Banco Central – InvestNews https://investnews.com.br Sua dose diária de inteligência financeira Wed, 13 Nov 2024 14:29:24 +0000 pt-BR hourly 1 https://investnews.com.br/wp-content/uploads/2024/03/favicon-96x96.ico Banco Central – InvestNews https://investnews.com.br 32 32 O que Trump e Lula têm em comum: a queda de braço com o Banco Central https://investnews.com.br/economia/o-que-trump-e-lula-tem-em-comum-a-queda-de-braco-com-o-banco-central/ Wed, 13 Nov 2024 10:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=629780 O Banco Central começou a cortar os juros, mas pode ter que voltar a subir a taxa a qualquer momento porque está preocupado com os efeitos dos gastos públicos sobre a inflação. O presidente da República, é claro, não está nada satisfeito com isso. E começa a fazer pressão sobre o Banco Central – o que inclui até mesmo ameaças de demissão.

Quem lê esse roteiro desavisadamente pode achar que ele se refere ao Brasil. Mas, na verdade, o Banco Central em questão não é o brasileiro: é o Federal Reserve (Fed), dirigido por Jerome Powell. Sim, o Fed, referência quando o assunto é banco central independente, já começou a se proteger de tentativas do presidente eleito Donald Trump de exercer mais influência sobre a política monetária na maior economia do mundo.

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Não seria a primeira vez. Em 2018, no primeiro mandato do republicano, Trump criticou Powell publicamente em diversas ocasiões – tanto para subir quanto para cortar os juros. E fez ameaças de destituí-lo do cargo para o qual foi escolhido… por quem? Pelo próprio Trump.

Só que, agora, a batalha pode ser ainda mais dura. Afinal, os planos de Trump para gerar crescimento da economia americana são muito mais ousados do que no mandato anterior. E isso deve resultar em mais inflação e também em piora do quadro fiscal: os analistas esperam um aumento do déficit público da ordem de US$ 7,5 trilhões ao longo de uma década.

Alguns correligionários de Trump já partiram para o ataque ao Fed. Um dos “inimigos” do BC americano é o senador Mike Lee, republicano do Utah, que apresentou em junho um projeto de lei para abolir o Banco Central, acusando-o de ser um “manipulador econômico que contribuiu diretamente para a instabilidade financeira que muitos americanos enfrentam hoje”. Lee disse no X (ex-Twitter) que deseja ver o Fed sob o controle do presidente. A posição do parlamentar contou com o apoio do empresário Elon Musk, que promete ter importante participação no novo governo.

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Trump não tem poderes legais para demitir Powell. E o presidente do Fed, em uma entrevista coletiva na semana passada, desconcertado após uma pergunta, disse que não renunciaria ainda que o presidente da República pedisse. Esse “climão” deixa investidores desconfortáveis. Eles temem que uma cruzada de ataques contra o Fed acabe desestabilizando a confiança dos investidores nos mercados, tanto de ações quanto de títulos públicos.

Eu sou você amanhã

O Brasil já conhece essa história. Os ataques de Lula contra o presidente do Banco Central Roberto Campos Neto geraram muita incerteza sobre a capacidade de o BC agir para conter a inflação. Tanto é que, a cada manifestação do presidente, o dólar e os juros subiram.

O quadro piorou ainda mais em maio, quando os quatro diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) indicados pelo novo governo votaram por um corte de 0,5 ponto percentual da Selic, contra a maioria, que defendeu uma redução de 0,25 ponto. Esse evento mudou a dinâmica dos mercados: o dólar se consolidou acima dos R$ 5,50 e o juro real das NTN-Bs superou os 6% ao ano. E não retrocederam mais.

O que os especialistas dizem é que apenas com a independência do Banco Central totalmente assegurada é que a política monetária é eficaz na luta para reduzir a inflação e abrir caminho para o crescimento econômico. Só que nem Trump, nem Lula parecem dar crédito a essa máxima. Mesmo com orientações ideológicas completamente opostas, ambos tentaram influenciar as decisões de seus bancos centrais, achando que os juros mais baixos poderiam dar suporte a seus planos de governo.

O que pode explicar esse ponto comum dos dois governantes são “características mais populistas”, diz o ex-diretor do Banco Central, José Julio Senna, pesquisador do Chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre) e consultor associado da MCM Consultores.

Trump tem dito que quer acabar com a inflação e manter os juros baixos. Mas também quer subir tarifas, conter a imigração e cortar impostos, receita perfeita para gerar muita inflação.  “Prevejo um cabo de guerra desconfortável, com comentários agressivos e pressões de todo o tipo”, diz Senna.

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Ainda assim, o especialista não acredita que a pressão vinda da Casa Branca conseguirá, de fato, arranhar a independência do Fed. Isso só aconteceria com a anuência do Congresso. “Não acredito que as instituições americanas concordem com essa ideia, ela não vai progredir”,diz.  “Mas haverá um ruído desnecessário.

