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PIB, IDH e ESG: uma sopa de letrinhas que ainda deixa o povo com fome
O incrível paradoxo de como possuir práticas modernas de ESG, contempladas na legislação, e não melhorar a performance no IDH, mesmo com o PIB crescendo
Melhoras e pioras de índices macroeconômicos são divulgados constantemente na mídia geral e especializada. Para o bem e para o mal, os efeitos desses índices nem sempre chegam à maioria da população imediatamente. Na sopa de letrinhas do mercado, vamos começar destacando dois desses macrodados que afetam muito nossa vida e estão na ordem do dia por ter resultados recentes divulgados, o PIB e o IDH.
O Produto Interno Bruto (PIB) mensura quanto um país produz de riquezas tomando como base o todo de suas atividades econômicas. Toda a produção, consumo, seja de forma direta ou indireta são contabilizadas na construção desse índice que traz as informações de como está o mercado nacional, comparando com o ano anterior e com resultados de outros anos.
É usual, em relação ao PIB, ser uma baliza em relação a gastos públicos. Os governos de países fazem uso do índice para medir quais percentuais de investimentos são ou serão destinados a investimentos nos diversos setores, como saúde, educação, infraestrutura, por exemplo. Onde está frágil, ou forte, a atividade econômica, para poder fortalecer – principalmente – onde se faz necessário.
Especialistas também ressaltam a importância de distinguir entre PIB e PIB per capita (PIB por pessoa) por que esse último é que indica quanto dessa riqueza cada pessoa teria do total produzido pelo país. Para chegar a esse dado, o PIB é dividido pelo número de habitantes e pode ser usado para medir o padrão de vida. No entanto, como nessa conta do PIB per capita a desigualdade de renda não é considerada, muitos que pesquisam nessa área optam por utilizar o Índice de Desenvolvimento Humano, que é calculado a partir de três critérios: saúde, educação, padrão de vida.
Como estamos, enquanto país, nesse momento? Para além dos índices econômicos, o que persiste é uma sensação de mal estar geral, mas vamos voltar aos números e siglas que está na nossa sopa de letrinhas. Embora o cenário indique melhoras em relação ao PIB, conforme divulgado no início de setembro de 2022, o índice está em alta. Há um crescimento de 1,2% da economia brasileira no segundo trimestre de 2022, comparando com o primeiro. Em relação a 2021, temos uma alta de 3,2%, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Também na primeira semana de setembro, foi divulgado um relatório da ONU sobre o IDH que revelou a queda de três posições do Brasil, ao se comparar com 2021. Hoje estamos em 87º lugar no índice, que analisa todos os países. É preciso ressaltar que o mesmo documento demonstra que a queda foi global e o desenvolvimento humano global em 2021 regrediu para os níveis de 2016, após cair globalmente por dois anos consecutivos.
Mesmo com a economia melhorando, o impacto negativo no bem-estar das pessoas não é dissipado. O que acontece, então? Temos uma população que segue em crescimento, os postos de trabalho que estão sendo gerados são majoritariamente mal remunerados, o salário-mínimo não tem acompanhado a inflação, e – finalmente – a renda continua concentrada. O IDH cai mesmo se o PIB cresce e essa sopa de letrinhas não mata a fome do povo porque a riqueza produzida não chega para todos os pratos.
Como as políticas de ESG podem mudar esse panorama?
Quando empresas diversas assumem que, entre as suas entregas comerciais, passa a ser fundamental impactar positivamente comunidades, governos, além de entregas concretas do S de Social da sigla. A Aegea, por exemplo, companhia privada líder em saneamento no Brasil, mantém o Instituto Aegea, com diversas ações socioambientais em andamento, com a melhora do IDH nas regiões onde atua. Sobre a agenda ESG, o Instituto Aegea afirma que a “a empresa definiu e se comprometeu com o mercado em alcançar determinadas metas de sustentabilidade até 2030: redução do consumo de energia em 15%, medido em kWh/ metro cúbico; aumento da presença de mulheres em cargos de liderança de 32% para 45% e da presença de negros nas mesmas posições de 17% para 27%.”
Enquanto cada vez mais organizações e governos se preocupam e agem para adaptar localmente e praticar efetivamente as diretrizes de ESG, o Brasil colocou o ESG como eixo central do Plano Decenal do Brasil de Sustentabilidade e institucionalizou no Decreto nº 10.531/2020, que estabelece Estratégia Federal de Desenvolvimento para o Brasil (EFB) no período de 2020 a 2031. Porém, com mais essas letrinhas na sopa, vem a pergunta crucial: As propostas foram tiradas do papel? Os resultados mostram um retumbante não.
Temos uma discrepância grave em relação ao resto do mundo, que se junta a nossa desigualdade estrutural em relação a gênero e raça: temos uma gestão – em nível federal – inábil. Nessa regressão mundial do IDH, por exemplo, que retornou para o nível de 2016, o nosso retrocedeu para o de 2014. A má gestão do governo brasileiro, de acordo com esses dados, supera a média da incompetência dos outros países, não colocando em prática diretrizes pactuadas no Plano Decenal do Brasil de Sustentabilidade, além da ação direta de um gestor federal que não abraça realmente o pacto.
“É fácil entender por quê. Sob Bolsonaro, Damares, Araújo, Pazuello, Salles, Guedes & Cia, vemo-nos obrigados a retomar debates passados, alguns situados na Idade Média, ou no século 19, como se fossem novidades. Terraplanismo, resistência à vacinação e a medidas básicas de segurança sanitária, pautas morais entendidas como questões de Estado, descaso com o meio ambiente, tudo isso remete a um passado que considerávamos longínquo. É como forçar cientistas a provar de novo a esfericidade da Terra ou a demonstrar eficácia da vacinação. Ou defender, outra vez, a necessária separação entre Igreja e Estado, mais de 230 anos depois da Revolução Francesa. É muita regressão e ela nos atinge. De repente, nos surpreendemos discutindo o óbvio, gastando tempo com temas batidos e desperdiçando energia arrombando portas abertas séculos atrás na história da humanidade.” disse o sociólogo italiano Domenico de Masi, autor de O Ócio Criativo.
Uma análise do jornal O Globo, publicada em editorial, aponta que a área que mais contribuiu para rebaixar a avaliação do país, no último IDH divulgado, foi a saúde. Sabemos da via crucis de nossas milhares de mortes, a chegada lenta e tumultuada das vacinas– mal gerida pelo atual governo – o que resultou na nossa expectativa de vida de volta ao patamar de 2008. Essa análise também considera falhas na educação que contribuíram para o desempenho vexatório do Brasil no IDH.
No papel, o Plano Decenal contempla a institucionalização do ESG nas políticas públicas. Na prática, essas diretrizes pactuadas não estão sendo cumpridas. A melhoria da renda, qualidade de vida da população, a redução das desigualdades sociais e regionais seguem esperando uma gestão melhor que a atual e a esperança de que em 02 de outubro comecem a soprar os bons ventos da mudança.
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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