Argentina volta ao jogo da Unipar, que segue atrás de aquisições: ‘É o timing certo’, diz Frank Geyer

Após anos de turbulência, a Argentina voltou a ser viável para a Unipar. Mas com o setor em baixa, a ordem agora é crescer com cautela

A operação na Argentina foi, por um bom tempo, uma preocupação da Unipar. Com anos de instabilidade econômica e um câmbio controlado, o grupo petroquímico controlado pela família Geyer cogitou se desfazer do ativo. Mas as mudanças promovidas pelo governo Milei trouxeram novas perspectivas, afirma Frank Geyer Abubakir, acionista controlador da companhia.

A planta localizada em Bahía Blanca, cidade portuária na região sul da província de Buenos Aires, atravessou os últimos anos como um ativo resiliente, porém sob pressão. “Chegamos a rever os investimentos por lá, sim. Era muito difícil competir com um câmbio artificial que espremia as empresas”, diz Frank, neto de um dos fundadores da Unipar.

A flexibilização do câmbio e a agenda liberalizante promovidas por Javier Milei reacenderam a confiança, prossegue o Frank, que hoje não ocupa cargo executivo na Unipar. “O empresário até aguenta por um tempo, mas tem limite. Agora, com o câmbio livre, o jogo volta a ser formalmente justo. A empresa volta a ter a margem.”

Fábrica da Unipar em Bahía Blanca, na Argentina (Divulgação)

Apesar dos bons ventos vindos do outro lado do Rio da Prata, a Unipar hoje enfrenta um desafio maior: o ciclo de baixa da indústria petroquímica. 

Em 12 meses, o preço do PVC — responsável por 39% da receita — caiu 7%, enquanto a soda cáustica, que responde por 40% do faturamento, passa por um arrefecimento após forte alta em 2024, quando avançou quase 20%. “O ciclo ainda está difícil. O preço do PVC está pressionado, e isso afeta a margem. Mas o cloro e a soda seguem sustentando a operação”, diz Frank.

Mesmo com o cenário adverso, a companhia lucrou R$ 150 milhões no primeiro trimestre deste ano — quase três vezes o registrado em igual período de 2024 (R$ 56 milhões). A margem operacional (Ebitda) subiu para 26%, com destaque para a divisão de cloro-soda, impulsionada pela demanda do setor de saneamento.

A nova planta de Camaçari (BA), inaugurada no fim do ano passado, reforça essa estratégia ao abastecer o Nordeste, uma das regiões que mais precisa avançar no serviço, com menor custo logístico.

Ciclo de oportunidades

Com o balanço saudável, as aquisições seguem no radar da Unipar. Apesar do apetite declarado há alguns anos, nenhuma transação foi feita. A tentativa mais conhecida foi a de comprar o controle da Braskem em 2023, mas a negociação não avançou.

Para Frank, o momento é propício: são nos ciclos de baixa que surgem as melhores oportunidades. “É o momento certo para M&As. O cenário favorece reformas, modernização tecnológica e compras estratégicas. Mas cabe à administração fazer isso com disciplina.”

Planta industrial da Unipar (Divulgação)

O discurso permanece alinhado: o radar está ligado e a empresa se considera pronta para agir, caso surja o alvo certo — e juridicamente confiável. O caminho para esse crescimento pode incluir ativos no exterior. “A oportunidade ainda precisa aparecer.”

Com alavancagem em 0,88 vez a dívida líquida pelo Ebitda e a maior parte dos vencimentos concentrada a partir de 2029, a companhia tem gordura de sobra para investir.

Presente em três países e com novos projetos em andamento, a Unipar aposta em ganhos de escala. Além da unidade em Camaçari e da planta argentina, trabalha para ampliar a capacidade de produção de PVC em Santo André (SP), com entrada prevista ainda neste ano. A aposta, diz Frank, é manter uma empresa sólida e longeva — mesmo em tempos de margens apertadas.

Tradição dos Geyer

Embora não ocupe cargo executivo, Frank Geyer Abubakir acompanha de perto os rumos da Unipar como acionista controlador — e como herdeiro de uma história que mistura indústria, cultura e visão de longo prazo. Paulo Geyer, seu avô e um dos fundadores da companhia, era colecionador de artes — um hobby que passou para o neto.

Hoje, Frank é patrocinador do legado familiar. O grupo é um dos financiadores das obras de preservação e restauração da Casa Geyer, um casarão histórico no bairro de Cosme Velho, na zona sul do Rio de Janeiro, que foi doado pelo seu avô para o Museu Imperial do Rio de Janeiro.

Além do imóvel, há também a Brasiliana Geyer, uma das coleções iconográficas mais importantes do país, hoje sob responsabilidade do museu.

O imóvel e o acervo — que reúnem mais de 4,2 mil obras sobre a formação do Brasil — estão sendo restaurados com recursos da própria família Geyer, via Lei de Incentivo à Cultura. A ideia é transformar o espaço em um centro de memória e educação pública.

“Meu avô era um apaixonado por livros e acervos, e acho que isso passou pra mim. Eu sempre gostei de estudar, de comprar livro, de ir atrás. É uma forma de conexão com ele, sabe?”, conta Frank.

Esse vínculo com o passado também ajuda a moldar a transição para o futuro. As filhas de Frank, Maria Cecília e Maria Carolina, já participam de conselhos e se envolvem com o acervo e a governança da companhia. Mas ele faz questão de destacar que o caminho delas deve ser guiado pela vontade própria.

“Elas vão se formando. A gente não quer pressionar. O que eu quero é que elas tenham formação, cultura e poder de escolha. Se vão se envolver com a companhia ou com o acervo, tudo bem — desde que seja escolha delas.”

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