Aqui, em comum com o que se vê em terras americanas, o gasto público é um elemento importante para impulsionar o crescimento da economia Ao mesmo tempo, tem ajudado a pressionar a inflação. Mas o pior efeito colateral é a perspectiva de um descontrole da dívida pública no Brasil: especialistas acreditam que a relação dívida líquida x PIB pode superar os 90% em dois ou três anos, o que é um sinal amarelo avermelhado para a política fiscal do país.

Reduzir os juros, portanto, facilitaria a vida do governo no curto prazo. Mas o ponto central dos embates de Lula com Roberto Campos pode ter outra natureza: o presidente do BC foi indicado pelo antecessor de Lula, Jair Bolsonaro. Foi uma espécie de choque de realidade para o petista, que está em seu terceiro mandato, ter de lidar com as regras de um BC independente pela primeira vez – a autonomia da autoridade monetária passou a existir somente em 2021.

Outra diferença importante em relação ao cenário americano é que, aqui, a autonomia do BC, ainda que seja definida por lei, ainda está em um processo de consolidação. E isso amplia a insegurança nos momentos de ataque ao BC.

Fábio Akira
Fábio Akira

Fabio Akira, sócio e economista-chefe da BlueLine Asset Management, afirma que um ponto de atenção neste momento é que Gabriel Galipolo, o futuro presidente do BC, deverá ter uma participação ativa no governo. Galipolo participou de uma reunião convocada por Lula com a equipe econômica para discutir as medidas fiscais que devem ser adotadas. “Você não vai ver o Powell discutir corte de impostos com o novo secretário do Tesouro americano”, compara.

Outra diferença é que, aqui, é o Conselho Monetário Nacional (CMN) que determina qual é a meta de inflação que o BC deve perseguir. E o CMN é composto pelos ministros da Fazenda e do Planejamento, e pelo presidente do BC. Nos Estados Unidos, a discussão é liderada apenas pelo Fed.

Fiscal x juros

Nos Estados Unidos, analistas já começam a antever um aumento do juro dos títulos de 10 anos, os chamados T-notes, como reação aos riscos fiscais que Trump representa. Fala-se em uma taxa perto de 5% ao ano, o que, historicamente, tem potencial para gerar instabilidade nos mercados globalmente.

Ricardo Lacerda, da BR Partners. Crédito: Divulgação.

No Brasil, o mercado vem expressando grande preocupação com a evolução dos gastos e teme que o pacote que deve ser anunciado pelo governo seja insuficiente para colocar as contas em ordem. Segundo o CEO da BR Partners, Ricardo Lacerda, a dinâmica atual de aumento de gastos coloca em questão a eficácia do aumento de juros que está em curso. “A partir de um determinado nível de juros, o efeito fica muito reduzido. Subir mais a taxa vai castigar consumidores e empresas, e não vai controlar a inflação. Agora, é preciso cortar gastos”, defende.

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Brasil precisa defender ideais ocidentais no cenário global, diz Armínio Fraga https://investnews.com.br/economia/brasil-precisa-defender-ideais-ocidentais-no-cenario-global-diz-arminio-fraga/ Wed, 23 Oct 2024 18:01:07 +0000 https://investnews.com.br/?p=624369 Take do economista e ex-diretor do Banco Central, Armínio Fraga, um homem branco de barba e cabelos grisalhos, vestindo camisa social cinza claro sentado em ambiente iluminado de escritório.
“Ao longo dos anos, temos demonstrado um gosto duvidoso em relação às pessoas com quem convivemos e com quem tiramos fotos”, disse o ex-presidente do BC. Foto: Reprodução/InvestNews

O fundador da Gávea Investimentos e ex-diretor do Banco Central, Armínio Fraga, disse nesta quarta-feira (23) que o Brasil precisa ser claro em seu alinhamento com os ideais ocidentais de democracia e direitos humanos, especialmente em um cenário global dividido.

A estratégia do país de tentar ser simpático a todos não é sustentável, disse Fraga durante evento Bloomberg New Economy at B20, em São Paulo. Embora seja bom para o Brasil negociar com países de todo o mundo, suas posições centrais ainda devem ser claras, disse Fraga.

“Ao longo dos anos, temos demonstrado um gosto duvidoso em relação às pessoas com quem convivemos e com quem tiramos fotos”, disse Fraga. “Acho que devemos ter muito claro em nossas mentes que somos um país ocidental.”

O governo do Brasil e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm enfrentado críticas por não fazerem o suficiente para pressionar Nicolas Maduro após as eleições disputadas na Venezuela em julho. Lula defendeu uma solução diplomática depois de anos argumentando que a campanha de sanções pesadas, conduzida pelos EUA, prejudicou desproporcionalmente os cidadãos comuns daquele país.

