agronegócio – InvestNews https://investnews.com.br Sua dose diária de inteligência financeira Wed, 20 Nov 2024 14:30:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://investnews.com.br/wp-content/uploads/2024/03/favicon-96x96.ico agronegócio – InvestNews https://investnews.com.br 32 32 Polônia e França discutirão lista de preocupações sobre o acordo com Mercosul https://investnews.com.br/economia/polonia-e-franca-discutirao-lista-de-preocupacoes-sobre-o-acordo-com-mercosul/ Tue, 19 Nov 2024 17:35:57 +0000 https://investnews.com.br/?p=631354
Protesto de agricultores perto de Paris contra acordo UE-Mercosul 17/11/2024 REUTERS/Stephanie Lecocq

A Polônia pretende unir forças com a França e a Itália para bloquear um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que vem sendo elaborado há um quarto de século.

A ministra francesa da Agricultura, Annie Genevard, se reunirá com sua colega polonesa em Varsóvia nos próximos dias para “comparar suas listas de objeções” ao acordo, disse o ministro das Relações Exteriores, Radoslaw Sikorski, nesta terça-feira (19). O pacto comercial foi um elemento importante das recentes conversas bilaterais com Paris, acrescentou.

“Talvez, então, cheguemos a uma posição conjunta com a França e a Itália, o que seria uma minoria de bloqueio suficiente” para o acordo, disse Sikorski a repórteres em Varsóvia.

O pacto comercial do Mercosul, há muito adiado, composto por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, foi acordado em princípio em 2019, mas desde então tem sido postergado principalmente por objeções francesas.

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Na segunda-feira, Genevard disse à rádio France Bleu Besancon que o país está entrando em contato com outros estados da UE, incluindo Holanda, Itália e Polônia, para tentar formar uma “minoria de veto” para bloquear o acordo “que não é um bom acordo e que cristaliza o profundo descontentamento dos agricultores”.

A Polônia tem um histórico de proteger seu setor agrícola da concorrência estrangeira. No ano passado, o governo anterior impôs uma proibição unilateral às importações de grãos da Ucrânia, provocando um conflito diplomático com Kiev. Os agricultores poloneses organizaram uma conferência em frente ao parlamento polonês hoje para expressar sua discordância com o acordo do Mercosul e disseram que, se o governo se manifestasse a favor do pacto, eles organizariam protestos em todo o país.

Na França, os agricultores e produtores de carne e aves estão exigindo garantias de que seus rivais latino-americanos cumpram as normas ambientais e de saúde da UE — incluindo para uso de antibióticos e pesticidas — que são mais rigorosas.

Os principais sindicatos agrícolas do país, que enfrentam colheitas fracas devido ao mau tempo, deram ao novo governo até meados de novembro para atender às suas exigências – que incluem a proteção do comércio dentro da Europa contra a concorrência mais barata.

Os produtores do Mercosul são atualmente os maiores fornecedores de carne bovina e de aves da UE, e um possível acordo aumentaria significativamente esses volumes, prejudicando os produtores locais, disseram os sindicatos em um comunicado na semana passada.

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Com terminais perto do limite, CLI vai desembolsar R$ 1 bi para atender o agro da próxima década https://investnews.com.br/negocios/com-r-1-bilhao-para-investir-cli-amplia-estrutura-em-portos-para-embarcar-crescimento-do-agro-da-proxima-decada/ Tue, 19 Nov 2024 10:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=629386 A operadora de terminais portuários Corredor Logística e Infraestrutura (CLI) está pronta para investir quase R$ 1 bilhão até o início da próxima década para atender a demanda que virá do agronegócio brasileiro. Hoje, os terminais de Itaqui (MA) e Santos (SP) operam próximos ao limite e a estimativa é de que as exportações de soja, milho e açúcar do país aumentem em quase 70 milhões de toneladas em 10 anos.

“Nós temos o tempo todo, seja no Maranhão, seja em Santos, a sensação de que estamos adicionando capacidade e o mercado pedindo mais”, diz Helcio Tokeshi, CEO da CLI. A empresa, controlada pelas gestoras de private equity (aquelas que compram participações em empresas) IG4 e Macquarie, atende alguns dos principais exportadores agrícolas do mundo, como as americanas ADM e Cargill e a chinesa Cofco. “As tradings estão pedindo mais volume do que a gente está conseguindo oferecer.”

Com o investimento de quase R$ 1 bilhão , a expectativa da CLI é alcançar a capacidade de movimentar 25 milhões de toneladas por ano, aumento de 5 milhões de toneladas em relação à oferta atual.

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O primeiro investimento já está em curso: R$ 565 milhões para ampliação do terminal da CLI no porto de Santos – ativo que foi comprado da Rumo em 2022 por R$ 1,4 bilhão. Outro investimento já mapeado está estimado em R$ 400 milhões, no Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram) do porto de Itaqui. Esse segundo aporte, entretanto, depende de aprovação da União porque envolve a renovação antecipada da concessão por mais 25 anos para a CLI e suas outras três sócias no Tegram (TCN, Viterra e ALZ Grãos).

Com essa renovação, o prazo final da gestão do terminal passaria de 2037 para 2062. Nesta terça-feira (19), o Tegram obteve aval do Ministério dos Portos e Aeroportos para a obra, estimada em R$ 1,2 bilhão, mas ainda falta a aprovação da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

Terminal de grãos da CLI no porto de Santos
Terminal de grãos no porto de Santos (Divulgação)

Tanto Santos quanto Itaqui são estratégicos para as vendas do agronegócio brasileiro ao exterior. Enquanto Santos, o maior porto da América Latina, é fundamental para o embarque de açúcar dos Estados do Centro-Sul, maior região produtora, o porto de Itaqui se tornou uma das principais vias de escoamento para a soja e milho de Mato Grosso, líder da produção nacional, e do Matopiba (acrônimo para Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

A aposta da CLI está no embarque de granéis vegetais – aquele em que as cargas são transportadas sem embalagem e em grandes quantidades diretamente no baú dos navios. Por ser uma operação menos complexa do que carregar um navio de contêineres, o diferencial está na agilidade.

