Brasil, México e Canadá reagem e montam estratégia contra a invasão do aço chinês

Juntos, os três países foram responsáveis por 38% das importações dos EUA de aço em um mês e cerca de metade no ano passado

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Enquanto as políticas comerciais do presidente americano Donald Trump representam um golpe para os produtores de aço no mundo todo, países como Brasil, México, e Canadá estão reagindo. Mas os Estados Unidos não são o único alvo.

Embora as três nações busquem negociar com o governo Trump a redução das tarifas de até 50% impostas em junho sobre o aço importado pelos EUA, os países também estão focados em impulsionar a demanda local para compensar a queda das exportações.

Isso significa bloquear a crescente enxurrada de aço chinês barato, que ameaça expulsar os produtores locais de seus mercados internos.

O México anunciou um plano neste mês para elevar as tarifas sobre produtos da China, incluindo o aço, em até 50%.

O Canadá também implementou medidas protecionistas.

E, no Brasil, os produtores de aço estão pedindo ao governo que imponha mais barreiras comerciais à oferta estrangeira.

Juntos, os três países foram responsáveis por 38% das importações dos EUA de aço em julho e cerca de metade no ano passado.

“Precisamos de celeridade e efetividade na aplicação de medidas de defesa comercial”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil.

O aço chinês agora representa cerca de 65% das importações brasileiras do material. “Nossa missão é recuperar esse um terço do mercado que perdemos por conta de importações predatórias.”

As medidas para interromper as importações de aço chinês podem ajudar a posição de negociação dos três países com os EUA.

As tarifas de Trump sobre os vizinhos dos EUA ocorrem no momento em que seu governo trava uma guerra comercial mais ampla contra a segunda maior economia do mundo, com o objetivo, em parte, de conter o fluxo de produtos chineses baratos para países ao redor do mundo.

O aço chinês representou mais da metade do mercado global de aço no ano passado, de acordo com dados da Associação Mundial do Aço.

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Um porta-voz do Escritório do Representante Comercial dos EUA não respondeu aos pedidos de comentário.

Volumes de aço para os EUA despencaram

Desde que Trump anunciou as tarifas sobre o aço, os volumes enviados do Canadá e do Brasil para os EUA despencaram. As importações dos EUA destes países caíram 45% e 27%, respectivamente, em julho, em comparação com o ano anterior, mostram dados do Census Bureau dos EUA.

O México ainda não sentiu o impacto total da taxação devido aos estoques, com as exportações de aço aos EUA em alta de 50% em julho.

Ainda assim, os danos às indústrias no México, Canadá e Brasil já se espalharam.

No Brasil, a Gerdau cancelou os planos de investir cerca de US$ 600 milhões em uma nova siderúrgica no México. A Algoma Steel Group, que opera uma grande usina de Ontario, no Canadá, está interrompendo os embarques de aço para os EUA, disse o principal executivo da empresa à Bloomberg News. 

Embora a tarifa de referência sobre o aço seja de 50%, os países enfrentam, na realidade, uma alíquota efetiva mais baixa.

Em julho, a taxa para o ferro e o aço ficou abaixo de 30% para o Canadá, México e Brasil, segundo dados compilados pela Bloomberg, que incluem isenções negociadas.

México e Canadá estão relativamente protegidos graças a uma exceção para o metal que é “fundido e moldado” nos EUA, bem como isenções de outras tarifas sobre o conteúdo não metálico destes produtos, de acordo com a Bloomberg Economics.

Os EUA continuam importando aço e precisarão continuar comprando no estrangeiro, a menos que a indústria nacional se expanda em grande escala. O destino final das tarifas de Trump, por sua vez, permanece incerto, depois que a Suprema Corte concordou em ouvir argumentos sobre a legalidade das tarifas.

Mas, no curto prazo, medidas protecionistas voltadas à China estão proliferando, à medida que as siderúrgicas das Américas sofrem com as tarifas de Trump.

Além dos aumentos de tarifas do México sobre o aço chinês, o governo investiga siderúrgicas fantasmas, operações que existem apenas no papel na Ásia e servem de fachada para importações, já que os proprietários buscam escapar de tarifas ou sanções.

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O Canadá aplicou tarifas de 25% ao aço chinês e, em julho, reforçou suas cotas tarifárias — que impõem taxas mais altas sobre quantidades acima de um determinado nível — para limitar ainda mais as importações de países fora dos EUA. O governo também adicionou uma sobretaxa de 25% sobre produtos de aço de qualquer país, exceto os EUA, que contenham aço fundido e moldado na China.

O Brasil, por sua vez, está investigando se são necessárias tarifas antidumping sobre as importações de 25 tipos de produtos com aço da China. O governo implementou um sistema de cotas tarifárias para limitar as importações de alguns produtos e apoiar as siderúrgicas locais — uma medida que a indústria considera ineficaz.

Num discurso no final de julho, Zhao Minge, CEO da Associação Chinesa de Ferro e Aço, alertou sobre potenciais medidas protecionistas de países inundados com aço chinês. A exportação em larga escala de “produtos de aço primário de baixo valor agregado” não se alinha com as políticas de exportação da China, afirmou.

O Brasil está sob pressão significativa, já que as tarifas dos EUA levam a China a redirecionar sua oferta. A multinacional siderúrgica sediada em Luxemburgo ArcelorMittal pode atrasar seus planos para uma nova fábrica no Brasil, de acordo com o presidente da empresa no Brasil, Jorge Oliveira. “É um projeto que corre o risco de adiamento se o nível de importação continuar crescente”, disse ele em entrevista no final do mês passado.

A reorganização comercial global também forçou a ArcelorMittal a interromper as exportações de 400.000 toneladas de placas de aço feitas no Brasil para o Canadá, que agora não pode reexportar para os EUA, disse Oliveira.

Gerdau

Em agosto, durante uma conferência em São Paulo, o presidente do conselho de administração da Gerdau, André Gerdau Johannpeter, alertou que o setor siderúrgico brasileiro está se aproximando de um ponto de ruptura, com qualquer queda adicional na utilização da capacidade, abaixo dos atuais 66%, provavelmente ameaçando empregos. “O grande debate é onde vão ficar os empregos — na China ou no Brasil?”, afirmou.

Um choque político entre o Brasil e Trump sobre o tratamento dado ao seu aliado Jair Bolsonaro desferiu um golpe na tentativa do Brasil de chegar a um acordo bilateral sobre as tarifas ao aço. Desde que Trump impôs taxas de 50% sobre produtos brasileiros, os canais diplomáticos entre os dois países se silenciaram — e as negociações só serão retomadas quando as tensões diminuírem, disse Lopes, do Instituto Aço Brasil.

No mês passado, Barry Zekelman, CEO da Zekelman Industries, disse que as siderúrgicas canadenses não sobreviverão a menos que as políticas comerciais dos EUA mudem. Sua empresa, fabricante de tubos de aço com sede em Chicago, possui uma fábrica de tubos em Ontário, Canadá. “As usinas canadenses “não conseguem sobreviver com os impostos que estão pagando”, disse. “Elas vão falir se isso continuar.”

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