Colunistas – InvestNews https://investnews.com.br Sua dose diária de inteligência financeira Fri, 02 Aug 2024 14:54:52 +0000 pt-BR hourly 1 https://investnews.com.br/wp-content/uploads/2024/03/favicon-96x96.ico Colunistas – InvestNews https://investnews.com.br 32 32 Por que Mark Zuckerberg, da Meta, aposta tão alto na inteligência artificial https://investnews.com.br/colunistas/por-que-mark-zuckerberg-da-meta-aposta-tao-alto-na-inteligencia-artificial/ Fri, 02 Aug 2024 10:50:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=604921 A Meta, dona de Facebook, Instagram e WhatsApp, já gastou US$ 30 bilhões apenas em compra de placas (GPUs) da Nvidia dedicadas ao treinamento de modelos de inteligência artificial nos últimos três anos. É um valor equivalente ao que o governo americano investiu no Projeto Manhattan, que resultou na bomba atômica retratada no filme Oppenheimer. 

A comparação parece despropositada, mas é uma das poucas que dá conta do tamanho da aposta que a empresa vem fazendo em busca de supremacia em uma tecnologia emergente.

Quando começou a montar essa gigantesca infraestrutura (que equivalerá a 600 mil GPUs até o fim do ano), ainda em um momento pré-ChatGPT (2022), o fundador e CEO Mark Zuckerberg não tinha certeza sobre qual seria a sua utilidade. A ideia inicial era treinar modelos para melhorar o algoritmo do Instagram que sugere vídeos, para competir com a avançada IA do chinês TikTok.

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Investidores viram com alguma desconfiança o gasto. Mas Zuckerberg manteve que seria importante para a Meta ter o hardware que permitisse à empresa surfar em qualquer onda que viesse. “A essa altura, eu prefiro arriscar construindo essa capacidade antes que seja necessário do que quando for tarde demais”, disse na conversa com investidores em que anunciou os resultados do 2º trimestre de 2024, na última quarta-feira (31/7).

Além de silício, a Meta investiu em pessoas. O time de IA, chefiado por Yann LeCun — um dos cientistas mais respeitados no campo — sobreviveu inclusive a cortes profundos na empresa e teve liberdade para experimentar.

Mark Zuckerberg anuncia novidades da Meta 27/09/2023 REUTERS/Carlos Barria

E, ao contrário de OpenAI (criadora do GPT), Google (Gemini) e Anthropic (Claude), a Meta compartilhou seus avanços de IA com o mundo, na forma de modelos em código aberto.

Há poucos mais de uma semana, a empresa atualizou sua família de grandes modelos de linguagem (LLMs), chamada de Llama 3.1, o primeiro a rivalizar em performance com os modelos fechados, como o utilizado no ChatGPT. Qualquer empresa pode hospedar ou modificar os modelos — a Meta só cobra um licenciamento acima de 700 milhões de usuários.

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“O objetivo não é ter necessariamente o melhor modelo e sim o mais utilizado”, avalia Ben Thompson, analista de mercado do Stratechery. Ao disponibilizar o Llama, a Meta espera aprender com o que os desenvolvedores vão fazer, para depois criar novas aplicações em cima.

Isso será fundamental. Porque a verdade é que a Meta precisa de ideias do que fazer com a tecnologia, levando em conta o que aconteceu com a primeira aplicação com IA generativa: seus chatbots que emulam celebridades, lançados com pompa ano passado, foram desligados esta semana. Não deu certo.

Em seu lugar, a Meta disponibilizou o “AI Studio”, que permite a qualquer influenciador do Instagram criar chatbots que imitam aparência e linguagem para interagir com os seguidores. Funcionalidade parecida estará disponível até o fim do ano a donos de negócios que quiserem criar robôs de atendimento ao cliente com IA via WhatsApp. Com isso, Zuckerberg espera que a empresa vire líder em uso de inteligência artificial nos próximos meses.

Para desespero de acionistas, não há um modelo de negócios muito óbvio para a aplicação da IA pela Meta ainda, além da promessa de aumento o engajamento no Instagram, WhatsApp e Facebook. Além disso, ainda está fresca na memória de Wall Street a aposta furada no metaverso, que fez a empresa afundar bilhões e até mudar de nome.

Mas os resultados positivos na divisão de publicidade, que fizeram o faturamento crescer 22% em relação ao mesmo tri de 2023, permitem algumas aventuras. E o que parece mover Zuckerberg é o desejo de controlar o seu futuro. Por diversos momentos nos últimos anos, a Meta não pôde colocar funcionalidades extras no Instagram e Facebook porque dependia de aprovações de Apple (iOS) e Alphabet (Android). 

Se as próximas inovações serão mediadas pela inteligência artificial, como aconteceu com smartphones na última década, a Meta quer ter uma influência grande na construção desse futuro. A ver se a aposta se paga.

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“A Álgebra da Riqueza”, o livro de Galloway que vale para iniciantes ou profissionais tarimbados https://investnews.com.br/opiniao/colunistas-opiniao/a-algebra-da-riqueza-o-livro-de-galloway-que-vale-para-iniciantes-ou-profissionais-tarimbados/ Wed, 24 Jul 2024 10:50:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=602398 The Algebra of Wealth: A Simple Formula for Financial Security” é o mais novo livro (e já best-seller) de Scott Galloway, professor de Marketing da NYU Stern School of Business, empreendedor serial e autor de vários outros best-sellers nos Estados Unidos.

O livro se propõe a oferecer um guia prático de bons hábitos pessoais, profissionais e financeiros para potencializar o sucesso financeiro no longo prazo.

À primeira vista, o título pode induzir o leitor a acreditar que se trata de mais um livro de finanças, feito por um financista para financistas. Mas não é. E isso é uma excelente notícia.

Em geral, a maioria dos livros feitos por financistas (como eu) são chatos, monótonos e prolixos. Na dificuldade de expressar temas profundos de forma simples, direta e leve, deixamos de cumprir uma das missões nobres da nossa profissão: melhorar a educação financeira das pessoas.

Galloway é um craque na arte da escrita. Sua habilidade de combinar dados empíricos com narrativas pessoais e humor torna sua escrita não apenas reflexiva, mas também agradável de ler. Ele utiliza muitas analogias e exemplos do dia a dia para ilustrar conceitos complexos, o que torna as ideias do livro mais compreensíveis. Por isso, recomendo fortemente que leia sentado, com caneta ou marcador na mão. Inúmeros trechos são altamente “printáveis”, “postáveis” e compartilháveis.

A fórmula central de “The Algebra of Wealth” é “Riqueza = Foco + (Estoicismo x Tempo x Diversificação). O livro tem um capítulo dedicado a cada um desses elementos.