“Granel é granel. No grosso, o que conta no nosso negócio, dada a nossa estratégia, é a eficiência operacional, é fazer muito muito bem e muito rápido”, lembra Tokeshi, que já foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo (2016-2018) antes de desembarcar na IG4. O executivo ajudou a criar a CLI em meados de 2020, quando a IG4 assumiu o terminal da empresa CGG no Tegram. A CGG passava por problemas financeiros e repassou o ativo para que a IG4 fizesse a reestruturação de cerca de R$ 1,2 bilhão de dívida.

Desde então, a CLI consolidou-se no porto do Maranhão como um operador independente—aquele que não tem exclusividade com nenhum exportador específico —, ampliando essa presença no agro com a compra de 80% do terminal da Rumo em Santos. Especula-se que a os controladores da companhia estariam buscando um novo sócio ou a venda total do negócio — a CLI não comenta.

Helcio Tokeshi, CEO da CLI
Helcio Tokeshi, CEO da CLI (Divulgação)

De janeiro a setembro deste ano, a empresa faturou R$ 706,3 milhões, 10% mais do que no mesmo período do ano passado. Já o volume embarcado avançou 14%, para 14,7 milhões de toneladas, chegando a uma participação de 10,7% de tudo que o Brasil exportou de açúcar e grãos neste período.

Investimento em ESG

Além dos investimentos em expansão, a CLI anunciou recentemente um plano de R$ 25 milhões para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa até 2040 e de seus fornecedores até 2050. Cumpridas as etapas, a estimativa é que a empresa tenha uma redução equivalente a 62 mil carros por ano, ou 5% da frota atual da cidade de Santos. 

Denise Chagas, diretora de ESG da CLI, diz que o plano será submetido no ano que vem para avaliação do Science Based Targets initiative (SBTi), referência internacional no acompanhamento de metas de descarbonização.

Tokeshi afirma que o investimento em sustentabilidade não é apenas um compromisso social, mas uma necessidade. “Para nós, o ESG não é apenas um verniz, é uma estratégia de negócios”, diz. O executivo lembra que seus clientes também estão com metas agressivas para reduzir emissões de carbono e exigem que os fornecedores tenham uma agenda “verde”.

Na estratégia de negócios está ainda o objetivo de ter maior diversidade no time de funcionários em um segmento em que, tradicionalmente, a mão de obra costuma ser masculina. 

A modernização dos equipamentos contribui para que a empresa alcance o objetivo: foram incorporadas, por exemplo, ferramentas pneumáticas, que facilitam o trabalho e o tornam mais acessível às mulheres. “Nós encontramos um negócio em que não tinha quase nenhuma mulher na área operacional. Expandimos muito a presença delas com apoio do Senai para as vagas que abrimos”, afirma Denise.

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Não existe crise no agronegócio, diz presidente do BB https://investnews.com.br/negocios/nao-existe-crise-no-agronegocio-diz-presidente-do-bb/ Thu, 14 Nov 2024 15:24:43 +0000 https://investnews.com.br/?p=630429 Investimentos em Fiagros. (Foto: Pixabay)
Colheitadeira (Foto: Pixabay)

A presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, afirmou nesta quinta-feira que a piora na inadimplência na carteira rural não é generalizada, após o resultado do terceiro trimestre mostrar forte deterioração no segmento, fazendo o banco elevar significativamente suas provisões.

“Não existe crise no agronegócio brasileiro”, reforçou executiva em videoconferência com analistas sobre o balanço do banco divulgado na noite de quarta-feira. Medeiros chamou a atenção para o que chamou de “algo novo”, que é um aumento de pedidos de recuperação judicial do produtor rural, apesar de ainda ter uma representação mínima nos resultados do banco. “É um instrumento utilizado por poucos, mas que traz efeitos negativos a todos”.

“A RJ do produtor rural inviabiliza o acesso ao crédito, compromete a confiança na cadeia do agro, cria uma ruptura na atividade econômica das mulheres e dos homens no campo, e impacta o custo para todo segmento”, reforçou.

A maior parte do aumento da inadimplência rural “está relacionada com a cultura de soja, especialmente na região Centro-Oeste”, afirmou a presidente do BB.

No terceiro trimestre, as provisões para créditos de liquidação duvidosa do BB cresceram 34,2% ano a ano, com a linha de risco de crédito aumentando 26,9%, explicado principalmente pela elevação da inadimplência no segmento agro. O índice acima de 90 dias passou a 1,97%, de 0,71% um ano antes.

Por Paula Arend Laier

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Como Brasil e México se tornaram estratégicos para a Dubai Ports, sócia da Rumo e da Suzano https://investnews.com.br/negocios/como-o-brasil-e-o-mexico-se-tornaram-paises-estrategicos-no-mapa-da-dubai-ports/ Thu, 14 Nov 2024 10:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=629714
Terminal da DP World no Porto de Santos, em São Paulo. Foto: Divulgação/DP Brasil

A DP World é uma dessas empresas estatais dos Emirados Árabes das quais você provavelmente nunca ouviu falar, mas deveria. Com uma operação bilionária financiada pelas receitas do petróleo de Dubai, a multinacional desempenha um papel importante – que ajuda a entender melhor a dinâmica do comércio global.