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No mesmo painel, Stefan Simon, membro do Conselho de Administração do Deutsche Bank e CEO para as Américas, disse que o mundo está de volta aos “tempos pré-Organização Mundial do Comércio”, em termos de política e comércio.

O desafio agora, disse Simon, é enfrentar os desafios geopolíticos em um mundo mais dividido, entender quais são os riscos e ser capaz de “agir rapidamente”.

Como investidor de longa data na América Latina, Simon acrescentou que o banco está “muito otimista” com relação à região.

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Caixa puxa a fila – e crédito para comprar imóvel fica cada vez mais difícil para a classe média https://investnews.com.br/negocios/caixa-puxa-a-fila-e-credito-para-comprar-imovel-fica-cada-vez-mais-dificil-para-a-classe-media/ Wed, 23 Oct 2024 10:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=623640 Uma casa branca de dois andares com janelas iluminadas por uma luz roxa intensa e uma mão segurando uma moeda roxa de um real sobrepondo o telhado, em um cenário artístico com tons de cinza e branco.
Ilustração: João Brito

A Caixa Econômica Federal (CEF) puxou a fila do aumento de restrições ao crédito imobiliário e subiu de 20% para 30% a exigência de entrada na aquisição da casa própria. Isso significa que quem já comprou um imóvel na planta e pagou menos de 30% do valor vai ter de correr para buscar mais dinheiro quando receber o imóvel e for pedir o empréstimo. Ou pagar mais caro em um dos bancos privados nos quais a entrada mínima ainda é de 20% do valor da casa ou do apartamento.

Um alto executivo de uma das principais incorporadoras do país afirmou ao InvestNews em condição de anonimato que o peso dessas restrições vai recair diretamente sobre a classe média. Os extremos do mercado, os imóveis de luxo e os populares, dificilmente enfrentam problemas com disponibilidade de recursos.

No caso dos imóveis usados, a consequência prática do aumento de restrições será a redução significativa da demanda, como já ocorreu no passado. Priscilla Basso, coordenadora da plataforma digital de crédito imobiliário Melhor Taxa, diz que os bancos passaram a priorizar os financiamentos de quem comprou na planta e têm deixado de lado as operações para compras de unidades de segunda mão.

“Nem a Caixa tem mais reserva para o mercado de imóveis usados”, afirma a especialista. O banco estatal é ao mesmo tempo o termômetro e a locomotiva do mercado. Sozinho, representa 67% dos financiamentos do setor (imóveis novos e usados), segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

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Nos dados da Melhor Taxa, no segmento chamado de Sistema Financeiro da Habitação (que utiliza os recursos da caderneta de poupança como funding), a Caixa oferece o menor custo médio para os empréstimos imobiliários, com taxa mínima de juro 9,99% ao ano (mais a variação da TR). Entre as instituições privadas, o Bradesco fica em segundo, com 10,49% ao ano, seguido de Itaú Unibanco e Santander, com 10,99% anuais cada uma.

À primeira vista pequena, a diferença de 0,5 ponto a um ponto percentual é gigantesca no longo prazo e pode significar dezenas de milhares de reais. Veja o caso de quem comprou um apartamento de R$ 1,5 milhão na planta, pagou durante a obra 20% desse valor (R$ 300 mil) e que tinha a intenção de fazer financiamento com a Caixa. Com a restrição do banco estatal de liberar apenas financiamentos com 30% de entrada, esse comprador terá de arrumar de uma hora para outra R$ 150 mil (10% adicionais), equivalente a um Toyota Corolla 0 km, ou partir para buscar financiamento em outro banco.

No Bradesco, que cobra 10,49% ao ano, esse financiamento de R$ 1,2 milhão em 360 meses custaria R$ 83 mil a mais do que na Caixa. No Itaú e no Santander, a 10,99%, R$ 165 mil a mais.

Se a entrada for a mesma da agora parcela mínima exigida pela Caixa, de 30%, o financiamento de R$ 1,050 milhão (R$ 1,5 milhão menos R$ 450 mil, parcela exigida para a entrada) em 360 meses vai gerar um custo extra de R$ 73 mil no Bradesco e R$ 144 mil no Itaú e no Santander.

Bancos estão mais seletivos

Profissionais que trabalham em imobiliárias e com crédito imobiliário dizem que, além de os bancos já terem reduzido o volume de recursos para a compra de imóveis usados, as instituições também começaram a apertar as condições de aprovação. A régua de liberação de crédito subiu. Agora só clientes com “relacionamento”, ou seja, que tenham investimentos, recebam salário no banco e consumam produtos financeiros da casa têm tido vez nessa fila.