Em ESTOICISMO, o autor aborda como a prática dos valores estoicos (coragem, sabedoria, justiça e temperança) ajuda a alinhar o comportamento de curto prazo com os objetivos financeiros de longo prazo, promovendo hábitos saudáveis e escolhas de vida que contribuem para a construção de riqueza. Ele lembra que o capitalismo é um sistema espetacular para gerar riqueza, mas também altamente capaz de criar tentações de consumo excessivo.

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Em FOCO, o ponto forte são as dicas sobre gestão de carreira e geração de renda, enfatizando a necessidade de eliminar distrações e focar em atividades que realmente agregam valor. Comunicação é o maior ativo do mundo moderno, trabalho presencial é fundamental para acelerar o desenvolvimento profissional e fazer bom networking desde cedo irá te ajudar a criar aliados e mentores ao longo da carreira.

Sempre na pegada de criar alguma fórmula para facilitar o entendimento, vem mais uma: (Talento + Foco) -> Maestria -> Paixão. Com trabalho duro e foco em obter maestria do seu talento, a recompensa virá em forma de paixão.

Na segunda metade do livro, TEMPO e DIVERSIFICAÇÃO são abordados com temas relacionados a finanças pessoais e investimentos. A base do “Financial Security” (segurança financeira) parte de como ser eficaz controlando seu tempo (ativo mais valioso que uma pessoa tem) até como criar gatilhos mentais e regras simples para cumprir o orçamento familiar à risca.

Também são tratados vários conceitos que discutimos com nossos clientes no dia a dia de uma empresa de gestão de patrimônio: disciplina e capacidade de poupança, volatilidade do orçamento, alavancagem, organização do fluxo de caixa em buckets (categorias) e a ótica de uma carteira com objetivos de curto, médio e longo prazo.

Fiquei especialmente contente quando Galloway recomendou que as pessoas procurem um planejador financeiro CFP (Certified Financial Planner) para garantir que as decisões de investimento estejam alinhadas com os objetivos e a tolerância ao risco, mas o mais importante: alguém com quem se tenha uma relação fiduciária, em que os interesses estejam alinhados com os do investidor.

Em DIVERSIFICAÇÃO, Galloway aborda como uma carteira diversificada nos investimentos não é só fundamental para potencializar retornos, mas também uma estratégia para mitigar grandes riscos: “diversifique para maximizar o retorno, não o upside“, “risco é o preço do ganho”. Ele destaca também a importância de estar constantemente se atualizando sobre o que está acontecendo nos mercados, de controlar as emoções (um pouco de behavior finance, ou finança comportamental) e de utilizar instrumentos financeiros que minimizem o pagamento de taxas e impostos.

Talvez nesses dois capítulos da segunda metade o livro se assemelhe muito a outros livros de finanças pessoais, mas, ainda assim, dotado de uma didática incrível, ele vai te ajudar a fixar melhor alguns conceitos ou até te ajudar a compreender outros ainda não-compreendidos.

Acredito que o livro oferece grande valia para todos os tipos de interessados em investimento, desde jovens em início de carreira que buscam desenvolvimento pessoal até planejadores financeiros e educadores financeiros como eu.

Não tenho a menor dúvida que, ao chegar no Brasil, em pouco tempo o livro dividirá a prateleira dos livros de finanças mais recomendados.

[O livro “The Algebra of Wealth: A Simple Formula for Financial Security” tem previsão de lançamento no Brasil no início de agosto, pela Editora Intrínseca, sob o título “A Álgebra da Riqueza, Uma Fórmula Simples para o Sucesso“. Com 352 páginas e tradução de Antenor Savoldi Jr., o livro impresso será vendido por R$ 59,90 e o e-book por R$ 39,90.]

Renato Breia é economista, planejador financeiro CFP e sócio-fundador da Nord Wealth, onde administra o patrimônio de R$ 5 bilhões de clientes.

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A boiada passa, chega a conta e fica a pergunta: quem vai pagar?  https://investnews.com.br/opiniao/colunistas-opiniao/a-boiada-passa-chega-a-conta-e-fica-a-pergunta-quem-vai-pagar/ Mon, 03 Jun 2024 20:35:24 +0000 https://investnews.com.br/?p=584598 É famosa a frase do então Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles sobre mudanças na legislação ambiental, sob o viés de um governo negacionista, dita numa reunião ministerial em 2020: “Ir passando a boiada”.

O neoliberalismo forjou tragédias possivelmente evitáveis em vários lugares do mundo e estamos acompanhando, em tempo real, o que acontece no Rio Grande do Sul, infelizmente em proporções inéditas e gigantescas naquela região. Não há, ainda, como calcular as perdas. Pode ser que se mostre incalculável se pensarmos na dimensão humana, nas milhares de pessoas que agora estão na condição de desalojadas, refugiadas climáticas, em luto. 

A comoção é algo esperado nessas situações, assim como a mobilização popular, já tradicional nessas grandes tragédias, que costuma fazer doações, gerar e consumir conteúdo tanto em mídias tradicionais como, mais recentemente, digitais.

Enquanto as chuvas caem no Rio Grande do Sul, uma enchente solidária transborda todo tipo de ajuda até o estado. Vale lembrar que em outros desastres ambientais, a comoção, a depender da população atingida, não é tão visível e audível como tem sido no Sul, a exemplo de Mariana e Brumadinho. Quais seriam os motivos? 

O território gaúcho devastado pelas águas abriga uma população que foi, inicialmente, vulnerabilizada de forma horizontal. No entanto, pontuamos que comunidades quilombolas e tradicionais, espaços religiosos de matrizes africanas, ribeirinhos, e outras populações, principalmente as que têm conexão diferenciadas com seus territórios – e que, muitas vezes – já estavam enfrentando outras precariedades socioeconômicas – são populações que se tornam ainda mais expostas ao racismo ambiental, logo, são mais passíveis de injustiças climáticas.

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Os efeitos da passagem da boiada e a identificação de quem abriu a porteira podem até ficar em segundo plano, inicialmente. Mas, conforme as águas baixam, os destroços e omissões se tornam mais visíveis.

Em 21 de maio, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu ao governo do Rio Grande do Sul e à Assembleia Legislativa gaúcha 10 dias para se pronunciar sobre as mudanças na legislação ambiental que começaram em 2019 e, na sequência, o plenário do STF decidirá se a alteração é constitucional ou não. O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União indica a necessidade de inspeção das mudanças legislativas pela Corte. O subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado se pronunciou: “Legislações ambientais não podem ser afrouxadas em prol de supostos benefícios econômicos. De certo, as exportações do agronegócio do Rio Grande do Sul estavam em alta devido às mudanças legislativas. Contudo, qual preço disso tudo?”.

O argumento “achar culpados e culpadas não trará vidas, patrimônios e negócios de volta” não apenas é insustentável, como desonesto e imprudente. A apuração de responsabilidades é um imperativo da gestão pública. À questão da legislação, soma-se a corrida imobiliária – com apoio da gestão neoliberal – e a falta de manutenção, renovação e ação imediata do sistema de escoamento em algumas cidades, como Porto Alegre. 