Forçada a se desfazer de ativos nos Estados Unidos no começo deste século (mais sobre isso adiante), a DP World voltou seus investimentos para outros países do continente americano, com destaque para o Brasil, segunda economia das Américas.

Ela também tem trabalhado em instalações portuárias no Canadá e, mais recentemente, engajou-se em conversas com autoridades mexicanas para iniciar operações no país presidido por Claudia Sheinbaum.

Para a DP, a conhecida deficiência do Brasil em infraestrutura logística é uma oportunidade de negócios. O CEO da DP Brasil, Fabio Siccherino, diz que o fortalecimento da exportação brasileira nos últimos anos deixou evidente a necessidade de investimentos na área – o país precisa diminuir o tempo de transporte das cargas até os portos, e também os custos dessas operações.

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“Quando a gente olha para a competitividade do Brasil no comércio global, percebe que há um gap muito grande entre a infraestrutura que a gente tem e a infraestrutura que a gente precisaria ter”, afirmou ao InvestNews o executivo.

Por aqui, a história da empresa começou em 2013, quando inaugurou no Porto de Santos o seu terminal de contêineres. Não é concessão, trata-se de um terminal privado.

A entrada no Brasil faz parte de uma expansão internacional da companhia de Dubai, cuja história se confunde com o processo de desenvolvimento do emirado como um centro global de comércio e logística, impulsionado pelos portos de Rashid e Jebel – os Dubai Ports” que formam o “DP” de seu nome.

London Gateway, porto da DP World no rio Tâmisa, que banha a capital britânica. Foto: Dan Kitwood/Getty Images

A empresa é controlada pela Dubai World, uma estatal de investimentos que administra um amplo portfólio de negócios para o governo de Dubai. É possível traçar um paralelo com a atuação do Mubadala, fundo soberano de outro emirado, Abu Dhabi, cujos tentáculos também são globais e alcançam negócios que vão rodovias ao Burger King no Brasil.

DP World… Brasil

À semelhança do Mubadala, a DP teve de aprender a fazer negócios no Brasil em meio a uma grande crise do capitalismo nacional. A DP World tinha a Odebrecht como sócia do terminal no Porto de Santos e só tornou-se dona por inteiro do ativo em 2017, quando comprou a parte da empresa brasileira. A partir daí, o terminal passou a funcionar sob a bandeira DP World Brasil.

Em março de 2024, a DP Brasil e a Rumo – braço de logística do grupo Cosan – anunciaram um acordo para a construção de um novo terminal no Porto de Santos que será usado para exportar grãos e importar fertilizantes.

A nova estrutura vai demandar R$ 2,5 bilhões em investimentos que sairão dos bolsos da Rumo, enquanto a DP Brasil será a operadora exclusiva do complexo em um contrato que tem validade para 30 anos. O complexo deverá movimentar, por ano, nove milhões de toneladas de grãos e 3,5 milhões de toneladas de fertilizantes.

O acordo com a Rumo não foi o primeiro da DP com uma grande empresa brasileira. Em 2017, a Suzano fechou contrato de 25 anos para exportar celulose a partir da estrutura da DP Brasil em Santos. O acordo exigiu investimentos bilionários e marcou a transformação do complexo, até então especializado na movimentação de cargas finalizadas, transportadas em contêineres, em vez de matérias-primas, que exigem outra gama de equipamentos.

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Hoje, a DP Brasil movimenta cinco milhões de toneladas de celulose da Suzano em Santos e tem feito novos investimentos para ampliar a capacidade do terminal no transporte de contêineres – ao custo de R$ 450 milhões.

A diversificação de serviços faz parte da transformação global da própria DP nos últimos anos. A companhia comprou mundo afora empresas de logística que atuam em outras etapas do transporte de mercadorias, algumas com atuação regional, outras com atuação global. A americana Syncreon foi comprada em 2021 por US$ 1,2 bilhão, reforçando a presença da estatal de Dubai no mercado de cadeias de suprimentos complexas.

Agora, a DP Brasil se prepara para novos projetos e está de olho no leilão do Porto de Itajaí (SC), que deve acontecer no ano que vem. A DP já tem um escritório na cidade e o CEO Fabio Siccherino disse que a empresa está mesmo interessada em tornar-se operadora do porto. A decisão final, porém, vai depender da modelagem do contrato oferecida pelo governo. O leilão deve acontecer em 2025.

A visão da DP é criar uma rede logística integrada que incorpore serviços de transporte interno, agenciamento de carga, desembaraço aduaneiro e entrega no destino final.

“Se a gente tem essa conectividade dos nossos terminais, por que não integrar tudo e oferecer algo mais competitivo? É nessa linha que a gente tem crescido e investido aqui no Brasil”

Fabio siccherino, ceo da dp world brasil

O sonho americano

Há 18 anos, a DP World sofreu um grande revés nos seus planos de atuação global. Era o início de 2006 e ela tinha comprado a britânica Peninsular & Oriental Steam Navigation. Com o negócio, ela se tornava a controladora de cinco terminais portuários na Costa Leste dos Estados Unidos.

Mas faltava combinar com os russos. Nesse caso, os congressistas americanos. Os ataques terroristas do 11 de Setembro tinham provocado uma onda anti-árabe, que perdurava. Um comitê da Câmara não queria que uma empresa estatal dos Emirados Árabes fosse proprietária de uma infraestrutura crítica no país. A pressão política forçou a empresa a se desfazer de seus ativos em território americano.

A Dubai Ports, então, focou no vizinho de cima dos EUA. No mesmo 2006, comprou a gestão de um terminal em Vancouver, no Canadá. Desde então, expandiu sua presença no país, focando principalmente em infraestrutura portuária.

