Vulcabras quebra recordes e Grendene vive estagnação: como os negócios da família Grendene Bartelle vivem momentos distintos

Empresas seguem estratégias distintas com a Vulcabras focada no segmento esportivo e a Grendene de olho no mercado internacional

As fabricantes de calçados Grendene e Vulcabras chegaram até aqui graças a uma mesma família: a Grendene Bartelle. Mas hoje elas seguem rotas bem diferentes.

Enquanto a Grendene — dona de marcas como Melissa, Rider e Ipanema — amarga estagnação no mercado interno e tenta fazer sua estratégia internacional deslanchar, a Vulcabras  —  com a Olympikus e a operação da Mizuno e da Under Armour no Brasil  — vive um dos melhores momentos de sua história, com crescimento nas vendas e lucros recordes.

A diferença de desempenho entre as duas empresas é ainda mais evidente ao observar suas últimas movimentações. As ações da Grendene estão no menor patamar desde 2016, pressionada pela concorrência asiática e pelo consumo doméstico enfraquecido. No primeiro trimestre de 2025, o lucro da companhia caiu 18,8%, para R$ 113,4 milhões, com um menor volume de vendas e o crescimento das despesas operacionais.   

Na contramão, a Vulcabras teve o melhor primeiro trimestre de sua história, com lucro de R$ 106,1 milhões, alta de 19,5% na comparação anual. A empresa também apresentou seu 19º trimestre consecutivo de alta na receita, que chegou a R$ 701,2 milhões. O  resultado é fruto de uma estratégia centrada no mercado esportivo, que passa pela inclusão da Olympikus na categoria de produtos de alta performance. 

As estratégias

Fundada em 1971 pelos irmãos Alexandre Grendene Bartelle e Pedro Grendene Bartelle, a Grendene ganhou destaque no setor ao transformar plástico em calçados de consumo de massa. A Melissa, lançada em 1979, foi uma inovação. Mas o cenário atual é outro. E enquanto segue pressionada pela concorrência no mercado interno, a Grendene tenta impulsionar sua estratégia no mercado internacional com a Grendene Global Brands (GGB).

A GGB é uma joint-venture criada em 2021 com a gestora 3G Radar — de Jorge Paulo Lemann e seus sócios — para atuar na distribuição e comercialização de seus calçados exterior. Ao todo, foram investidos US$ 75 milhões nesse projeto. Mas a empresa encontrou dificuldades para se estabelecer como esperava com o aumento dos juros em vários países, problemas logísticos e conflitos regionais. 

A 3G então decidiu deixar os negócios e vendeu sua participação para a Grendene no fim de 2024 por US$ 10,5 milhões. A Grendene segue focada em fazer esse negócio render. A estratégia atual é buscar a rentabilidade da GGB e, enquanto isso, fazer novos aportes para manter o negócio funcionando. Em sua última teleconferência de resultados realizada em maio deste ano, a companhia disse que espera atingir o break-even dessa operação entre 2027 e 2028. 

Desde que os irmãos fundadores deixaram a gestão executiva da Grendene em 2013, quem preside a empresa é Rudimar Dall’Onder um executivo de carreira que começou na empresa em 1979.

Já na Vulcabras, quem comanda os negócios desde 2015 é o filho de Pedro Grendene, o Pedro Bartelle. A história da família Grendene Bartelle com a Vulcabras vem de muito antes e começou em 1988, quando a empresa — à época em dificuldades financeiras — foi adquirida pelos irmãos fundadores da Grendene. 

Sob a presidência de Pedro Bartelle, a companhia passou a concentrar esforços em no mercado esportivo. Além de licenciar a marca feminina Azaleia, assumiu as operações das marcas Mizuno e Under Armour no Brasil. 

Já a Olympikus, historicamente associada a calçados populares, passou por um reposicionamento, com produtos mais tecnológicos e foco no público de alta performance. Como resultado, sua linha de tênis profissionais Corre já representa mais de um quinto do faturamento da Vulcabras. A estratégia da empresa para aumentar seu faturamento também inclui a incursão no varejo físico, com a abertura de lojas próprias da Under Armour.

A diferença de performance entre Grendene e Vulcabras evidencia não só estratégias distintas, mas também caminhos de gestão e foco operacional que se afastaram com o tempo. Enquanto a Grendene busca retomar o crescimento em meio a pressões externas e internas, a Vulcabras tenta manter o bom momento encontrando novas fontes de receita. A ver quais serão os próximos passos das duas companhias e da família por trás desses negócios. 

O InvestNews procurou a família Grendene Bartelle, mas os integrantes não concederam entrevistas. 

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