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Como a guerra híbrida, protagonizada por Rússia, Ucrânia e EUA impacta o ESG?

Quando vemos gigantes corporativas se retirando da Rússia, enxergamos declarações que se apoiam em princípios de responsabilidade social; entenda.

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Os conflitos entre Rússia e Ucrânia invadiram o noticiário, redes sociais e até o papo da mesa de bar. Embora o conflito aconteça geograficamente distante do Brasil, os impactos atingem o mundo todo. O primeiro grande debate entre de que lado estariam os motivos certos e errados, se da Rússia em atacar ou da Ucrânia em manter posicionamentos que a tornaram alvo, perde o foco enquanto a ofensiva se prolonga, com desdobramentos sociais, econômicos e geopolíticos.

Todavia, muito mais importante do que cravar quem tem razão nessa guerra é compreender seus prejuízos globais e que há também uma nova forma de batalha em curso, a chamada “guerra híbrida”. Neste tipo de conflito, há táticas e estratégias que não se atém apenas a ações militares, mas que abrangem ao uso de grupos internos de oposição, propaganda, difusão de fake news e outras estratégias para emplacar narrativas contra adversários.

O conflito russo-ucraniano, além de ultramidiático, veiculado em tempo real, inclui essas armas inovadoras: a Rússia promoveu ataques a sites governamentais ucranianos, assim como os EUA perpetrou o confisco de recursos dos bancos russos.

Um novo manual de guerra

Há outro lado nessa “guerra híbrida”, que inclui a resposta das empresas às narrativas de quem, apesar de não fazer parte oficialmente do conflito, se posiciona como sociedade civil, a exemplo da pressão que consumidores e investidores fizeram sobre as multinacionais – inclusive um grande número se retirou do território russo. Essa debandada também funcionou como contra-ataque ao poder ofensivo russo e faz parte da estratégia de “guerra híbrida”. A saída de grandes empresas da Rússia mostra que as respostas, levando em conta as diretrizes ESG, podem e devem ser rápidas diante da pressão da sociedade civil. 

Quando afirmamos que os objetivos do ESG não confrontam a lucratividade e vemos gigantes corporativas se retirando da Rússia, enxergamos declarações que se apoiam em princípios de responsabilidade social e, ao final, também concluímos que elas podem preservar lucros e investimentos. 

Esses posicionamentos são parte da narrativa e podem encontrar respaldo na opinião pública mundial. No entanto, também decorrem em perdas sociais, culturais e econômicas no território russo, que provoca prejuízos e isola a população. 

“O objetivo dos esforços dos EUA nesse tipo de guerra é explorar as vulnerabilidades políticas, militares, econômicas e psicológicas de potências hostis, desenvolvendo e apoiando forças de resistência para atingir os objetivos estratégicos dos Estados Unidos. […] Num futuro previsível, as forças dos EUA se engajarão predominantemente em operações de guerras irregulares (IW, na sigla em inglês).”

Manual para Guerras Não-Convencionais das Forças Especiais.

Ao concretizar que não há outras opções para os conflitos a não ser deflagrar a guerra, as partes envolvidas renunciam a dividendos de paz e arriscam o de outras no processo. Tanto os países diretamente envolvidos, Rússia e Ucrânia, quanto aliados, podem ter que diminuir as reservas a serem usadas para demandas sociais da população e estabilidade econômica, por exemplo, e deslocar para esforços de guerra, inclusive com perdas humanas e uso de recursos financeiros para apoiar uma ou outra das nações participantes.

“A política é a continuidade da guerra por meios linguísticos.”

Império do Caos.

Desafios ao ESG

São gigantes os desafios para o ESG nesse cenário que inclui a dependência da Europa no setor energético, a pressão inflacionária sobre outros setores estratégicos, como metalurgia e produtos químicos, com o barril de petróleo a US$ 100. A desaceleração da transição energética é praticamente inevitável, por exemplo.

Neste momento, há como diminuir o uso de combustível poluente, sendo que fazem parte de necessidades e estratégias de guerra? Como grandes empresas, governos, multinacionais vão poder alocar recursos para ações sociais, socioambientais nessa configuração geopolítica recente que deve deslocar recursos para investimentos bélicos enquanto caem os dividendos da paz? 

O custo de energia, aumento de combustíveis decorrentes da escassez e alta de derivados de petróleo, processos inflacionários, alta de juros, e a insegurança alimentar são impactos diretos de praticamente todas as guerras. Essa conjuntura é real no mundo e não apenas nos países envolvidos, pois afeta a cadeia global de suprimentos, os custos e os desdobramentos atingem mais duramente as populações de menor renda dos países. A conta chega de maneira diferente para quem é mais pobre.

Como ter mais segurança financeira em tempos de guerra? 

O preço dos combustíveis e fertilizantes impactam diretamente na cesta básica e influenciam nos índices de pobreza e miséria, afetando a economia, que no caso do Brasil já não caminha bem. Mais do que nunca é preciso construir seu fundo de emergência, fazer uma linha mais conservadora nos investimentos: CDBs, fundos de renda fixa e empresas que atuem em setores mais resilientes, como os de transmissão de energia, commodities – em especial energéticas e metálicas – bancos, saúde, saneamento. 

Empreender e buscar alternativas de geração de renda podem ser ainda mais urgentes diante do desemprego e da inflação. No Brasil ainda temos um ano de eleições gerais e a imprevisibilidade política e socioeconômica que os atravessam, historicamente. É o momento de manter seguro o que já se conquistou e avançar com cautela.

*Alan Soares é um empreendedor social reconhecido internacionalmente. Além de especialista em negócios, é um dos fundadores do Movimento Black Money, onde utiliza seu conhecimento em prol da liberdade financeira da comunidade negra no Brasil.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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