Esse tipo de restrição surge em momentos nos quais os bancos buscam reduzir o risco da carteira. E também costumam anteceder medidas vistas como impopulares, como a já adotada pela Caixa de aumentar o nível da entrada ou de elevar as taxas mínimas do financiamento.

A decisão da Caixa sinaliza ainda tempos mais sombrios para os próximos meses. Basso, da Melhor Taxa, vê possibilidade de os bancos aumentarem os custos do crédito no início de 2025. Essa alta seria uma reação a uma eventual elevação da taxa básica Selic pelo Banco Central nas reuniões de política monetária de novembro e de dezembro.

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Hoje, a Selic está em 10,75% ao ano e a pesquisa semanal Focus feita pelo BC com profissionais do mercado financeiro indica uma expectativa de que a taxa feche 2024 em 11,75%, ou seja, um ponto percentual acima do nível atual. Isso significa duas elevações de 0,50 ponto cada nos próximos dois meses.

Os bancos tendem a fazer uma pequena correção de taxas do crédito imobiliário para se ajustar ao novo cenário de juros. A coordenadora da Melhor Taxa avalia ser possível um aumento médio de até 0,5 ponto no custo do financiamento habitacional.

Entre as empresas do setor imobiliário, o quadro começa a preocupar. O alto executivo que conversou com o InvestNews revelou pessimismo para o início do próximo ano. “Nós começamos 2024 desanimados, e, com o passar dos meses, ficamos mais animados. Mas vamos fechar o ano novamente desanimados. E com expectativas pessimistas para o começo do ano que vem”, diz ele, ressaltando que o quadro é pior para os compradores de classe média.

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O público de alta renda, que consome residências acima de R$ 2 milhões, costuma ter reservas e maiores chances de aprovação de financiamentos. As linhas de crédito nessa faixa também não dependem de recursos captados na caderneta de poupança (chamado no mercado de Sistema Financeiro Imobiliário – SFI). Os recursos costumam ser captados com produtos como Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e outros títulos emitidos pelos bancos.

Já os imóveis populares têm recursos subsidiados e assegurados pelo FGTS. Essa fonte recebe por lei contribuições de todas as empresas e trabalhadores com carteira assinada.

O executivo conta que a faixa de residências com preços ente R$ 500 mil e R$ 1,5 milhão foi a que menos vendeu neste ano até o momento. No fim do terceiro trimestre, a média de vendas de lançamentos de imóveis nesses patamares de valores ficou em 24% do total, contra uma média histórica de 40%.

A crise da caderneta de poupança

A origem das dificuldades nos financiamentos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) vem do encolhimento da caderneta de poupança. Entre janeiro e agosto, houve uma saída líquida de recursos R$ 12,2 bilhões. Em 2023, a diferença ente depósitos e saques ficou negativa em R$ 66,7 bilhões.

A Caixa já tomou decisões drásticas no passado em situações de queda de recursos disponíveis. Em abril de 2015, durante a recessão mais duradoura que o país enfrentou, o banco estatal aumentou para 50% a entrada mínima em qualquer linha de financiamento habitacional.

No mercado imobiliário, o resultado foi uma queda de 60% entre o pico de vendas em 2014 e o pior momento, em meados de 2016. A aquisição de unidades saiu de 375 mil no fim de 2014 para 150 mil em 2016. No período, as novas concessões de crédito imobiliário recuaram 55,5%. O volume financeiro destinado à aquisição de casas ou apartamentos caiu de R$ 81 bilhões para R$ 36 bilhões.

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Naquele período, a poupança também sofria com saques líquidos. Apenas em 2015, houve retiradas líquidas de mais de R$ 50 bilhões. A Caixa adotou medidas ainda mais restritivas há dez anos, porque na época a caderneta tinha uma representatividade muito maior do que hoje como fonte de recursos.

A poupança representava em 2015 mais de 65% de todo o “funding”, ou seja, o montante em estoque para alimentar o crédito imobiliário. Desde então, a participação da caderneta tem minguado. Hoje, representa cerca de metade de uma década atrás ou apenas 34% do total.

O espaço deixado pelo tradicional produto de investimento tem sido ocupado por instrumentos de captação de mercado de capitais. São títulos de dívida emitidos pelos bancos ou empresas para obter recursos de investidores. Exemplos são as citadas LCI. Mas também fazem parte desse grupo estruturas como as letras garantidas imobiliárias (LIG), os certificados de recebíveis imobiliários (CRI) e os fundos imobiliários (FII).

Juntos, esses instrumentos de captação privada já representam 40% do total das fontes de recursos para o setor. A maior participação entre esses produtos pertence à LCI, com 16% do total e um saldo de R$ 363 bilhões. Em seguida aparece o FII, com R$ 237 bilhões e 10% de participação. O CRI surge em terceiro com uma fatia de 9% e estoque de R$ 208 bilhões. Por último, aparecem as LIG, com 5% e R$ 117 bilhões.

