No embalo do ‘superciclo’ do cobre, Vale transfere jazida a grupo estreante de Minas Gerais

Tradicional em obras de infraestrutura, o Grupo Barbosa Mello estreia na mineração ao assumir direitos sobre uma jazida de cobre da Vale em Carajás

A Vale está cedendo direitos minerários para a exploração de uma jazida de cobre no complexo de Carajás, no Pará, para o Grupo Barbosa Mello, uma tradicional construtora de Minas Gerais sem histórico na mineração, apurou o InvestNews.

A operação, que ainda depende de aval dos órgãos reguladores, envolve a cessão de um título minerário da Salobo Metais, subsidiária da Vale, para a Neo Ltda., empresa criada pelo grupo mineiro.

Na prática, trata-se de uma cessão do direito de explorar uma área com potencial mineral. Embora a Vale continue como titular original junto à Agência Nacional de Mineração (ANM), a Neo passa a ser responsável por tocar o projeto do zero: isso inclui estudos geológicos, licenciamento ambiental e, futuramente, eventuais pedidos de lavra.

Ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Vale afirmou que a transação busca “o melhor aproveitamento econômico da reserva”. Já o Grupo Barbosa Mello disse que a operação representa uma oportunidade para ingressar no mercado de cobre e diversificar seus negócios.

O InvestNews questionou a Vale sobre os valores envolvidos e o potencial de produção da jazida, mas a empresa disse que não irá comentar. A reportagem também procurou o Grupo Barbosa Mello e ainda aguarda retorno.

Criada em 2023, a Neo não tem histórico na produção mineral, atividade que exige conhecimento técnico e investimentos elevados. Com sede em Belo Horizonte, a subsidiária do Grupo Barbosa Mello abriu uma filial em Canaã dos Carajás (PA).

O Grupo Barbosa Mello, fundado em 1958, é mais conhecido por sua atuação em obras públicas e infraestrutura pesada, incluindo contratos com a própria Vale no projeto S11D, também na Serra dos Carajás, e com o governo de Minas Gerais na construção da Cidade Administrativa.

O grupo comandado pelo empresário Guilherme Moreira Teixeira faturou cerca de R$ 1,5 bilhão em 2023, segundo dados mais recentes.

Cobre que vale ouro

A transação ocorre num momento em que o mercado global de cobre está em ebulição. Grandes mineradoras como BHP, Glencore e a mais recente bilionária fusão entre Anglo American e Teck têm demonstrado a corrida mundial dos produtores para garantir acesso ao metal.

Com aplicações que vão de carros elétricos e turbinas eólicas até data centers, inteligência artificial e redes elétricas, o cobre virou peça central nas estratégias industriais de China, EUA e Europa. Segundo projeções da Vale e do Goldman Sachs, o mundo deve enfrentar um déficit global de oferta a partir de 2026, abrindo caminho para um novo “superciclo” de valorização.

No Brasil, o símbolo dessa nova era é Salobo, maior projeto de cobre do país, operado pela própria Vale. Com reservas estimadas em mais de 1 bilhão de toneladas, vida útil superior a 40 anos e um dos menores custos operacionais do mundo, o complexo vem passando por expansão. Só no segundo trimestre de 2025, Salobo gerou US$ 418 milhões em luco operacional (Ebitda), puxando o desempenho da divisão de metais básicos da mineradora.

Apesar do cenário positivo, a Vale tem dado sinais de que pretende monetizar ativos não prioritários e compartilhar riscos em projetos em fase inicial, que são os mais arriscados, enquanto foca sua atenção na consolidação de operações maduras e expansões estratégicas.

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