Foto: Carlos Macedo/Bloomberg

PEC das Praias

No contexto de impactos ao meio ambiente está a PEC das Praias (PEC 3/2022), de autoria do ex-deputado federal Arnaldo Jordy (Cidadania-PA), que atualmente tramita no Senado Federal e, nessa casa, tem como relator o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Essa PEC prevê a transferência de propriedade de terrenos do litoral brasileiro da marinha brasileira (União) para estados, municípios e proprietários privados.

Na visão de Ana Ilda Pavão, do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais, o teor dessa PEC, no fundo, é a urbanização das orlas e os grandes empreendimentos. “Quem vai lucrar? Não somos nós. Nós só vamos perder. Essa PEC precisa ser revista. Muito tem se falado aqui, mas se esqueceram de falar da vida”, disse.

Ao promover a dilapidação de uma legislação regulatória em relação ao meio ambiente para beneficiar segmentos econômicos, como, o setor imobiliário e do agronegócio, o estado agrícola planta “progresso” para colher não se sabe exatamente o quê. Além disso, mostra-se imprudente ao lidar com mudanças climáticas como fenômenos da natureza, desconsiderando a ação humana. Afinal, a boiada que passa não é exatamente constituída de animais, mas de seres humanos e suas ações metaforizadas na fala infeliz do ex-Ministro Salles.

No momento anterior às enchentes, lucros. Mas e agora que o estado chegou a estar com 85% do seu território sob as águas? Um neoliberalismo que se ampara ideológica e politicamente no negacionismo pode ser chamado de burro, nesse contexto? Não prevenir para lucrar é inteligente em que lugar do mundo?

São perguntas difíceis que requerem respostas urgentes, assim como mudanças de paradigma e, possivelmente, nova revisão legislativa. Ainda no campo dos questionamentos difíceis, como uma gestão de viés neoliberal vai receber a ajuda do estado, já que que prega o “estado mínimo”? O “como” aqui é estratégico porque não tem muita opção. Vai ter que receber ou não vai haver reconstrução ágil e/ou viável, revelando mais um paradoxo dessa grande tragédia brasileira.

Outro ponto que precisamos destacar é que essa “boiada” passou no Sul, mas seus efeitos serão sentidos, economicamente, em todo o país. Recursos que seriam usados em outras regiões vão precisar ser realocados para mitigar os impactos no estado. O comércio exterior brasileiro sentirá os efeitos, pois o Rio Grande do Sul – só em 2023 – chegou a US$ 22,3 bilhões em exportações, um volume que impacta a economia nacional, assim como uma eventual perda de parte do montante.

Na perspectiva da agenda ESG, é o momento de redirecionar as atividades produtivas no estado a partir de bases sustentáveis, pois não são fenômenos episódicos, são recorrentes. Para que as populações e cadeias produtivas do Rio Grande do Sul não voltem a ser atingidas vai ser preciso renegar o negacionismo, tornando a gestão ambiental e de recursos hídricos basilares no planejamento. Ou seja: priorizar as políticas públicas considerando as mudanças climáticas para evitar prejuízos humanos e materiais descomunais.

Além disso, é preciso que a população se envolva na mudança, identificando representantes que tenham compromisso com as questões climáticas. Também é necessário que as empresas assimilem que as tragédias destroem negócios e atingem lucros. As mudanças climáticas não são algo do futuro e o presente do Rio Grande do Sul é a prova para quem desacreditava. Nessa linha, o atual Governo Federal empenha-se em mobilizar todos os segmentos da sociedade para garantir participação social e contribuir com a elaboração do Plano Clima Adaptação, uma política que vai elaborar a estratégia federal de adaptação à mudança do clima. 

Como disse a Nina Silva em suas redes sociais, para finalizar nossa reflexão, é preciso – a partir do compromisso com uma abordagem ESG – assumir que “estamos reconhecendo a interdependência entre as ações humanas e o meio ambiente, e assumindo a responsabilidade de proteger não apenas os lucros ou a reputação das empresas, mas também as vidas e os meios de subsistência das pessoas afetadas. Nesse sentido, a integração desses princípios é um imperativo moral que coloca as necessidades socioambientais no centro das decisões e ações empresariais e governamentais. Estamos falando sobre vidas.”

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade dos autores e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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Cadeia produtiva é pilar para estabelecer círculo virtuoso da agenda ESG https://investnews.com.br/opiniao/colunistas-opiniao/cadeia-produtiva-e-pilar-para-estabelecer-circulo-virtuoso-da-agenda-esg/ Fri, 24 May 2024 18:18:25 +0000 https://investnews.com.br/?p=576107 A noção de que a cadeia produtiva é estratégica quando estamos tratando da Agenda ESG tem crescido e dado frutos. Ao consolidar relações com fornecedores bem avaliados, além de continuamente monitorados, uma corporação protege seus investimentos e sua imagem ao mesmo tempo. Portanto, para assegurar e avançar na mitigação de riscos em relação à Agenda ESG, esses são alguns fatores a considerar seriamente. 

Em vez da palavra desconfiança, que tem emergido nesse cenário, usar criteriosamente a prática da confiança – ou seja, criar e utilizar marcos de aferição para balizar decisões em relação à cadeia produtiva. Essa é uma diretriz estratégica a ser alcançada e mantida.

Significa produzir confiança, por meios objetivos, de que um fornecedor está alinhado à agenda ESG. 

Parece óbvio, mas sabemos que nem sempre esse alinhamento é o principal critério num mundo em que redução de custos e aumento dos lucros são as linhas hegemônicas de atuação. No entanto, também verificamos: à medida que as pautas ligadas à sustentabilidade ganham notoriedade e espaço, também circulam imagens e discursos que nem sempre correspondem à realidade.

Os excessos e distorções discursivas criam bolhas de desconfiança em torno da agenda ESG, como tratamos nesta coluna recentemente. Como combater esses excessos? Um caminho que podemos vislumbrar e pavimentar é o da construção da confiança e internalização das práticas, dando robustez quando se trata de governança.

Nessa mesma linha, é oportuno implementar os meios para monitorar de forma contínua, desde antes das contratações, cada etapa dos processos produtivos e elos da cadeia de suprimentos. Essa construção interna de confiança, capilarizada para cada ponto da cadeia, é a meta para a solidez que vai perpassar um discurso que se sustenta.

A blindagem da cadeia produtiva por meio de objetividade na prestação de contas; cultura organizacional baseada na equidade, mecanismos de transparência efetivos para tornar informações relevantes disponíveis e acessíveis. Tudo isso devidamente contemplado nas metas evita impactos negativos.