Nos últimos meses, a DP olhou para o vizinho de baixo dos americanos. A empresa de Dubai intensificou o corpo-a-corpo com autoridades mexicanas e negocia com elas a instalação de um grande complexo industrial nos moldes da Zona Franca de Jebel Ali, que ajudou a consolidar a posição de Dubai como um centro global de comércio marítimo.

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O plano agora é aumentar a fatia do comércio com destino aos EUA “cercando” o país – ao norte, a partir das estruturas no Canadá, e ao sul, a partir do complexo no México. Uma vez dentro do território americano, as mercadorias passam por diversos centros de logística que a DP controla no país. A restrição só se dá mesmo na área de portos.

Pelo menos por enquanto. Ao The Wall Street Journal, o CEO da DP World, Ahmed bin Sulayem, disse que a empresa não desistiu dos portos americanos e que acredita que o sentimento em Washington é diferente do que era duas décadas atrás.

Mas aqui vai um destaque importante: a declaração de Sulayem ao jornal americano ocorreu alguns meses antes da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA. O republicano voltará à Casa Branca em janeiro de 2025 e, com ele, uma retórica nacionalista e protecionista que pode inviabilizar – ou no mínimo adiar – o sonho do porto americano próprio que há décadas a DP World acalenta.

(Colaborou Rikardy Tooge)

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Controlador da Granja Faria chega à Espanha com aquisição de R$ 730 milhões https://investnews.com.br/negocios/controlador-da-granja-faria-chega-a-espanha-com-aquisicao-de-r-730-milhoes/ Wed, 13 Nov 2024 14:22:12 +0000 https://investnews.com.br/?p=629999 O empresário Ricardo Faria mostrou que até no mercado de ovos é importante diversificar as cestas. Faria, controlador da Granja Faria – uma das principais produtoras da proteína no Brasil –, anunciou nesta quarta-feira (13) a aquisição do grupo espanhol Hevo por € 120 milhões (cerca de R$ 730 milhões), marcando a primeira incursão do empresário nesse segmento fora do país.

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A compra foi feita pela holding Global Egg, composta por Faria e alguns sócios, o que torna o Hevo apenas um “irmão” da Granja Faria, sem compartilhar a mesma gestão. Com um faturamento anual na casa de € 180 milhões (R$ 1,1 bilhão), 15 granjas distribuídas em diversas regiões como Catalunha, País Basco, Madrid e Valencia, o grupo Hevo é o segundo maior produtor de ovos da Espanha, com cerca de 10% de um mercado que movimenta € 1,6 bilhão (R$ 9,8 bilhões) por ano.

Ricardo Faria, controlador da Granja Faria
Ricardo Faria, controlador da Granja Faria (Divulgação)

“O mercado espanhol tem uma pulverização parecida com a do Brasil, e temos oportunidades para melhorar a eficiência por aqui e aumentar o número de aves”, disse Ricardo Faria, em conversa com jornalistas. Em um misto de maior eficiência e um cenário em que o consumo de ovo na Espanha está na mínima histórica, Faria vê espaço para acelerar rapidamente. “Nossa aspiração é chegar a 30% de market share nos próximos cinco anos.”

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A partir do grupo Hevo, a meta de Ricardo Faria e a Global Egg é expandir sua atuação para países vizinhos da Espanha: Portugal, França e Itália. “É uma oportunidade de investir e ter receita em outra moeda em um momento em que os juros dificultam os investimentos no Brasil”, acrescentou o executivo.

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Pedidos de recuperação judicial no agro assustam investidores de Fiagro https://investnews.com.br/financas/investimentos/crise-agricola-vira-licao-amarga-sobre-risco-para-investidor-de-varejo/ Mon, 11 Nov 2024 16:16:13 +0000 https://investnews.com.br/?p=629272 O boom no setor agrícola no Brasil desencadeou uma corrida de investimentos e atraiu pessoas de todas as camadas da sociedade nos últimos três anos, acumulando R$ 35 bilhões no mercado de fundos de agronegócio. Mas as condições hoje mudaram.

Com safras recorde ao redor do mundo fazendo os preços despencarem, além de agricultores brasileiros pedindo recuperação judicial em taxas alarmantes, o investidor varejista está pagando o preço.

As perdas servem de lição sobre os riscos de mercado para investidores que têm sido bombardeados com mensagens na televisão nacional promovendo a agricultura como algo moderno e legal, e até mesmo músicas que celebram o sucesso do setor. Muitos investiram dinheiro em novos instrumentos criados para financiar o agronegócio, atraídos pela promessa de altos retornos.

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Colheita de soja no interior de São Paulo
Um fazendeiro observa a soja sendo descarregada em um caminhão durante uma colheita em Santa Cruz do Rio Pardo, estado de São Paulo, Brasil, no sábado, 7 de março de 2020. Foto: Patricia Monteiro/Bloomberg

Agora, executivos da indústria estão preocupados que a nova fonte de receita possa secar em breve, e as autoridades estão diante do dilema de como manter o crédito acessível aos agricultores sem prejudicar os investimentos.

“Um problema que estava contido dentro da indústria extrapolou para o investidor não profissional, para o investidor que faz seu investimento, suas economias, sua aposentadoria”, disse Fabiana Alves, diretora executiva do Rabobank no Brasil, em entrevista na Bloomberg New Economy no B20, em São Paulo, no último mês.

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A origem: Faria Lima e os Fiagros

Tudo começou quando financistas em Faria Lima, conhecido como a Wall Street do Brasil, encontraram uma maneira inovadora de financiar a gigantesca expansão agrícola do país. Eles criaram os chamados Fiagros, fundos de investimento apoiados por recebíveis agrícolas, como juros, dividendos e pagamentos de arrendamento de terra.

