Virou tendência: mais Big Techs querem menos gerentes e maior agilidade

Neste mês, Intel, Microsoft, Meta e Apple se veem às voltas com demissões em massa e reorganizações estruturais

As empresas de tecnologia engataram a quinta marcha na corrida para mudar o panorama sombrio que elas enfrentam desde 2024, e ainda não deu sinais de arrefecer em 2025.

Só neste mês, fontes informaram que a Intel estuda reduzir seus funcionários em 20%, a Meta despediu 100 pessoas em um único departamento, a Microsoft começou um segundo processo de demissões em massa e a Apple está fazendo mais uma dança das cadeiras, movendo equipes de um chefe para outro, na tentativa de obter melhores resultados.

Reduzir camadas de hierarquia é a aposta dos CEOs para impulsionar a agilidade e demonstrar a busca por mais eficiência que os investidores estão esperando. Por isso, a mira das empresas tem sido principalmente os cargos de gerência média, seguindo a tendência de “achatamento” do organograma. Isso significa eliminar chefes intermediários e aumentar a razão de colaboradores respondendo diretamente a líderes mais sênior.

A Amazon iniciou esse processo em setembro e, no mês passado, seu CEO, Andy Jassy, disse que concluiu a reorganização para voltar a funcionar com “mentalidade de startup”. Em dezembro, o chefe do Google, Sundar Pichai, disse que estudava acabar com 10% das gerências média e vice-presidências pelo mesmo motivo.

Intel: o buraco é mais embaixo

Nesta quinta-feira (24), os investidores receberam uma projeção de faturamento abaixo da expectativa dos analistas, indicando que os problemas da outrora gigante dos chips são mais profundos do que se esperava.

Ao apresentar seu primeiro relatório de resultados como CEO, Lip-Bu Tan afirmou que a cultura corporativa burocrática da Intel precisa de uma sacudida. Por isso, ele vai cortar empregos, reduzir camadas de gestão e exigir que todos voltem ao escritório.

Lip-Bu Tan, novo CEO da Intel e ex-membro do conselho da companhia. Foto: Bloomberg

Além disso, o diretor financeiro da Intel alertou que uma recessão impulsionada por tarifas comerciais pode afundar a demanda por chips.

“Mesmo com cortes de custos e movimentos estratégicos, a Intel ainda enfrenta diversos desafios externos, como a crescente concorrência, a falta de produtos competitivos no mercado de IA e a ausência de clientes relevantes para seu negócio de fundição”, afirmou o analista da Edward Jones, Logan Purk, em um relatório. “Este foi um trimestre decepcionante para a Intel, que continua apresentando resultados financeiros mais fracos.”

A empresa ainda não tem uma estimativa dos custos únicos relacionados às demissões, mas espera reduzir seus custos operacionais para cerca de US$ 17 bilhões este ano e US 16 bilhões em 2026. Segundo fontes ouvidas pela Bloomberg, a Intel planeja cortar mais de 20% de seu quadro de funcionários.

Meta: choque de realidade

Na Meta, a demissão em massa atingiu a equipe responsável pelos produtos de realidade virtual, com o corte de 100 funcionários, segundo fontes internas ouvidas pela Bloomberg.

Os funcionários trabalhavam no Reality Labs, focados na criação de produtos para os óculos de realidade virtual Quest. As demissões alcançaram também colaboradores da área operacional que trabalhavam com hardware, afirmou a fonte, que pediu anonimato pois os detalhes não eram públicos.

A fonte explicou que a liderança da empresa espera simplificar trabalhos similares que estavam sendo realizados pelas duas equipes diferentes dentro da Reality Labs.

Oficialmente, a Meta confirmou demissões, mas não informou o número de funcionários afetados. “Algumas equipes dentro do Oculus Studios estão passando por mudanças em sua estrutura e funções que impactaram o tamanho dos times”, disse a porta-voz da Meta, Tracy Clayton, em comunicado por e-mail.

“Essas mudanças visam ajudar os Studios a trabalhar com mais eficiência em futuras experiências de realidade mista para nosso público crescente, enquanto continuamos a entregar ótimos conteúdos para os usuários atuais.”

Um dos produtos mais afetados com os cortes é o Supernatural, um aplicativo de fitness em realidade virtual que permite aos usuários do Meta Quest treinar com especialistas enquanto usam os óculos. A Meta investiu US$ 400 milhões na compra da criadora do aplicativo, que foi concluída em 2023.