Temos exemplos de como a expansão e a capilarização de boas práticas é necessária. Uma reportagem publicada no Estadão (18/03), por exemplo, mostra como grandes empresas brasileiras se movimentam para garantir a expansão de boas práticas também para os seus fornecedores.

A reportagem traz dados e declarações de Vale, Klabin, Gerdau e Suzano, que demonstram como essas corporações estão apostando, por exemplo, na criação de treinamentos para aprimorar seus fornecedores nesse sentido.

É relevante observar que as motivações são pragmáticas, objetivas. Trata-se de ampliar a receptividade no mercado externo, em especial, a Europa, além de evitar multas e outros embargos em operações internacionais.

A reportagem também destaca que as boas práticas em toda a cadeia podem facilitar acesso a taxas de juros melhores, prazos mais extensos, assim como acesso a linhas de crédito específicas, por exemplo, para programas de sustentabilidade ambiental.

A Gerdau tem um conjunto de iniciativas, informadas na reportagem, que abrange muitos pontos da pauta ESG de forma objetiva para sua cadeia de fornecedores, por meio do Programa Inspire. Desde 2022, a companhia estabeleceu novas cláusulas ESG para contratações a serem feitas no Brasil.

Além disso, há incentivo para que a pauta seja parte da agenda desses fornecedores, para que seja criado programa ou política de diversidade, equidade salarial, para que haja atuação na contratação e retenção de pessoas negras, mulheres, pessoas com deficiência e LGBTI+.

Outro exemplo é a Vale, que lançou em 2020 o programa Partilhar, por meio do qual a companhia tem  incentivado a cadeia de fornecedores para que contribua com o desenvolvimento sustentável das regiões onde atua. Mais de 280 fornecedores da mineradora aderiram ao programa.

*As opiniões dos colunistas não representam necessariamente a posição do InvestNews

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A transparência precisa ser o elemento central quando se trata de agenda ESG https://investnews.com.br/opiniao/colunistas-opiniao/a-transparencia-precisa-ser-o-elemento-central-quando-se-trata-de-agenda-esg/ Fri, 03 May 2024 21:33:25 +0000 https://investnews.com.br/?p=576103 As  práticas requeridas pela sigla ESG, com todas as letras que a compõem, assim como o devido monitoramento de resultados qualitativos e quantitativos correspondentes, formam um conjunto que precisa estar centralizado e baseado em medidas de transparência.

Muitos sinais de alerta para a crise em torno da agenda ESG, principalmente fora do Brasil, vêm a partir de questionamentos relacionados com transparência. 

Embora a sigla tenha atravessado os últimos anos em alta, mesmo sem dispor coletivamente de parâmetros comuns para aferição de resultados, chegou o momento em que a falta de unidade de critérios de avaliação afeta o viés de crescimento da Agenda ESG, representando um cenário de inflexão – seja pela não-universalidade das métricas, a realidade mais comum, ou pela ausência de índices públicos para norteá-las.

Além disso, emergem debates sobre a politização de temas da pauta ESG. Esse processo constante de discussão a partir de um prisma político é um fator que já afasta segmentos do mercado e coloca em foco algumas fragilidades.

Vale ressaltar que, no primeiro semestre de 2022, o mercado de investimentos começou a ser impactado por um relatório de engajamento da BlackRock, a maior gestora de fundos do planeta, que anunciou a redução de apoio para propostas apresentadas por empresas em temas da pauta ESG, especialmente em relação ao pilar Ambiental. 

A repercussão prossegue. Até 2022, Larry Fink, CEO da BlackRock, sinalizava para critérios de alinhamento e adesão a tratativas ambientais, sociais e de governança como necessários para seus investimentos. Esse recálculo de rota, que está ainda mais consolidado um ano depois, vem na afirmação do mesmo CEO, já em meados de 2023, sobre abandonar o uso do termo ESG, sob a justificativa de que há “politização do tema”.

Sabemos bem que o problema não é o termo ou seu uso, mas a suspeição que se coloca sobre resultados, métricas utilizadas, a falta de transparência na escolha e aplicação de critérios de mensuração.

A própria Black Rock reforça que deixar de usar o termo não significa o abandono total dos critérios anteriores, pois afirma que a “gestora continuará conversando com as empresas nas quais têm participação sobre descarbonização, governança corporativa e questões sociais a serem abordadas”. 

Nos últimos meses, em termos de desempenho, se apresentam dados negativos. Efetivamente, os investimentos em fundos ESG estão recuando nos Estados Unidos, conforme constata numa reportagem da CNN americana, republicada no site da sucursal brasileira, em 23 de outubro de 2023.

“Nos EUA, os ativos sob gestão em fundos ESG diminuíram de US$ 339 bilhões (cerca de R$ 1,706 trilhão) no segundo trimestre para US$ 315 bilhões (R$ 1,585 trilhão) no final de setembro”, diz a publicação.

Nessa mesma matéria, Robert Jenkins, chefe global de pesquisa da Lipper (uma fornecedora de dados financeiros) também contesta o uso do termo, além de revelar o declínio de fluxos e ativos sob gestão, em relação ao investimento em ESG. Novamente é reforçada a visão de que o conceito não funciona, as medições não são relevantes para análise em relação aos investimentos e o que deve predominar é “pensar no investimento responsável em um sentido mais amplo.”

A inflexão traz os sinais de crise e justificativas de que a “politização” do termo ESG está no contexto identificado como ativismo. Desse modo, aparecem alertas de narrativas estarem se sobrepondo às realidades, tanto no que diz respeito ao bom desempenho e consequente valorização e lucratividade, quanto aos reais valores agregados nos processos, aos concretos impactos sociais, ambientais e de governança obtidos. 

A questão também passa pelas denúncias de “greenwashing” para aumentar classificações ESG em divulgações públicas e, novamente, fica explícito que é preciso implementar e /ou reorientar as ações a partir da transparência. Além dessa dimensão que deveria ser transversal, a transparência também traz credibilidade, revela eficiência e compromisso.

Além da transparência de resultados, cada vez mais cresce o debate sobre índices, métricas, meios de medição e aferição que sejam universalizáveis. Ao final, poder recorrer a ferramentas que já foram testadas, além de avaliar a aplicação para resolver questões semelhantes, pode ajudar a termos resultados que possam ser comparados.

Certamente, a partir de critérios similares deve ser possível (e torna-se imprescindível) compartilhar o que é realizado, o quanto a empresa é bem-sucedida ou não, para que caminhos similares possam ser seguidos. E para que se alcancem metas confiáveis, responsáveis em todas as três letras: E, S e G

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Quem perde quando mulheres negras chegam aos espaços de poder? https://investnews.com.br/opiniao/colunistas-opiniao/quem-perde-quando-mulheres-negras-chegam-aos-espacos-de-poder/ Sun, 24 Mar 2024 21:19:43 +0000 https://investnews.com.br/?p=565385 A presença feminina em cargos de diretoria estatutária e em conselhos de administração ainda está abaixo do desejável na maioria das empresas brasileiras. Ilustrando esse fato, temos o estudo “Mulheres em Ações”, publicado em dezembro de 2022 pela B3, que se baseou em informações públicas prestadas pelas companhias em documentos regulatórios.

