A tensão comercial entre Estados Unidos e China no segundo mandato de Donald Trump voltou a beneficiar a soja do Brasil. Os prêmios pagos nos portos brasileiros voltaram a subir e retomaram os patamares da primeira guerra comercial entre os países (2018-2019).
Diante do cenário, a SLC Agrícola, uma das principais produtoras de grãos do país, aposta que o fluxo de exportação seguirá favorável nos próximos meses. “Os prêmios chegaram a quase US$ 2 por bushel nos portos nas últimas semanas, o que nos levou a antecipar algumas vendas”, afirmou Aurélio Pavinato, CEO da SLC, em conversa com jornalistas na quarta-feira (13).
Para entender o que isso significa na prática, é preciso conhecer como funciona o “prêmio” da soja. Quando um importador chinês quer comprar soja brasileira, ele não paga apenas a cotação da Bolsa de Chicago — que serve como referência mundial. Precisa pagar um adicional, o “prêmio”, para garantir a origem brasileira.
Esse valor extra — expresso em dólares por bushel (unidade americana equivalente a 27,2 kg) — varia conforme a demanda, custos logísticos e, principalmente, fatores geopolíticos. Quanto maior a tensão comercial entre EUA e China, maior tende a ser o prêmio pago pela soja brasileira.
Nesta semana, o prêmio FOB no porto de Paranaguá — preço da soja posta no navio, sem incluir o frete marítimo — estava entre US$ 1,75 e US$ 1,90 por bushel — um salto significativo em relação ao cerca de US$ 1,00 de abril.
Os valores atuais se aproximam dos picos de 2018 e 2019, quando as primeiras tarifas de Trump sobre produtos chineses redirecionaram as compras de Pequim para a América do Sul. Segundo Pavinato, o Brasil “vendeu como nunca” nos últimos e deve manter embarques robustos em setembro e outubro – meses tradicionalmente dominados pelos Estados Unidos.
Pequim sem pressa
O executivo avalia que a China não tem pressa em firmar um novo acordo comercial com os EUA, apesar da retórica de campanha de Donald Trump pedindo que Pequim quadruplique suas compras do grão americano.
“É difícil imaginar um acerto que prejudique o Brasil. A dependência chinesa dos EUA diminuiu muito desde a primeira Trade War“, acrescentou Pavinato. “Hoje há uma diversificação maior e menos urgência por parte da China.”
A combinação entre oferta abundante no Brasil e a extensão da trégua tarifária por mais 90 dias — anunciada no início de agosto — deve continuar estimulando compras chinesas na América do Sul. Em julho, as importações chinesas de soja bateram recorde para o mês e somaram 11,7 milhões de toneladas.
Lucro da SLC caiu no trimestre
Apesar do otimismo com as exportações, o balanço da SLC no segundo trimestre mostrou queda de 56,5% no lucro líquido em relação ao mesmo período do ano passado. A reversão contábil de ganhos com valor justo dos ativos biológicos — que haviam impulsionado o lucro de 2024 — tirou R$ 452 milhões do resultado bruto.
O algodão, que responde por parte relevante da receita, teve queda de 12,9% na receita líquida e 6,2% no volume vendido, pressionado por produtividade mais baixa na Bahia. A dívida líquida subiu de R$ 3,7 bilhões para R$ 6 bilhões em um ano, impulsionada por aquisições de terras e antecipação de compras de insumos.