A poupança sozinha ainda apresenta um saldo de R$ 763 bilhões em recursos no sistema, enquanto o FGTS banca R$ 596 bilhões no estoque disponível para financiamentos, com participação de 26%. No total, segundo a Abecip, o “funding” do crédito imobiliário alcança R$ 2,28 trilhões.

Há, na visão do alto executivo da incorporadora ouvida pelo InvestNews, um fator que pode mudar tudo na equação econômica de 2025: o governo tomar medidas concretas para confirmar o compromisso com a âncora fiscal. “Se a curva de juros começar a descer, vai destravar um forte movimento de compra [de imóveis].”

Nesse cenário, o BC poderia voltar a reduzir a Selic, o que levaria os bancos a diminuir as taxas de crédito imobiliário.

Até lá, a classe média vai ter de apertar os cintos, porque o crédito imobiliário sumiu.

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É pegar ou largar: termina nesta quarta (16) prazo para resgatar ‘dinheiro esquecido’ em bancos https://investnews.com.br/financas/dinheiro-esquecido-como-resgatar/ Tue, 15 Oct 2024 18:59:54 +0000 https://investnews.com.br/?p=305238 O prazo para o resgate de “dinheiro esquecido” em bancos está próximo de acabar. Os pedidos de saque só serão aceitos até esta quarta-feira (16).

Mais de R$ 8,56 bilhões estão disponíveis para pessoas físicas, jurídicas (donos de empresa) e herdeiros no Sistema de Valores a Receber (SVR), plataforma criada pelo Banco Central.

Quem está em busca dos valores faltando pouco tempo para o término do prazo tem sido colocado em uma “fila virtual” e recebido o seguinte aviso: “devido a alta demanda, pedimos que aguarde para acessar o Sistema de Valores a Receber (SVR)”. A recomendação é seguir fazendo tentativas até conseguir acesso ao sistema.

O montante que não for solicitado até esta quarta será direcionado aos cofres do Tesouro Nacional. Em comunicado recente, o governo federal descartou que a medida configura confisco de dinheiro dos brasileiros.

A Secretaria de Comunicação Social explicou, por nota, que a incorporação dos recursos é, na verdade, uma “não novidade”, pois tem previsão legal há 70 anos, na Lei 2.313, de 1954.

A manobra que alcança o “dinheiro parado” em contas bancárias é a mesma que reduziu recentemente a alíquota de Imposto de Renda a ser paga na atualização do valor de imóveis. Em ambos os casos, o governo busca arrecadar mais recurso para garantir a desoneração da folha de pagamentos para 17 setores da economia.

“Esses recursos serão considerados para fim de cumprimento de meta primária, o que é bom para o Brasil”, ressaltou comunicado do governo.

Como saber se tenho dinheiro esquecido?

É preciso fazer uma consulta no site https://valoresareceber.bcb.gov.br/, com o CPF do consumidor ou o CNPJ de sua empresa. Se não houver valores a receber, o sistema irá informar a negativa. Mas, se houver “dinheiro esquecido”, o consumidor será informado sobre a quantia e solicitar o resgate. 

O que acontece se eu perder a data?

Depois do fim do prazo, segundo o Banco Central, um edital com todos os valores recolhidos pela União será publicado. No documento serão indicados dados como a instituição financeira e agência. Depois, durante mais 30 dias, o cidadão pode voltar a pedir o “dinheiro esquecido”.

Quem não tiver feito a solicitação, terá mais seis meses, após a divulgação do edital, para pedir judicialmente os valores. Caso isso não aconteça, o dinheiro fica definitivamente com o governo.

O que é preciso para pedir a transferência do dinheiro?

O consumidor precisa ter um login Gov.br. É possível fazer o cadastro no site ou pelo aplicativo Gov.br, disponível no Google Play e na App Store. Ele é gratuito.

Mas há um detalhe importante: existem “níveis” para esse login (bronze, prata e ouro), de acordo com as informações de segurança disponibilizadas pelo consumidor para o sistema. Para solicitar o resgate do dinheiro esquecido, o consumidor precisa ter um cadastro nível prata ou ouro.

O usuário pode aumentar o nível da sua conta por meio do aplicativo gov.br, clicando em “Aumentar nível” logo na tela de “Início” do aplicativo. Também é possível logar na conta gov.br e aumentar o nível em “Selos de Confiabilidade”.

Aumentar nível pelo aplicativo gov.br (Foto: Reprodução)

Serve login no Registrato?

Não. O Registrato é um sistema do Banco Central que fornece um extrato das informações de uma pessoa com instituições financeiras. Mas, para pedir o resgate de “dinheiro esquecido”, o consumidor precisará mesmo do login no sistema Gov.br. 