Isso representou uma mudança em relação ao passado, quando o setor era financiado principalmente pelo Estado. Os agricultores tinham acesso a linhas de crédito subsidiadas oferecidas pelo governo, mas isso não era suficiente para alimentar uma indústria responsável por quase um quarto da economia nacional.

O mercado logo se expandiu para profissionais como o Rabobank e, nos últimos três anos, foi aberto para investidores varejistas.

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“Estamos gradualmente libertando o Tesouro”, disse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. A expansão de novos mecanismos como os Fiagros permite que o governo se concentre em financiar pequenos agricultores em vez de ter que apoiar grandes produtores também, acrescentou ele.

A agricultura já é extremamente popular no Brasil, com uma pesquisa recente do grupo de marketing ABMRA mostrando que cerca de 68% das pessoas no país admiram negócios na agricultura. Novelas e músicas elogiam a vida no campo. Isso atraiu alguns herdeiros da Geração Z a assumir empresas de agronegócio e facilitou que bancos de investimento e corretoras vendessem notas e fundos agrícolas para investidores comuns.

Ainda assim, a agricultura é um negócio de risco, já que o sucesso dos agricultores depende do clima e dos preços voláteis das commodities.

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Pedidos de recuperação judicial

Os recentes problemas surgiram após anos de expansão financiada por dívidas na potência agrícola, seguidos por uma queda nos preços das principais culturas e um aumento nos custos de empréstimos. A quantidade de agricultores brasileiros que pediram recuperação judicial no segundo trimestre de 2024 chegou a 215, o maior número em pelo menos 18 meses e mais que o dobro do mesmo período de 2023, de acordo com dados de crédito da Serasa Experian.

Uma onda de pedidos de falência pode “assustar” os investidores se eles sentirem que não há garantias suficientes, disse o ministro.

Uma grande preocupação é que juízes no Brasil têm recentemente protegido as terras dos produtores de culturas da apreensão pelos credores. Como os recebíveis do agronegócio são frequentemente garantidos por imóveis e outros ativos, tais decisões significam que os credores enfrentam a perspectiva de lutas legais custosas e prolongadas para tomar posse da garantia.

Um risco adicional é que a maioria dos emissores de recebíveis que apoiam os investimentos em Fiagros não têm classificação de crédito e não fornecem nenhuma informação pública aos investidores.

Alves disse que, embora o Rabobank tenha uma carteira de crédito de mais de R$ 50 bilhões em negócios agrícolas no Brasil, a empresa não foi afetada pela crise mais recente. Isso porque o banco foca nos maiores agricultores, e as falências afetaram produtores menores.

Mas os investidores individuais podem estar mais expostos.

“Analisar a agricultura em seus vários aspectos requer expertise que nem todo operador financeiro tem”, disse Alves. “Você não pode vender isso para um investidor médio como venderia um CDB”, disse ela, referindo-se aos certificados bancários de baixo risco do Brasil.

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França alia-se à Polônia na União Europeia para bloquear acordo com Mercosul https://investnews.com.br/economia/franca-se-alia-a-polonia-para-bloquear-acordo-com-mercosul-na-uniao-europeia/ Fri, 08 Nov 2024 12:38:27 +0000 https://investnews.com.br/?p=628847
Premiê francês Michel Barnier Photographer: Nathan Laine/Bloomberg

A França busca persuadir a Polônia a unir forças para bloquear um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul que vem sendo construído há cerca de 25 anos.

O gabinete do primeiro-ministro francês Michel Barnier tem como objetivo convencer Varsóvia a formar uma coalizão contra o pacto do Mercosul, em meio a preocupações de que a Comissão Europeia – liderada por Ursula von der Leyen – esteja pressionando as negociações para fechar o acordo até o fim do ano. Países com um forte setor agrícola, como Áustria, Hungria e Irlanda, poderiam se alinhar com a França na objeção ao acordo, apontaram fontes próximas ao assunto.

A Polônia tem um histórico de proteger seu setor agrícola da concorrência estrangeira. No ano passado, o governo anterior impôs uma proibição unilateral às importações de grãos da Ucrânia, provocando um conflito diplomático com Kiev. O governo polonês não respondeu a um pedido de comentário.

“Não somos contra o livre comércio, mas esse acordo não é aceitável como tal”, disse o ministro francês para assuntos europeus, Benjamin Haddad, à Bloomberg, à margem de uma cúpula em Budapeste. “Quando impomos normas e padrões a nós mesmos, nossos parceiros comerciais devem fazer o mesmo, caso contrário, damos um tiro no próprio pé e prejudicamos nossos agricultores e empresas.”

O pacto comercial com o Mercosul — composto por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai — vem sendo adiado há bastante tempo foi acordado inicialmente em 2019, mas desde então a sua regulamentação tem sido postergada principalmente por objeções francesas.

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Duas pessoas próximas ao presidente Emmanuel Macron disseram que a tentativa francesa de bloquear o acordo continua sendo um tiro no escuro, pois, de acordo com as regras da UE, Paris precisaria de quatro estados-membros que representem pelo menos 35% da população para formar uma minoria de bloqueio.

A Alemanha, que representa cerca de um quinto da população da UE, é uma forte apoiadora do acordo, juntamente com a Itália e a Espanha. A economia alemã, em dificuldades e orientada para a exportação, poderia se beneficiar do acordo, pois abriria o mercado protecionista da América Latina para as exportações europeias, como máquinas e automóveis.

Enquanto isso, os fazendeiros franceses se opõem ferozmente ao acordo, pois temem que os exportadores sul-americanos possam prejudicar seus resultados com produtos mais baratos.

A França tem sido o principal oponente do pacto e continua a exigir “cláusulas espelho” que garantam que as restrições de produção que pesam sobre os agricultores europeus se apliquem a seus concorrentes do Mercosul, que têm padrões de saúde e ambientais menos restritivos.