Esse mapeamento da evolução da diversidade de gênero no mercado brasileiro retrata uma realidade que já passou da hora de ser transformada.

Segundo o “Mulheres em Ação”, “de cada 100 empresas com ações negociadas em bolsa no Brasil, 61 não têm mulheres em cargos de diretoria estatutária, e 37 não têm participação feminina no conselho de administração, embora seja possível observar um aumento da presença de mulheres nos CAs no último ano.”

A pesquisa Women in Business, da auditoria Grant Thornton, ouviu cerca de 5 mil executivos e executivas em 28 países e os dados não são positivos. As mulheres em cargos no alto escalão em empresas brasileiras médias eram 38% em 2022, no ano seguinte esse índice passou para 39%, só um ponto percentual a mais de um ano para o outro. O estudo registrou a queda da participação de mulheres em cargos importantes no Brasil, era 35% em 2022, e em 2023 eram apenas 31% em postos de CEO.

Neste cenário do mundo corporativo, que já é desalentador, quando fazemos o recorte de gênero e raça a desigualdade é gritante. Identificar a sub-presença histórica em espaços de poder e decisão, é revelar um gargalo injusto na prática, apesar das mudanças de discurso e da própria agenda ESG ter avançado como tema urgente nas últimas décadas.

Esse alerta está dado e a situação precisa ser encarada de frente por setores do mercado e da sociedade que têm compromisso com o combate à desigualdade de gênero e raça, além da promoção da diversidade. 

Em março de 2023, o Women On Board (WOB) – que certifica empresas que possuem pelo menos duas mulheres em conselhos; e o Conselheira 101 – programa de incentivo à presença de mulheres negras em conselhos de administração – manifestaram-se sobre resultado de estudo realizado pelo ACI Institute, núcleo de pesquisas em governança corporativa da KPMG. 

Nessa pesquisa, a presença de mulheres negras correspondia a um traço percentual em conselhos de administração de empresas abertas brasileiras. A contundência desse resultado é reafirmada publicamente pelo WOB e Conselheira 101: “Traço. Não é 1%. Não é 2%. Não é 3%. É traço. Em um país em que 25% da força de trabalho é formada por mulheres negras.”

Gargalo

O absurdo concreto desse gargalo é ressaltado pela fundadora do Conselheira 101, Jandaraci Araújo. “Correspondemos a 28% da população brasileira, somos a maioria da maioria, visto que mulheres são 52% da população. No entanto, não estamos representadas nos espaços de liderança de forma equânime, seja nas organizações privadas ou públicas”, destacou ela em março de 2023, em declaração veiculada no jornal O Globo.

É fundamental ressaltar que existem mulheres negras prontas e capacitadas para ocuparem esses espaços, sem desculpas para a argumentações que se refiram a não haver o perfil no mercado. E essa busca por qualificação faz parte de ações individuais e coletivas, como o próprio Conselheira 101, responsável pela formação de dezenas de mulheres negras para atuarem em conselhos, desde 2020, ao ser criado por um coletivo de mulheres. Apoiado pela KPMG e Women Corporate Directors Foundation, o programa já formou 67 executivas, e destas quase a metade já está atuando em conselhos de administração, consultivos e comitês. 

Quem perde quando as mulheres negras chegam aos espaços de poder?

O status quo que valida a supremacia do homem branco e sua forma de estar e agir. Dito isso, precisamos também reafirmar que a diversidade não é uma concessão e, sim, um grande fator de contribuições, além de promoção da igualdade. Um conselho de administração que tenha representações de diversos segmentos da sociedade é um espaço potente para geração de riquezas econômicas, financeiras e sociais, exatamente por colocar na mesma mesa – em contraposição, confronto ou convergência – diferentes visões de mundo, do mercado e da sociedade. 

Esse diferencial é confirmado por uma mulher experiente nesses espaços, a Liliane Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós. Atualmente, ela é uma das poucas mulheres negras que contrariam as estatísticas que apresentamos, pois atua como conselheira deliberativa do Instituto Tomie Ohtake, conselheira consultiva de diversidade da Ambev e do Pacto de Promoção da Equidade Racial.

Liliane Rocha, CEO da Gestão Kairós e Autora do Livro Como ser Uma liderança Inclusiva Foto: Myla Dutra

Liliane Rocha afirma, em artigo publicado no Universa Uol (novembro de 2023), que “cada mulher negra em conselho revoluciona o topo da tomada de decisão. Além de serem profissionais, intelectuais e especialistas gabaritadas para ali estarem, levam consigo percepção e vivência social que por muitos anos não existiam nas reuniões e conversas dos conselhos, uma vez que a perspectiva de diversidade e inclusão, ESG, igualdade e equidade são inerentes às suas vivências em sociedade”. 

Quem ganha com as mulheres negras nesse espaço é toda a sociedade. Ao estar nesses lugares, sua presença é um fator poderoso para minar o pacto da branquitude, como nos alerta Cida Bento: “A branquitude se expressa em uma repetição ao longo da história, de lugares de privilégio assegurados para as pessoas brancas, mantidos e transmitidos para as novas gerações”.

As mulheres negras são as propulsoras da mudança, ao avançar, elas são capazes de mudar as estruturas, em março e o ano inteiro. Estamos com elas!

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O G de ‘governança’ pode ser a letra da vez na cartilha da agenda ESG https://investnews.com.br/opiniao/colunistas-opiniao/o-g-de-governanca-pode-ser-a-letra-da-vez-na-cartilha-da-agenda-esg/ Tue, 13 Feb 2024 09:15:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=554611 A Governança emerge nesse início de 2024 com uma visibilidade maior, uma consequência relacionada a algumas experiências negativas que se destacaram no último ano. Esse destaque do G de ESG vem, segundo especialistas na esteira da repercussão do caso Americanas e de denúncias de trabalho análogo à escravidão. Da tríade de elementos que formam a agenda ESG, a Governança se caracteriza pela complexidade, pois envolve ações internas e externas, monitoramento constante, incorporação efetiva de práticas e avaliação contínua. 

O mundo corporativo foi pego no pulo, literalmente, com a reverberação de casos emblemáticos, forçando um recálculo de rota. A menor importância dada à Governança pode ser – realmente – uma falha que impacta tanto o S de Social como o A de Ambiental, que têm tido mais destaque no momento de divulgar as ações, por terem iniciativas mais voltadas ao público externo às corporações.