Evite golpes

O Banco Central tem orientações para que as pessoas não caiam em golpes envolvendo o sistema do “dinheiro esquecido”. Veja abaixo:

  • O único site para consulta e solicitação desses valores é o valoresareceber.bcb.gov.br.
  • O Banco Central NÃO envia links NEM entra em contato com os consumidores para tratar sobre valores a receber ou para confirmar dados pessoais.
  • NINGUÉM está autorizado a entrar em contato com os consumidores em nome do Banco Central ou do Sistema Valores a Receber.
  • NUNCA clique em links suspeitos enviados por e-mail, SMS, WhatsApp ou Telegram.
  • NÃO faça qualquer tipo de pagamento para ter acesso aos valores. É golpe!


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Senado aprova Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central https://investnews.com.br/financas/senado-aprova-gabriel-galipolo-para-a-presidencia-do-banco-central/ Tue, 08 Oct 2024 20:21:55 +0000 https://investnews.com.br/?p=620819 economista Gabriel Galípolo em sabatina no Senado Federal
Reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) para sabatinar o economista Gabriel Galípolo, indicado pelo governo para a presidência do Banco Central (BC). Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O Senado Federal aprovou, na tarde desta terça-feira (8), o nome do economista Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central. Foram 66 votos a favor e 5 contrários na votação em plenário, feita em caráter de urgência.

Mais cedo, Galípolo foi aprovado com unanimidade na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Ele atualmente ocupa o cargo de diretor de Política Monetária do Banco Central, e vai assumir a presidência em 2025, já que Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro e no cargo desde 2019, deixa o BC em 31 de dezembro.

Perfil

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Galípolo comandou o Banco Fator, especializado em parcerias público-privadas (PPP), entre 2017 e 2021, ano em que saiu da instituição. Uma década antes, chegou a comandar a Assessoria Econômica da Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, em 2007, na gestão do então governador José Serra (PSDB).

Na campanha presidencial de 2022 se aproximou da cúpula do PT e foi um dos principais assessores de Lula nas pautas econômicas. Também ajudou a reconstruir pontes com o mercado financeiro, que estavam frágeis desde o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016).

No terceiro mandato de Lula, assumiu a função de “número 2” do Ministério da Fazenda até assumir como diretor de Política Monetária do Banco Central em julho do ano passado.

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Sabatina sem embates

Em uma sabatina que transcorreu sem embates, Galípolo foi questionado mais de uma vez sobre riscos de o governo exercer influência sobre a condução da política monetária após sua posse, mas respondeu que nunca foi pressionado no cargo e recebeu liberdade total para atuar no BC.

“Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula, eu escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro.”

gabriel galípolo, durante sabatina no senado federal

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Galípolo é aprovado em comissão do Senado para presidência do BC https://investnews.com.br/financas/galipolo-e-aprovado-em-comissao-do-senado-para-presidencia-do-bc/ Tue, 08 Oct 2024 18:32:37 +0000 https://investnews.com.br/?p=620762 Retrato do economista Gabriel Galípolo, um homem de cabelo escuro, vestindo um terno azul escuro, camisa branca e gravata azul clara, gesticulando enquanto fala ao microfone com um fundo de figuras geométricas cinza.
Reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) para sabatinar o economista Gabriel Galípolo, indicado pelo governo para a presidência do Banco Central (BC). Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou nesta terça-feira, por unanimidade, a indicação do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, para a presidência do BC a partir de 2025, após uma sabatina tranquila com quase quatro horas de duração.

Ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda e indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para substituir Roberto Campos Neto no comando do Banco Central, Galípolo foi aprovado com 26 votos favoráveis no colegiado.

A análise final será feita em votação no plenário do Senado em sessão prevista para a tarde desta terça-feira.

Em uma sabatina que transcorreu sem embates, Galípolo foi questionado mais de uma vez sobre riscos de o governo exercer influência sobre a condução da política monetária após sua posse, mas respondeu que nunca foi pressionado no cargo e recebeu liberdade total para atuar no BC.

“Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula, eu escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro”, disse.

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Ele afirmou que no atual cargo de diretor já votou por corte, manutenção e alta de juros, e argumentou que isso não é sinal de coragem porque nunca sofreu qualquer tipo de pressão do governo.

Na sessão, Galípolo ressaltou as preocupações do BC com fatores que impactam a inflação, reafirmando recomendações de cautela na condução dos juros básicos, atualmente em 10,75% ao ano após a autoridade monetária reiniciar um ciclo de elevação na Selic.

Para ele, o atual cenário com surpresas positivas na atividade, desancoragem das expectativas de inflação e câmbio mais desvalorizado demandam prudência na atuação da autoridade monetária.