Em resposta às preocupações francesas, a comissão está considerando um pacote de compensação para os agricultores franceses afetados pelo acordo, segundo pessoas familiarizadas com as negociações.

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Pascal Lecamp, legislador do partido de Macron e ex-executivo da agência de exportação francesa Business France, alertou que qualquer compensação financeira dificilmente apaziguará os agricultores que já estão lutando contra os preços baixos e o mau tempo. Lecamp faz parte de um grupo transpartidário de 209 legisladores da Assembleia Nacional Francesa que pediu que Macron rejeitasse o Mercosul.

Uma fazenda de trigo em Leves, França. Fotógrafo: Nathan Laine/Bloomberg

“Amo o Brasil e sou um forte defensor do livre comércio, mas não a qualquer custo”, disse Lecamp em uma entrevista à Bloomberg. “Nenhum compromisso é possível no curto prazo, a menos que, por exemplo, o Brasil pare de usar antibióticos da noite para o dia.”

Os sindicatos de agricultores franceses convocaram manifestações para o final deste mês, já que fontes próximas às negociações dizem que a comissão poderia ter como objetivo assinar o acordo possivelmente já nos bastidores da cúpula do G-20 no Rio, em novembro.

A iniciativa da comissão de selar um dos maiores acordos de livre comércio de todos os tempos está repleta de riscos políticos. Von der Leyen provocaria uma guerra diplomática se ela pressionasse o acordo em um momento em que negociações de alto risco sobre o orçamento estão em andamento no parlamento francês, disse uma pessoa próxima ao governo francês.

Para Macron, o ímpeto renovado da UE para concluir o acordo não poderia ter vindo em pior hora, já que seu governo enfraquecido está lutando para equilibrar o orçamento de 2025 e pode enfrentar uma moção de desconfiança antes do final do ano.

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Bruxelas também poderia propor a implementação de parte do acordo de forma provisória para evitar um longo processo de ratificação que exige a aprovação de cada parlamento nacional.

A divisão significaria que a parte comercial do acordo seria “somente da UE”, ou seja, não exigiria a unanimidade dos Estados membros e somente a aprovação do Parlamento Europeu, pois abrangeria apenas as competências em nível da UE. Bruxelas espera que isso acelere a implementação do acordo, mesmo que a aprovação final do restante do acordo permaneça pendente. No entanto, ainda há preocupações de que essa medida de Bruxelas possa alimentar ainda mais o euroceticismo.

Lecamp chamou de “truque” antidemocrático a possibilidade de Von der Leyen dividir o acordo em dois e aprovar as principais disposições comerciais em uma base provisória, apesar da oposição da França.

Um funcionário da UE disse que a comissão está trabalhando para atender às preocupações de cada estado membro e insistiu nas proteções oferecidas pelo pacto.

Um porta-voz do escritório de Barnier se recusou a comentar sobre a estratégia de Paris para obter concessões no Mercosul, acrescentando que Macron e Barnier compartilham os mesmos objetivos de garantir padrões uniformes para os agricultores de ambos os lados e garantir que o acordo não se refira apenas ao acordo climático de Paris, mas também possa ser suspenso se o acordo não for respeitado.

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Balcão Agrícola do Brasil, apoiado pela Rumo, entregará soja e milho ainda em 2024 https://investnews.com.br/negocios/balcao-agricola-do-brasil-apoiado-pela-rumo-entregara-soja-e-milho-ainda-em-2024/ Fri, 01 Nov 2024 12:05:32 +0000 https://investnews.com.br/?p=627228
Carregamento de soja 17/02/2020 REUTERS/Jorge Adorno

O Balcão Agrícola do Brasil (BAB), novo ambiente organizado para negociações de derivativos de soja e milho, deverá começar a operar ainda em 2024 e poderá movimentar contratos equivalentes a 24 milhões de toneladas quando chegar no terceiro ano completo de funcionamento, projetou seu diretor-presidente, Eric Cardoni, ao anunciar o empreendimento.

O volume estimado, que representa quase metade da safra de soja prevista para 2024/25 em Mato Grosso, deve ser crescente no BAB, que prevê negócios de 4,8 milhões de toneladas já no ano que vem.

Recém-aprovado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o BAB tem como principal investidor a empresa de logística Rumo e foi idealizado para permitir que as operações de hedge reflitam melhor os preços do mercado brasileiro.

O novo instrumento para apoiar as negociações de commodities vem ainda em momento em que a safra de soja do Brasil, maior produtor e exportador global, tem crescido mais do que a dos Estados Unidos, onde está a bolsa de Chicago, referência global para cotações.

Esse é um dos fatores que acabam elevando riscos para negociantes do Brasil, já que muitas vezes os fundamentos do mercado local diferem do que acontece nos EUA, onde está o “benchmark”, notou Cardoni, ex-diretor de trading de grãos e oleaginosas da multinacional Louis Dreyfus Company, citando os desafios da precificação.

Já no ambiente do BAB, que permitirá entregas físicas e negociações bilaterais entre comprador e vendedor, a ideia é que os participantes fiquem livres do chamado “risco de basis”, que é o diferencial (prêmio ou desconto) de preços do mercado local em relação ao contrato futuro da bolsa de Chicago.

“A gente precisava de um instrumento que refletisse a realidade do campo (no país). Hoje o agro brasileiro tem maturidade para isso”, afirmou Cardoni a jornalistas, ao comentar os crescentes desafios de precificação.

Ainda que as negociações de soja e milho no mercado físico direcionadas para exportação devam continuar exigindo que o negociador ainda “trave” os diferenciais ante Chicago, para aquele participante que atua somente no mercado interno pode ser mais interessante usar o ambiente do BAB, que oferece um preço livre do “risco de basis” na realização do hedge.