No entanto, sem uma sólida governança, formada e realizada com práticas internalizadas e postas em prática, os outros pilares não se sustentam por muito tempo e um conjunto de boas estratégias, sem um de seus pilares bem firmados, pode cair por terra e, alguns casos vistos e documentados amplamente, de forma muito danosa à imagem e saúde financeira.

A “Panorama ESG 2023”, realizada pelo ManpowerGroup – líder global em soluções de recursos humanos, teve como objetivo entender qual o cenário atual de ações ESG no mundo. Nesse estudo temos respostas de mais de 40 mil empregadores, ouvidos em 41 países e territórios – incluindo o Brasil. A pesquisa trouxe dados que lastreiam o alerta em relação ao “esquecimento” da governança, em comparação aos outros dois elementos do trio. 

Esse estudo revelou que 42% das organizações têm o pilar Social como foco da agenda ESG; em seguida, com 26%, está a responsabilidade ambiental, enquanto apenas 14% focam na governança. O restante respondeu que não tem um programa de sustentabilidade ou ESG (12%), e finalmente um pequeno grupo respondeu que não sabe (6%).

Imagem de bonecos de madeira

Ao analisar essas respostas, vale destacar também a análise de Wilma Dal ColDiretora de Gestão Estratégica de Pessoas no ManpowerGroup Brasil sobre os resultados: “Quando as diretrizes para tomadas de decisão partem da ética e do pressuposto de considerar todos os envolvidos equitativamente, há muito mais impulso para políticas afirmativas, de inclusão e de preservação ambiental. Cumprir as obrigações legais, contratar parceiros confiáveis e garantir condições de trabalho saudáveis e justas são fatores indiscutíveis no exercício da integridade enquanto empregadores. ”

O todo como fator fundamental, em relação à agenda ESG, é algo que temos sempre ressaltado aqui e encontramos convergência tanto na pesquisa como na análise do Manpowergroup. A importância do movimento em cadeia, da transversalização das práticas, em especial ética e transparência, o aperfeiçoamento constante, observando regras, universalizando práticas, efetivando uma cultura da empresa, são sinais de uma boa governança que acaba por conduzir e impactar positivamente as ações de responsabilidade ambiental e social.

Numa entrevista ao Estadão, veiculada em 25 de dezembro de 2023, o professor de direito comercial da USP e sócio do escritório PGLaw, da área de governança corporativa, Carlos Portugal Gouvêa, ainda alerta que “não haverá mudanças significativas em 2024, mesmo após os escândalos envolvendo o setor”.

Entre os vários especialistas ouvidos nessa matéria, ele traz essa visão negativa e contundente: “Não acredito que vá mudar, como não mudou nos últimos anos. O mercado brasileiro é visto como de risco. A baixa qualidade de governança corporativa no Brasil já está precificada. Para haver alterações, de fato, é preciso modificar o sistema como outros países em desenvolvimento, como a índia e a Colômbia, têm feito”.

Vamos destacar dados de um outro estudo, o ESG no Ibovespa PwC Brasil – 2023, que indicam a necessidade de diversidade nestes espaços. O Estudo da Ibovespa alerta que a “a Nasdaq, uma das mais importantes bolsas do mundo, passará a exigir a divulgação de estatísticas relacionadas à diversidade no Conselho de Administração das empresas listadas.

Será obrigatória a nomeação de dois conselheiros de grupos minoritários, no mínimo — uma pessoa do gênero feminino e uma da comunidade LGBTQ+ ou de alguma outra minoria. ”

Essa mesma pesquisa informa sobre ações similares no Brasil, com a inclusão de regras de diversidade na composição da Administração para as empresas listadas, pela B3: estas organizações devem “eleger pelo menos uma mulher e um membro da comunidade subrepresentada (pessoa preta ou parda, com deficiência ou integrante da comunidade LGBTQ+) como membro titular do Conselho de Administração ou da diretoria estatutária a partir de 2025. ”

O que o professor Gouvêa traz como argumento na matéria do Estadão é um fato: “Fora do Brasil, o G é muito focado em anticorrupção, o que é um tema tóxico no Brasil. É algo que tem que ser retomado. ” É interessante essa visão pois ela tem muitas camadas, ao pensarmos na polissemia do termo corrupção. Tanto pode ser vista como algo apenas relacionado a dinheiro, como algo maior.

Quando temos relatórios de ESG confusos ou pouco objetivos, ótimas políticas de equidade, ações afirmativas, inclusão que não saem do papel, para dar apenas alguns exemplos, também não seria um tipo de corrupção? Quando o discurso alinhado à agenda não é verificável ou concreto, mas continua ecoando publicamente para agregar valor, não é um tipo de fraude?

Sabemos as respostas e a partir desses questionamentos e informações que identificamos o grande gargalo da governança no país. Mostro o que é bom e bonito da porta para fora e escondo algumas sujeirinhas aqui no tapete dos escritórios: isso se sustenta?

Nesse cenário de análise, vários especialistas apontaram o papel estratégico dos Conselhos de Administração para fortalecer a governança. Faz todo sentido quando o professor Carlos Portugal Gouvêa aponta que a mudança não deve chegar tão rápido, e aqui acrescentamos que, enquanto as altas lideranças e Conselhos continuarem abrigando as mesmas pessoas, o que pode mudar? 

Não se faz mudança e boa governança sem mudar as pecinhas do jogo.

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Agenda ESG impactará negócios, vidas e investimentos em 2024 https://investnews.com.br/opiniao/colunistas-opiniao/agenda-esg-impactara-negocios-vidas-e-investimentos-em-2024/ Fri, 29 Dec 2023 13:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=544782 As mudanças climáticas são um dos fatores mais palpáveis para a priorização da Agenda ESG. Nos últimos anos, os prejuízos sociais e econômicos advindos de desastres ambientais, temperaturas extremas, acenderam o sinal vermelho e se refletem no mercado. Em 2023, tanto no Brasil como em outros países, populações e patrimônios foram vitimados por enchentes, incêndios, ondas de calor e frio, entre outras situações que tornaram a preservação do meio ambiente um tema ainda mais urgente.

Sobre esse contexto, o estudo Global Catastrophe Recap, feito pela seguradora Aon, revela que entre os meses de janeiro a setembro de 2023 ocorreram 75 mil mortes, além de perdas econômicas avaliadas em US$ 295 bilhões. Esse passivo humano e financeiro é, de acordo com o estudo, um resultado direto de eventos climáticos destrutivos. 

O mercado corporativo brasileiro está ciente da relevância de levar e conta e atuar para redução dos impactos das mudanças climáticas sobre pessoas e economias, assim como o atual governo federal, os grandes veículos de comunicação e a sociedade, marcadamente em manifestações nas redes sociais, diante da realidade dos últimos meses. Podemos destacar os períodos prolongados de ondas de calor em vários estados e as enchentes no sul do país, por exemplo.

