atrativos”, acrescenta Hick.

A iniciativa, que vai até julho, pode trazer um pouco de calma para o setor, que desde o começo da pandemia foi um dos mais impactados. No Brasil, a rede Accor lidera o setor hoteleiro, hoje com 320 hotéis, 20 no nicho de luxo. Quando a quarentena começou, teve que fechar 200 hotéis e hoje opera apenas com 86 no Brasil, 23 deles em São Paulo. Com o room-office, a expectativa do grupo é retomar as operações em pelo menos 100 hotéis brasileiros do grupo.

Room-Office no hotel Ibis Osasco Foto: Divulgação

Room x Home

Esqueça o que você conhece como quarto de hotel. Agora imagine o mesmo quarto sem cama e no lugar desta, mesas, cadeiras, sofá e internet de alta velocidade. Estes são apenas alguns dos móveis que o cliente vai encontrar no room-office.  Além disso, os quartos vão oferecer frigobar, água, chá, café. Em alguns hotéis, também será possível alugar equipamentos para reuniões online, como monitores ou itens de audiovisual, e para os que não abrem mão do esporte, também há chances de alugar alguns equipamentos da academia para malhar dentro do quarto.

Os room-office estarão disponíveis para locação diária, semanal ou mensal no período das 8h às 20h. O valor de locação será dividido em três categorias: na econômica por exemplo, que inclui os hotéis Ibis, Ibis Styles e Ibis Budget, o valor de uma diária sai a partir de R$ 99, mas também é possível optar por um pacote semanal a R$ 624 ou mensal de R$ 2.228. Os preços vão aumentando com a categoria, no midscale por exemplo os room-office disponíveis são dos hotéis Adagio Aparthotel e Mercure. Já na categoria premium, que inclui os hotéis Pullman e The Capital São Paulo Itaim, a diária sai a partir de R$ 220 ou o pacote mensal a R$ 4.950.

Os hotéis também vão oferecer café da manhã, almoço e jantar via serviço de quarto, para evitar a aglomeração de pessoas.

Room-Office no hotel Adagio Barra Funda Foto: Divulgação

Líder da iniciativa para as categorias econômica e midscale, Olivier Hick explica que o público alvo do room-office é na sua maioria um público corporativo, o que justificaria valores a partir de R$ 99. “Fizemos um preço-médio semelhante ao aluguel de um espaço no coworking WeWork. Para muitas empresas, no futuro, pode ser mais conveniente pagar R$ 2000 por mês do que alugar um escritório”, explica. No entanto, esclarece que este valor deve ser utilizado durante os próximos três meses, e pode mudar de acordo com a demanda do público.

Negócio na crise

Hick está ciente de que a iniciativa da Accor será pioneira no mercado brasileiro e é provavelmente uma saída para o setor hoteleiro, que apanhou muito com a pandemia. Ele revelou que até o dia 15 de março, o lucro da empresa estava em alta, mas com a quarentena, a ocupação caiu 80%, impactando drasticamente na receita. Segundo estimativas da companhia, o balanço da receita da Accor no Brasil, até o final de 2020, deve sofrer uma queda de 50% em comparação a 2019.

Com 200 hotéis fechados atualmente, os funcionários também sentiram os impactos. De um total de 15 mil funcionários em todo o Brasil, 60% tiveram seus contratos suspensos e apenas 10% se encontram trabalhando com jornada reduzida. Em um hotel Ibis, por exemplo, onde a média normal de funcionários é 30, durante a pandemia tem apenas 9 trabalhando.

Hick não espera por milagres e por isso garante que a Accor embarcou em cheio em um novo modelo de negócios. Ele afirma que o setor pode levar meses ou até um ano para retomar seu ritmo normal. No entanto, desta vez a Accor prefere ir com calma. “Não vamos reabrir os hotéis 100%, começaremos utilizando 50% dos quartos para room-office até o mês de julho”, explica o executivo. Caso der certo e a pandemia continuar, o modelo de room-office deve se estender de 6 a 12 meses, até se estabelecer definitivamente no mercado.

Caso o teste em São Paulo dê certo, a cidade de Curitiba seria a segunda no Brasil a adotar o sistema room-office. Mas Hick afirma que o novo modelo de negócios foi pensado para longa data, mesmo com o fim da pandemia. “Podemos bloquear alguns andares nos hotéis e deixar apenas no sistema de room-office. A pandemia está nos tornando criativos e abertos a novos nichos de mercado”, comenta. A expectativa até julho é utilizar 100 hotéis neste formato. “Ninguém sabe o que vai ocorrer após estes 3 meses, mas já estamos estudando ter hotéis com andares apenas de room-office e aluguéis de longa estadia ao estilo flat”, acrescenta. Com muitas empresas ainda em home-office, Hick enxerga o formato como um prato cheio.

Novo nicho a explorar

Para Arthur Igreja, especialista em inovação e negócios, a ideia da Accor é inédita e super vantajosa para o setor hoteleiro permitindo que os espaços físicos que estavam vazios sejam utilizados para gerar algum tipo de receita. “Nem todo mundo consegue ter um home-office adequado, até por questões visuais, e o consumidor realmente gosta de ter uma separação de trabalho e rotina, a iniciativa faz muito sentido”, avalia e cita que alguns desafios em tempos de corte de gastos por parte do consumidor devem ser os valores. “Imagino que eles devem oferecer outros serviços como alimentação no local, o que torna a ideia muito forte para o setor”, afirma.

Segundo Igreja, é nítido que a Accor estaria apostando em um novo nicho de mercado, que é o dos escritórios compartilhados. No entanto, Hick ainda defende que os hotéis da empresa não vão ficar parecendo espaços de coworking. “Acho que os coworkings vão morrer na pandemia, e aproveitando isso vamos oferecer escritórios para no máximo 2 pessoas. Um novo nicho”, defende.

Desafios

Como toda novidade tem seus desafios, o room-office terá que enfrentar a primeira barreira que é ganhar a confiança do consumidor em tempos de Covid-19. Para isso, deve trazer uma proposta forte de higienização e cuidados sanitários. A rede estabeleceu algumas regras para evitar a contaminação na pandemia:

  • Diárias serão pagas apenas por depósito, débito automático ou transferência para evitar manuseio de dinheiro ou contato com funcionários na recepção. Durante o check-out não serão realizados pagamentos.
  • Todas as dúvidas e solicitações durante a hospedagem serão enviadas por Whatsapp para evitar que a pessoa use o telefone do quarto ou vá até a recepção.
  • As refeições serão servidas apenas no quarto, e a bandeja será deixada na entrada, para evitar contato do funcionário com o cliente. O serviço também incluirá uma sacola de descarte para o hóspede jogar o lixo e deixar na porta.
  • Todos os funcionários vão receber equipamentos de proteção individual (EPI), adaptados para cada função.

Outro desafio para esta nova iniciativa será atrair receita para resolver os problemas financeiros com a vacância dos quartos e a retomada de trabalho dos funcionários paralisados. Até julho, o trabalho deve permanecer com 30% dos funcionários em cada hotel. “Sabemos que seremos pioneiros no setor e muitos vão copiar a iniciativa, mas estamos tranquilos porque em inovação estamos na frente”, conclui Olivier Hick.

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