Segundo o executivo, o BAB deve minimizar riscos financeiros, que podem ser milionários ao envolver apenas uma carga. Assim, utilizando a experiência de quem trabalhou no setor nos EUA e está no Brasil há cerca de 15 anos, Cardoni elaborou o projeto para “tropicalizar” o hedge.

“A produção de soja do Brasil cresceu 400% desde 2000, mas os instrumentos de hedge continuam os mesmos”, afirmou.

LEIA MAIS: Danone mexe com soja do Brasil e inaugura nova crise entre agronegócio e União Europeia

Ele destacou que o BAB terá pontos de entrega física de mercadorias em Rondonópolis (MT) e Rio Verde (GO), e será utilizado o real, e não o dólar, como a moeda das transações, o que também diminui o risco cambial que os negociantes nesse setor enfrentam no dia a dia.

Para se ter uma ideia do “risco de basis”, o impacto financeiro de uma variação de 600 centavos de dólar por bushel nos diferenciais ante a bolsa de Chicago pode gerar um prejuízo de US$ 14 milhões para uma trading que negociou uma carga em volume suficiente para encher apenas um navio, exemplificou o executivo.

Ele lembrou que tais riscos acontecem porque, além da diferença no período de safras do Brasil e Estados Unidos, fatores como o custo de transporte e armazenamento e o câmbio podem impactar, sem falar de problemas climáticos. Políticas públicas como a de biodiesel, que criam uma demanda local, também interferem nos diferenciais.

Apoio da Rumo

O BAB recebeu aporte de US$ 1 milhão da Rumo e outros US$ 700 mil de investidores menores, e pelo modelo de negócio avalia como “interessante” a manutenção exclusiva dos terminais da empresa de logística do grupo Cosan como pontos de entrega das mercadorias negociadas no balcão, segundo Cardoni.

A entrega física “torna o hedge mais confiável porque a soja comprada no Mato Grosso terá um derivativo que representa o preço da soja no Mato Grosso. O risco desses dois preços descasarem é muito baixo”, afirmou o executivo, acrescentando que a companhia já negocia a ampliação para um terceiro ponto de entrega, no norte do Paraná.

Ele revelou ainda que a companhia está em conversas para ter pontos de entregas físicas de farelo de soja e óleo de soja, quando esses produtos eventualmente começarem a ser negociados no BAB — mas, neste caso, a entrega seria nas fábricas.

Cardoni revelou ainda que está em processo a autorização de 15 empresas para operar no BAB, a maioria tradings, ainda que este ambiente também esteja aberto a especuladores e fundos, que geralmente ajudam a dar liquidez aos mercados.

LEIA MAIS: Guerra de tarifas entre EUA e China pode abrir terreno para soja e milho do Brasil

Embora o BAB contemple entregas físicas, o balcão permitirá que os participantes encerrem suas posições ou passem para outros agentes as obrigações de comprar ou vender o produto. Cardoni estima que é “razoável” imaginar que apenas cerca 10% dos contratos transacionados acabem culminando com entregas físicas.

Os emolumentos do BAB serão de 1 real por tonelada negociada, sendo metade paga pelo comprador e a outra parte pelo agente vendedor.

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Danone mexe com soja do Brasil e inaugura nova crise entre agronegócio e União Europeia https://investnews.com.br/negocios/danone-inaugura-nova-fase-de-crises-entre-agronegocio-brasileiro-e-uniao-europeia/ Wed, 30 Oct 2024 20:45:20 +0000 https://investnews.com.br/?p=626758 A Danone pagou pela língua e começou o que promete ser uma crise recorrente entre as empresas da União Europeia com os principais países exportadores do agronegócio, sobretudo o Brasil, maior produtor e exportador de soja do mundo. A mais recente briga entre agricultores brasileiros com a multinacional francesa dona do YoPro tem como pano de fundo uma controversa lei antidesmatamento para as indústrias que atuam no bloco europeu.

Juergen Esser, CFO e número dois na hierarquia da Danone, disse na quinta-feira (24) que a matriz francesa deixou de comprar a soja do Brasil e ressaltou que a empresa só adquire “ingredientes sustentáveis”. Esser afirmou que a empresa estava se abastecendo de soja “produzida na Ásia”, sem especificar o país. Vale lembrar que o continente é mais importador de grãos, em especial do brasileiro, do que produtor.

A fala acertou o agronegócio brasileiro em cheio. Seus representantes alegam uma postura protecionista, e também difamatória. Diante disso, ameaçaram, na terça-feira (29), buscar compensações junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), além de sinalizar boicote aos produtos da marca. A crise escalou tão rápido a ponto de o governo brasileiro se manifestar e a própria Danone ter que vir a público desmentir seu alto executivo.

“Reafirmamos que não há medidas restritivas à compra de soja brasileira na cadeia de suprimentos da Danone em todo o mundo”, disse Silvia Dávila, presidente da Danone na América Latina e membro do comitê global da empresa. “Reafirmamos que as informações que circularam acerca deste assunto não foram precisas.”

A fala de Esser envolve o chamado Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR, em inglês), que determina que as companhias que atuam no bloco europeu comprovem que suas matérias-primas não contribuíram para a derrubada de florestas pelo mundo após dezembro de 2020. A regra foi aprovada em 2022 e passará a valer em dezembro deste ano. No entanto, a pedido do Brasil e de outros países, a Comissão Europeia sinalizou que pode adiar o início para 2025 – falta ainda o aval do Parlamento Europeu.