Na visão do diretor, os sinais econômicos apontam para uma desinflação mais lenta e custosa, sendo função do BC ser mais conservador para garantir que os juros estejam no patamar necessário para se atingir a meta de inflação.

“Ainda tem uma desancoragem que nos incomoda e que, em conjunção com as diversas variáveis, expectativas desancoradas, mercado de trabalho mais apertado, condições que parecem mais adversas, um câmbio que parece permanecer em um patamar mais desvalorizado do que um tempo atrás e uma economia que vem surpreendendo, crescendo acima das projeções originais, é recomendada essa maior prudência do ponto de vista da política monetária”, disse.

O diretor afirmou que o trabalho da autarquia é buscar a meta de inflação definida pelo governo eleito e que o BC tem sido inequívoco na busca pelo atingimento do alvo. Galípolo acrescentou que a meta é de 3% e que a margem de tolerância de 1,5 ponto percentual serve para absorver choques eventuais, não para reduzir o esforço da política monetária.

Ele ainda destacou que o Brasil é hoje reconhecido por sua estabilidade monetária e financeira e acrescentou que os núcleos de inflação no país nos últimos 12 meses ficaram em níveis comparáveis aos de economias estáveis como Estados Unidos e Reino Unido.

(Por Bernardo Caram)

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Alta dos juros pode reverter a recuperação do setor bancário https://investnews.com.br/negocios/alta-dos-juros-pode-reverter-a-recuperacao-do-setor-bancario/ Tue, 01 Oct 2024 12:41:27 +0000 https://investnews.com.br/?p=618936 edifício do Banco Central localizado no Setor Bancário Sul em Brasília. Brasília, Distrito Federal
edifício do Banco Central localizado no Setor Bancário Sul em Brasília. Brasília, Distrito Federal. Foto: Adobe Stock Photo

Dos EUA à Europa e à Austrália, os bancos se preparam para uma retração na sua maior fonte de receitas à medida que os juros começam a cair. Mas, no Brasil, é a alta da taxa que pode reverter a recuperação do setor.

O Banco Central anunciou no mês passado o primeiro aumento da Selic em dois anos, no mesmo dia em que o norte-americano Federal Reserve decidiu pelo primeiro corte desde 2020. Custos mais elevados de captação dos bancos na maior economia da América Latina podem travar o crescimento recente na receita com empréstimos – conhecida na indústria como margem financeira – que tem sido um dos maiores do mundo.

“Tenho uma opinião um pouco contrasensual, de que uma taxa de juros mais baixa é melhor para os bancos do que uma taxa mais alta”, disse Thiago Batista, analista do UBS BB Investment Bank, em entrevista em São Paulo. “Como agora estamos vendo um aumento na Selic, isso pode ser ruim para a margem financeira dos bancos.”

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Isso não é decididamente a expectativa nos EUA, onde o Fed baixou no mês passado o juro de referência pela primeira vez em mais de quatro anos. A medida – se não a dimensão dela – era amplamente esperada, tal como vários outros cortes, e os executivos da indústria têm tentado durante meses moderar as expectativas em relação à margem financeira dos bancos como resultado.

Jamie Dimon, por exemplo, disse que a bonança que impulsionou margens financeiras recorde nos quatro maiores bancos dos EUA no ano passado não pode durar para sempre, alertando os acionistas do JPMorgan Chase.

A história é diferente no Brasil, onde taxas de juros mais altas significarão custos de financiamento mais elevados para os bancos, disse Batista, uma vez que os seus passivos em moeda local têm majoritariamente taxas flutuantes. E os bancos só conseguirão repassar esses custos maiores aos clientes quando girarem suas carteiras de crédito, pois cerca de metade dessas carteiras tem taxas de juros prefixadas.

O resultado? Redução da margem financeira no curto prazo, segundo Batista, embora o impacto nos lucros seja provavelmente marginal.

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As taxas de juro mais elevadas durante um período mais longo do que o anteriormente esperado também deverão pressionar os tomadores de crédito no Brasil, enfraquecendo potencialmente a qualidade dos ativos dos bancos e forçando-os a manter elevadas as provisões para perdas com empréstimos, disse a Standard & Poors em um relatório no mês passado.

As taxas de inadimplência atingiram 3,2% em julho, abaixo dos 3,5% em julho de 2023, o que encorajou os bancos a crescer suas carteiras de crédito a um ritmo mais rápido este ano. A S&P espera que essas taxas de inadimplência voltem a subir para 3,5% do total das carteiras ou mesmo aumentem para 4% até o final deste ano.

“Embora ainda esperemos que os lucros dos bancos continuem se beneficiando das altas taxas de juros devido às margens fortes, as perdas de crédito podem aumentar”, disse a S&P.