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O “Panorama  2024” da Ancham Brasil traz respostas de 694 executivos do país em relação a quais tendência mais vão impactar os negócios em 2024. Nessa pesquisa, 51% dos profissionais questionados indicaram a Agenda ESG como uma dessas tendências, apontando a necessidade de implantação de medidas que promovam melhorias ao meio ambiente, no aspecto social e na governança das empresas.

Nesse estudo, estão indicadas as 10 principais tendências que devem concentrar a atenção das empresas em 2024. A tecnologia, a inovação, a sustentabilidade, o uso de recursos digitais moldando o ambiente de trabalho se refletem nos resultados.

Pela ordem de relevância, as tendências são: IA (1º), ESG (2º), Produtos e Serviços digitais (3º), Big Data (4º), Trabalho Híbrido (5º), Energia Renovável (6º), Cibersegurança (7º), Internet das Coisas (8º), Computação em nuvem (9º) e Economia circular (10º). Ressaltamos que sete delas se relacionam com a transformação digital e três têm vínculos com a agenda verde.

O “Panoram Ancham” revela consciência do valor estratégico da Agenda ESG, que segue em 2024 no mesmo 2º lugar em que se destacou em 2023, junto com a importância da tecnologia.  “Ao mesmo tempo em que as empresas buscam incorporar os benefícios de inovações tecnológicas como a inteligência artificial e Big Data, elas têm evoluído em suas responsabilidades com o meio ambiente e com a sociedade. Esses fatores serão decisivos para o êxito, a relevância e a própria existência dos negócios”, resumiu o CEO da Amcham, Abrão Neto.

Também no mercado de investimentos se confirma a ampliação da busca por empresas que tenham responsabilidade ambiental, cuidado social e governança corporativa como parte de seus valores e metas. Segundo dados Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), houve um aumento de 74% no número de fundos de ações que se enquadram na temática sustentabilidade e de governança corporativa entre 2008 a março de 2022.

Esse crescimento que se firmou em 2023 é uma realidade para 2024, com a adoção de estratégias para capacitar quem opera o mercado para identificar oportunidades. Nessa seara, a Anbima tem atuado para criar soluções. Por exemplo, em julho de 2023, a Associação  lançou o ANBIMA Edu, um aplicativo educacional, gratuito, que visa qualificar os profissionais que trabalham no mercado financeiro ou buscam colocação, a partir de conteúdos que incluem Investimento ESG, ESG no mercado financeiro, Cálculo Financeiro, Criptoeconomia no Mercado Financeiro, entre outros.

“Ao longo do tempo, vimos a sustentabilidade deixar de ser apenas uma área insular dentro das empresas para ganhar corpo com estratégias, governança, objetivos, métricas e políticas corporativas para acompanhar as regulações emergentes. Hoje, está muito claro que a sustentabilidade precisa permear toda a companhia porque não se trata mais de escolher se quer, ou não, ser sustentável”, diz Marcelo Billi, head de Sustentabilidade, Inovação e Educação da Anbima.

O deslocamento da pauta ESG de um lugar marginal para o centro, tornando-se mais hegemônica nos processos decisórios de negócios, investimentos, governos, processos eleitorais e políticos, vai tornando-se realidade. Nesse sentido, a padronização de informações relacionadas com a agenda ESG precisa avançar para que se aumente a confiança do mercado, de acionistas, de quem integra as cadeias produtivas e está no dia a dia das corporações. O investimento precisa ter marcadores objetivos e ser mensurado continuamente para que se recalcule rotas, quando necessário,  ou se amplie o que está dando certo.

Os processos de sustentabilidade, responsabilidade social e governança devem integrar as culturas organizacionais. É preciso melhorar a atuação a partir da agenda ESG em todas as etapas, do fornecimento da matéria prima, passando pela distribuição e comercialização. A origem dos produtos, assim as condições trabalhistas e práticas ambientais de fornecedores precisa atender aos padrões éticos e sustentáveis para que se garanta a conformidade com os princípios. O cuidado de ponta a ponta aumenta o grau de confiança e se reflete em confiabilidade dentro das empresas, no mercado de investimentos, na opinião de quem forma opinião e da sociedade em geral.

Finalmente, para 2024, a recomendação é atenção com o todo em relação à agenda ESG. Esse olhar alerta deve existir em todas as áreas de negócio e/ou para quem está na posição de orientar ou realizar investimentos. Para isso, recomenda-se avaliar, se informar, além de manter a atenção sobre as cadeias produtivas. O olhar acurado aqui é para estar não apenas sobre o que se obtém como produto final, mas sobre cada processo envolvido, uma observação contínua que é urgente nesse contexto. 

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.

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O empoderamento negro na prática e a mudança construída coletivamente https://investnews.com.br/opiniao/colunistas-opiniao/o-empoderamento-negro-na-pratica-e-a-mudanca-construida-coletivamente/ Fri, 01 Dec 2023 09:15:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=542053 A falta de equidade no mercado corporativo é amplamente conhecida e começa a ser documentada de forma sistemática, revelando abismos de presença em cargos de liderança, na cadeia produtiva e de oportunidades de investimento. Ao considerar dados que demonstram o quanto há para se avançar, vem a oportunidade de implementar mudanças. Nesse sentido, a sociedade civil, governos e formadores de opinião, contribuem para potencializar a agenda ESG, em especial no Brasil, onde temos um passivo de colonização, discriminação e massiva desigualdade de raça.

Os avanços da legislação antirracista no Brasil, conquista indiscutível da luta centenária da população negra e movimentos negros por igualdade e justiça, são concretas e impactam na sociedade, ainda que lentamente. Para além de novembro, o trabalho de formiguinha para reduzir desigualdades e construir coletivamente uma democracia real é um imperativo social, moral e jurídico.

Essas premissas impulsionam ações que buscam empoderar a população negra, tanto como parte integrante do ESG quanto como resposta às demandas sociopolíticas dessa parcela da população. Não estamos mais num momento histórico em que se pode levar a sério questionamentos de que o racismo não existe, ou se incide ou não sobre todos os espaços, esse já é um fato reconhecido e demonstrado, agora o momento é de ação para mudar essa realidade.

mãos negras sobre teclado de notebook com gráficos financiros na tela do computador.
Por biasciolialessandro

Nos últimos anos, iniciativas em prol do empoderamento negro já foram criadas levando em conta essa realidade, se distanciando do mito da democracia racial, que impedia encarar o racismo de frente e sanar suas consequências. Aqui, temos orgulho sem disfarces de fazer parte dessa vanguarda no mercado corporativo, e aproveitamos o Novembro Negro para sermos negros e orgulhosos, sim, por que não? O tempo de humildade e humilhação forçada precisa – definitivamente – ficar para trás.