Trabalhador inspeciona grãos de soja em fazenda na cidade de Campos Lindos (TO) (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Na mira do EUDR está a comercialização de gado, soja, cacau, café, dendê, soja, madeira, couro, chocolate e móveis. Dos biomas brasileiros que a lei contempla, estão o da Amazônia e parte do Cerrado. O regulamento prevê ainda multas de até 20% do faturamento da empresa que descumpri-lo.

“O Brasil considera as normas do EUDR arbitrárias, unilaterais e punitivas, tendo em vista que desconsideram particularidades dos países produtores”, deu sua saraivada o Ministério da Agricultura, em nota. Os produtores de soja foram pra cima da Danone, chamando a declaração do CFO de “ato de discriminação”. “Este ato é passível de reclamação por parte do governo brasileiro nas instâncias que regulam o comércio mundial”, disse a Aprosoja Brasil, entidade que representa os agricultores.

Na defensiva após as bordoadas, a Danone, que vendeu € 2,3 bilhões de janeiro a setembro em sete países da América Latina e tem no Brasil um de seus principais faturamentos na região, se limitou a dizer que “a informação não procede”. Postura adotada também pela matriz global, em nota publicada no LinkedIn.

“A Danone continua comprando soja brasileira em conformidade com as regulamentações locais e internacionais”, acrescentou o presidente da operação brasileira da empresa, Tiago Santos, na terça-feira (29). “A soja brasileira é um insumo essencial na cadeia de fornecimento da companhia no Brasil e continua sendo utilizada.”

Novo normal

Crises como essas tendem a ser mais comuns com a iminência do EUDR. O motivo é que o Brasil e o agronegócio daqui vêem a legislação europeia como uma interferência à soberania. Assim como o InvestNews mostrou recentemente no embate que envolve a “Moratória da Soja”, governo e agricultores defendem que já existe uma lei restritiva o suficiente em relação ao desmatamento: o Código Florestal brasileiro.

Na lei, que foi atualizada em 2012, estão previstos os percentuais que um agricultor pode desmatar em cada um dos biomas do país (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa).

Por exemplo, se um agricultor quiser produzir na Amazônia, poderá utilizar somente 20% da área para a atividade, os outros 80% precisam ser preservados. Esse é o desmatamento legal. O grande entrave é que os europeus querem desmatamento zero – que nenhum milímetro de árvore seja derrubado após dezembro de 2020, como determina o EUDR.

Na visão do Brasil, a exigência de desmatamento zero seria, na verdade, mais um artifício para impor uma barreira comercial ao país. Por trás dessa análise estão os polpudos subsídios que a União Europeia fornece a seus produtores rurais, em especial os da França e Alemanha, que fazem um frequente lobby junto à UE para evitar a entrada excessiva de produtos agrícolas de outros países, que costumam ser mais baratos que os europeus.

A celeuma é uma das travas ao princípio de acordo comercial entre Mercosul-União Europeia, que está na mesa de europeus e sulamericanos desde 2019 sem um desfecho. E, a exemplo do acordo comercial UE-Mercosul que é negociado há quase 30 anos, a tendência é que a disputa comercial em torno do EUDR siga por uns bons anos.

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Cargill e Bunge diminuem compras de soja nos EUA por incerteza sobre política de biocombustíveis https://investnews.com.br/negocios/cargill-e-bunge-diminuem-compras-de-soja-nos-eua-por-incerteza-sobre-politica-de-biocombustiveis/ Tue, 29 Oct 2024 18:51:36 +0000 https://investnews.com.br/?p=626348 Grandes indústrias do agronegócio, como Cargill e Bunge, estão reduzindo suas compras de soja devido à incerteza sobre a política de biocombustíveis dos Estados Unidos. O grão é um dos mais utilizados na produção de biodiesel.

A falta de previsibilidade para um novo crédito fiscal de combustível limpo está fazendo com que produtores de biocombustíveis adiem algumas compras de óleo de soja para o início do próximo ano. Isso está reduzindo a demanda por soja, levando os grandes comerciantes de grãos a também diminuírem suas compras, segundo fontes ouvidas pela reportagem.

“Ninguém está produzindo, ninguém está comprando, ninguém está misturando”, disse David Fialkov, vice-presidente executivo de assuntos governamentais da NATSO, um grupo comercial de postos de caminhão e centros de energia para transportes.

A Cargill disse que a incerteza em torno da política de biocombustíveis para 2025 não teve impacto em seu ritmo de compras de soja, e que está comprando ativamente soja em todas as suas unidades de processamento. A Bunge se recusou a comentar.

LEIA MAIS: Em Mato Grosso, nova lei promete mudar o jogo da venda de soja no Brasil

Outra grande incerteza em torno do crédito fiscal é o resultado das eleições presidenciais. Não está claro se o governo Biden irá determinar uma política fiscal que será tocada pelo novo presidente. Outra dúvida é se o crédito 45Z será estendido além de seu vencimento atual no final de 2027.

O atraso nas orientações está deixando os produtores de renováveis com pouca visibilidade sobre a viabilidade financeira de sua produção de combustível, ameaçando paralisar o setor em rápido crescimento. Há apenas dois anos, os EUA estavam correndo para construir mais fábricas para processar culturas como soja, que são esmagadas para produzir óleo para alimentos e combustível, além de farelo usado para alimentação animal.

Com tanta incerteza sobre quando e como o novo subsídio será implementado, as esmagadoras têm desviado uma parcela maior dos suprimentos de soja para mercados de exportação de alimentos, disse Kent Woods, diretor executivo da CrushTraders.

“Há menos demanda por diesel renovável e a demanda por alimentos está atualmente na liderança”, disse Woods. Essa dinâmica também está criando uma grande mudança onde os EUA estão exportando óleo de soja novamente.

© 2024 Bloomberg L.P.

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