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Acordo entre Shein e Coteminas alivia crise da indústria têxtil no Brasil?
Especialistas veem plano com bons olhos, mas questionam capacidade da varejista chinesa de se manter competitiva.
O grupo mineiro Coteminas (CTMN4) – um dos poucos players ainda ativos na indústria têxtil do país – viu suas ações dispararem 260% em três pregões, após a varejista chinesa Shein anunciar, no dia 21 de abril, um acordo com a companhia para ampliar sua produção no Brasil. As subsidiárias do grupo listadas na B3 também saltaram: Springs Global e Santanense, subiram 87% e 395%, respectivamente.
A parceria com a plataforma asiática foi vista como uma possível “tábua de salvação” para reanimar o setor – que vem enfrentando custos crescentes e margens apertadas frente à chegada de concorrentes internacionais. Mas ainda há dúvidas sobre a capacidade da Shein de manter sua produção competitiva dentro do chamado “custo-país” – problema conhecido há anos por concorrentes nacionais.
O acordo entre Coteminas e Shein prevê que a empresa fundada pelo falecido ex-vice-presidente José Alencar – hoje comandada pelo filho, Josué Gomes da Silva, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) –, disponibilize 2 mil de seus clientes de confecção para fabricar produtos para a varejista asiática no Brasile na América Latina.
Os planos da gigante chinesa também incluem financiamento para capital de giro e contrato para exportação de produtos. Além disso, a Shein reforçou que pretende nacionalizar a produção de 85% de suas vendas locais até o final de 2026.
Em 2022, a indústria têxtil no Brasil contava com 22.500 unidades de produção e empregava 1,3 milhão de pessoas com vagas formais, segundo dados da Abit/Iemi. Em sua carta de compromisso, a Shein pretende fechar parceria com 10% dos fornecedores do ramo no país – o que elevaria a força de trabalho dessa indústria em 7,5% nos próximos três anos.
Para se ter uma ideia da dimensão do plano, a varejista de moda nacional Renner (LREN3) possuía 1,402 fornecedores do ramo têxtil para produzir seus produtos em 2022, enquanto a C&A (CEAB3) contava com 794, segundo levantamento feito por analistas de research do Santander.
O que motivou o acordo da Shein?
A parceria foi anunciada logo após a Shein anunciar que pretende investir cerca de R$ 750 milhões no setor têxtil brasileiro e gerar até 100 mil empregos indiretos em três anos – a fim de encerrar uma polêmica com o governo Lula envolvendo o fim da isenção de imposto sobre produtos importados por pessoas físicas – decisão da qual o governo voltou atrás em meio ao acordo.
Hoje, é cobrado um tributo de 60% sobre o valor de encomendas internacionais, com exceção das compras entre pessoas físicas (encomendas pessoais) de até US$ 50. A Receita Federal e varejistas brasileiros argumentavam que esse benefício vinha sendo utilizado de forma fraudulenta para vendas feitas por empresas estrangeiras, o que geraria concorrência desleal frente a players nacionais.
Confira as ações AMER3
Novo fôlego para a indústria têxtil?
Na avaliação do especialista em gestão de varejo Luiz Claudio D., fazia anos que a indústria têxtil não recebia uma notícia tão positiva quanto o acordo entre Coteminas e Shein. No entanto, ele pondera que há um longo trajeto entre o discurso e colocar os planos em prática.
Em meio a resultados negativos, sua controlada Springs Global reduziu suas operações no ano passado, diminuindo suas linhas de produtos fabricados de 7 mil para cerca de 1,5 mil unidades fabricadas simultaneamente.
Nos nove primeiros meses de 2022, a Coteminas acumulava um prejuízo financeiro de R$ 242,2 milhões, segundo seu último balanço financeiro disponível no site de RI – resultado 32,9% pior que no mesmo período de 2021.
Fundada em 1967 em Montes Claros (MG), a Coteminas é dona no Brasil das marcas Santista, Artex, MMartan e Casa Moysés. Também possui marcas na Argentina, Estados Unidos e Canadá. Em meio à notícia da parceria com a Shein, o valor de mercado da Coteminas chegou a mais que triplicar (+270%) entre 20 e 25 de abril, segundo dados do TradeMap.
“Quando se fala em fomentar a cadeia como um todo, a Coteminas é uma grande indústria, uma das poucas que ainda sobrevivem nesse mercado. É muito importante, sobretudo um plano do governo como principal patrocinador, que pode alcançar centenas de milhares de confecções candidatas a fornecer produtos dentro desse plano de reestruturação”.
LUIZ CLAUDIO D., ESPECIALISTA EM VAREJO
Embora o acordo gere a expectativa de fomentar a indústria têxtil como um todo, o especialista em gestão de varejo questiona de que forma a Shein seria capaz de colocar em prática um plano que muitas varejistas nacionais têm dificuldade em fazer.
“Se de um lado, vemos esse projeto com bastante otimismo, a grande questão é o que vai ser feito de diferente, a partir do momento em que a Shein, vendendo produtos fabricados na China, passará a produzir no Brasil. Os preços serão os mesmos?”, questiona.
Concorrência com varejistas nacionais
Para analistas do Itaú BBA, com a varejista chinesa nacionalizando grande parte de sua produção, os players de vestuário doméstico serão melhor posicionado para competir com a empresa localmente. Eles avaliam que o fato de o segmento de vestuário ser pulverizado, com participação de mercado dos três maiores players não passando de 20%, como oportunidade para novos competidores coexistirem nesse mercado.
“Em nossa opinião, competir com o cross-border da Shein (comércio de produtos fabricados em outro país) foi muito mais desafiador, dada sua provável vantagem de preços em relação ao custo de produção no mercado chinês”, observaram em relatório.
Em relatório, analistas do Santander avaliaram que a recente desaceleração da importação de produtos de baixo valor entre de janeiro a fevereiro de 2023, segundo o Banco Central, pode ter implicações favoráveis para as varejistas de moda nacionais. Ainda assim, eles acreditam que os preços da Shein podem permanecer competitivos neste cenário.
“Embora os compromissos de investimento da Shein para a produção local sejam substanciais, eles ainda assim indicam a consciência da empresa sobre os riscos potenciais do aumento da supervisão do governo”, diz o Santander em relatório.
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