É para frente que andamos, por exemplo, ao convocar para a participação no “MBM Inovahack: Inovação, ESG e Impacto!”. E andamos para o futuro, sem esquecer as lições do passado recente, mas atuando sobre esse passivo ativamente, jogando a pá de cal na negação do racismo, lidando diretamente para reverter seu legado nefasto de escassez seletiva. 

Iniciativas

Grandes organizações não-negras, a exemplo do Google for Startups, por meio de iniciativas como Black Founders Fund Brasil, também reconhecem essa potencialidade – e a necessidade de mudança social – e investe recursos financeiros, sem qualquer contrapartida ou participação societária, resultando em apoio prático para ajudar empreendedores negros e negras a construírem e expandir negócios.

A Potencia Ventures é outra organização global atuando no país, com a expertise de pioneira de venture capital focada em investimentos de impacto. Fundada há vinte anos, quando impacto social e ESG não eram prioridades nas agendas globais, abriu caminhos para essa visão. Em  2022, a empresa lançou um programa no Brasil em que selecionou 20 startups e, durante este ano, essas empresas acessam mentorias e trocas de experiências com empreendedores, investidores e executivos.

Segundo a Potencia Ventures, 100% dessas startups tem cofundadora mulher, 75% têm um cofundador preto ou pardo.  Ao final do programa, 5 destas empresas receberão investimentos a partir de 100 mil dólares, a depender da necessidade da startup. 

Outra iniciativa que destacamos é o MOVER – Movimento pela Equidade Racial, que reúne 49 empresas atuantes no Brasil, que empregam juntas 1,3 milhão de colaboradores e que realizam um trabalho impactante. As ações incluem distribuição de bolsas, atividades de formação, capacitação, divulgação de artigos, mobilização interna nas organizações em prol do empoderamento negro e de construção da equidade. O MOVER descreve: “Nosso trabalho inclui o compartilhamento de boas práticas e aceleração dos processos já em curso nas empresas, além do investimento social coletivo voltado a criação de impacto positivo na educação, geração de emprego e na conscientização da sociedade quanto ao racismo”.

Ao dar prioridade a grupos raciais minorizados em grandes empreendimentos, movimentos de pessoas negras e não-negras contribuem para a promoção da igualdade racial num nicho em que predomina o estereótipo branco, nascido rico, com lastro social e financeiro, como dizem nas redes: a cara do privilégio.

Mudar a cara do mercado de investimentos e das grandes organizações, mudar o lugar onde a pessoa negra atua nesses espaços, também contribui para transformar e democratizar a sociedade. Assim como nós, coletivamente, por meio de legislação e pressão social, mudamos a cara das universidades brasileiras, após décadas da lei de Cotas. O país viu essa mudança acontecer e trazer para o mercado de trabalho, aeroportos, veículos de jornalismo, governos, parlamento, uma leva de gente com a cara do Brasil que os dados estatísticos indicam como maioria da população. Esse é o futuro pelo qual trabalhamos e queremos ver o mais breve possível.

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O papel do BNDES para a estratégia de sustentabilidade empresarial https://investnews.com.br/opiniao/colunistas-opiniao/o-papel-do-bndes-para-a-estrategia-de-sustentabilidade-empresarial/ Fri, 27 Oct 2023 11:47:50 +0000 https://investnews.com.br/?p=537769 O debate sobre a responsabilidade ambiental e social das empresas nunca foi tão relevante quanto agora. No Brasil, assim como em outros países, a crise da covid-19 trouxe à tona a necessidade de apoiar empresas, especialmente as PMEs, em momentos difíceis. Entretanto, precisamos abordar questões importantes: a gestão de curto prazo e as contrapartidas ambientais para empresas que gozam de fomento e contratos com entes públicos.

Você deve lembrar que muitas pequenas e médias empresas passaram por dificuldades durante a pandemia, mas é surpreendente que algumas delas não tenham sido capazes de garantir um fluxo de caixa para sobreviver por apenas três meses ou que grandes corporações, que faturam bilhões por trimestre, tenham implementado lay offs. Isso revela uma gestão voltada apenas para o lucro de curto prazo, com pouca preocupação com a preservação de capital, no das PMEs, e total falta de sensibilidade para a situação de seus colaboradores.

Hexágono com conceito ESG

Com a perspectiva de décadas incertas, relacionadas tanto à saúde global quanto às mudanças climáticas, é essencial que as empresas, principalmente as brasileiras, comecem a incorporar práticas de gestão que garantam sua resiliência e condições dignas a seus colaboradores em momentos de crise.

Outra questão fundamental é a imposição de contrapartidas ambientais para empresas que possuam contratos ou recebam apoio de entes públicos, em especial do BNDES. Países como França e Canadá já estão adotando essa abordagem, exigindo melhorias significativas no desempenho ambiental em troca de auxílio financeiro. Por exemplo, na França, o apoio dado à Air France derivou no compromisso em prover melhorias ambientais significativas, tais como: baixar para metade as emissões de CO2 por passageiro até 2030, usar pelo menos 2% de fuel provindo de fontes mais sustentáveis até 2025, reduzir a concorrência com o transporte ferroviário, não podendo mais vender bilhetes a um preço mais barato do que o trem quando a viagem durar menos de 2,5 horas.

No Canadá, as empresas que receberam ajuda estatal são obrigadas a reportar como estão combatendo as alterações climáticas usando as recomendações da Task Force Force on Climate-related Financial Disclosures do Financial Stability Board, sendo também obrigadas a reportar como é que as suas operações futuras irão apoiar os objetivos ambientais e de sustentabilidade do país.

No Brasil, essa abordagem também faz sentido. As empresas que recebem apoio devem ser obrigadas a aumentar sua eficiência energética, aumentar participação de fontes de energia renovável em sua matriz energética, reduzir resíduos e consumo de matérias-primas virgens. Isso pode exigir mais capital, que poderia ser fornecido por bancos de fomento regionais, em parceria com o BNDES, oferecendo empréstimos pacientes, com pagamento vinculado às economias de energia alcançadas.

Crédito: Adobe Stock

Essa abordagem demandaria simplificação burocrática e uma mudança cultural, mas teria um impacto positivo significativo nos objetivos ambientais do Brasil e promoveria o desenvolvimento de setores relacionados à eficiência energética e energias renováveis, nos tornando um case de economia Verde.

Além disso, todas as empresas que possuem relações com instituições públicas, independentemente de seu tamanho, deveriam ser obrigadas a relatar seu compromisso com os objetivos ambientais do país, detalhando a porcentagem de suas vendas, despesas operacionais e investimentos que são “verdes”.

O BNDES precisa desempenhar um papel crucial nessa transformação, apoiando empresas na transição para práticas mais sustentáveis e incentivando a responsabilidade corporativa em relação ao meio ambiente e à sociedade. A transparência e a responsabilidade ambiental não são apenas desejáveis, mas também necessárias para um Brasil mais resiliente e sustentável.

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