No perfil oficial do Facebook, o Supernatural lamentou, nesta quinta, as demissões e anunciou que haverá uma redução no lançamento de treinos semanais.

Aplicativo Supernatural, da Meta, é usado para atividades físicas nos óculos de realidade virtual Quest. Foto: Divulgação

Clayton, a porta-voz da Meta, afirmou que a empresa mantém seu “compromisso de investir em experiências de realidade mista, incluindo fitness e games, e nossa determinação em oferecer as melhores experiências possíveis para as comunidades Quest e Supernatural permanece inalterada”.

No início deste ano, a Meta já havia cortado cerca de 3.600 pessoas, o que representou 5% de seu quadro de funcionários, em demissões classificadas como baseadas em desempenho.

Microsoft: ondas de demissão em massa

O ano nem chegou à metade, mas, segundo a Business Insider, a Microsoft já tirou do papel uma segunda onda de demissões em massa.

Em janeiro, cerca de 2 mil pessoas foram demitidas da empresa por “fraco desempenho”. Elas ficaram sem plano de saúde e não receberam nenhum tipo de pacote de benefícios.

Agora, a Microsoft começou a demitir pessoas em diversas áreas, como segurança, vendas, gaming e experiências e dispositivos. Um porta-voz da empresa confirmou a informação à Business Insider, mas garantiu que as demissões, além de serem pouco numerosas, não fazem parte dos cortes por baixa performance do início do ano.

Uma fonte interna do site revelou que a empresa pretende aumentar o número de subordinados por gestor. Mas que também tem como foco um cargo específico de gerência: os gerentes de projetos e gerentes de programa.

A Microsoft está buscando um reequilíbrio entre profissionais técnicos e não-técnicos. Na área de segurança, por exemplo, a meta é passar de 5,5 para 10 engenheiros para cada gerente.

Logotipo da Microsoft em fachada de prédio da companhia, Munique, Alemanha. Foto: Adobe Stock Photo

Apple: chacoalão nas equipes

Na Apple, a questão está menos ligada aos gerentes médios, e mais aos figurões do topo. A empresa, que já andou passando vergonha com os fracassos de sua inteligência artificial aplicada ao assistente Siri, decidiu dar um chacoalhão no seu time secreto de robótica: removeu a equipe do comando do chefe de IA, John Giannandrea, para tentar provocar alguma reviravolta que dê resultados positivos.

A unidade desenvolve dispositivos como um robô doméstico com tela integrada. Agora, ela foi movida para o departamento de hardware.

Para Giannandrea, a mudança representa uma espécie de rebaixamento, após atrasos significativos em recursos-chave da Siri e uma resposta morna à plataforma Apple Intelligence. Ele já perdeu centenas de engenheiros apenas este ano — transferidos para outros times — depois que Tim Cook perdeu a confiança em sua capacidade de liderar o desenvolvimento de novos produtos.

A mudança no gerenciamento da IA ​​levou meses para ser elaborada e é anterior ao anúncio dos atrasos da Siri pela Apple. Fotógrafo: Chris Ratcliffe/Bloomberg

As mudanças, no entanto, liberam o grupo de Giannandrea para focar no desenvolvimento dos modelos fundamentais que impulsionarão futuros produtos da Apple — incluindo atualizações para o Apple Intelligence e a Siri.

A equipe de IA e aprendizado de máquina, ironizada por alguns funcionários como “AI/MLess” (um trocadilho com “sem IA”), tem enfrentado crises há meses, com repetidos atrasos em promissores recursos da Siri. Colaboradores da Apple também reclamam de uma postura relaxada que atrasou a engenharia e o desenvolvimento de novas iniciativas. Em uma reunião geral no mês passado, Robby Walker, ex-líder da Siri sob Giannandrea, classificou a situação como “vergonhosa” e “desastrosa”.

Giannandrea não sinalizou planos de sair, mas a transferência contínua de responsabilidades levanta a possibilidade de a Apple estar se preparando para seguir sem ele no comando de seus esforços em IA.

Oito anos após unificar os times de IA da Apple sob seu comando, uma fragmentação da equipe de IA e ML agora parece mais provável, segundo as fontes.

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