O crescimento na carteira de empréstimos ajudou os quatro maiores bancos do Brasil – Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Santander Brasil – a aumentar sua margem financeira combinada em 7,7% no primeiro semestre de 2024 em relação ao mesmo período do ano passado. Esses bancos também vinham lentamente oferecendo mais empréstimos mais arriscados e portanto mais rentáveis, como cartões de crédito e crédito ao consumo.

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A margem financeira mais elevada foi uma das razões pelas quais o Itaú registou lucro recorde no segundo trimestre, uma vez que o crescimento econômico mais forte do que o esperado no Brasil aumentou a procura por crédito.

Mas a probabilidade de uma repetição dessa tendência está diminuindo diante da perspectiva de mais aumentos da Selic.

“Inicialmente, haveria um impacto negativo imediato no spread de todos os bancos, como aconteceu em 2021, quando o governo começou a aumentar a Selic”, disse Carlos Daltozo, chefe de pesquisa de ações da Eleven Financial Research. “Mas depois eles seriam capazes de reprecificar suas carteiras de crédito com juros mais altos.”

Em média, os bancos no Brasil levam cerca de 18 meses para girar suas carteiras de empréstimos, disse Matheus Guimarães, analista da XP, a maior corretora de ações do Brasil em volume de negócios.

“Está todo mundo atento a este cenário de subida de juro, porque poderá eventualmente afetar o apetite dos bancos em oferecer algumas linhas de crédito, especialmente para clientes de baixa renda”, disse. “No momento, não vemos isso, não vemos os bancos considerando reduzir os limites de crédito aos clientes, pelo menos no discurso.”

Como se espera que o ritmo de aumento da Selic seja mais moderado agora do que durante o ciclo de aperto de 2021, o impacto nas margens financeiras deverá ser mais brando, disse Guimarães, inclusive para os bancos mais afetados da última vez, como Bradesco e Santander.

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Em 2021, o Banco Central elevou a taxa Selic de 2% para 13,75% em apenas 17 meses. Desta vez, as expectativas são de que a taxa não ultrapasse 12,5%, face aos 10,5% no início do atual ciclo de aperto.

Também ajudando a minimizar possíveis perdas estão as lições aprendidas em ciclos anteriores. Os maiores bancos do Brasil agora protegem exposições a taxas de juros flutuantes, pelo menos em parte de seus passivos, disse Bernardo Guttmann, chefe de pesquisa do setor bancário da XP.

“À medida que a inadimplência continua nesta trajetória de queda, que é o que a gente está vendo, a gente começa a observar uma mudança importante no apetite ao risco dos bancos”, disse Guttmann. “Os bancos estão voltando para linhas de maior risco, mas de forma muito seletiva.”

Ele disse que os bancos estão mais cautelosos para não voltar a oferecer crédito a setores com os quais eles perderam dinheiro no passado, mas estão voltando a oferecer mais cartões de crédito.

“Essa combinação de linhas de crédito com prêmios maiores e crescimento do portfólio de crédito tende a aumentar a margem financeira, e esse é um movimento que, a nosso ver, deve continuar”, disse Guttmann.

Felipe Prince, vice-presidente de controles internos e gestão de riscos do Banco do Brasil, disse que não vê um arrefecimento na demanda por crédito ou uma redução nas concessões, “mas os bancos se tornarão mais seletivos”.

Ele disse que já via com “ceticismo” a ideia de avançar demais no crédito às micro e pequenas empresas, porque o segmento “merece cautela” neste momento. “Todos os bancos estão aprimorando seus modelos de risco e a briga pelos melhores clientes vai se tornar mais acirrada.”

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Mais pobres gastaram com bets, em média, quase tudo o que receberam do Bolsa Família https://investnews.com.br/economia/mais-pobres-gastaram-em-bets-em-media-quase-tudo-o-que-receberam-do-bolsa-familia/ Wed, 25 Sep 2024 20:13:58 +0000 https://investnews.com.br/?p=617901 Os dados são alarmantes. Cada um dos 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família que apostaram em bets em agosto gastou, em média, R$ 600. O valor fica muito próximo ao que o governo pagou em média aos integrantes do programa no mesmo mês, de R$ 681. Ao todo, 21 milhões de pessoas receberam Bolsa Família em agosto.

O Banco Central soltou na terça (24) o primeiro relatório sobre o impacto das bets ou casas de apostas online e jogos de azar no orçamentos das famílias. Com base nas informações, é possível traçar um quadro mais amplo sobre o tamanho da armadilha para os mais vulneráveis.

Os números da autoridade monetária são baseados nas transações via PIX e se referem apenas a agosto. O relatório apontou uma mediana de R$ 100 para os gastos de beneficiários do programa social federal com as plataformas online – esse valor é o que fica justamente no meio, indicando que metade dos apostadores gastaram mais de R$ 100 e a outra metade, menos de R$ 100.

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Mas, se for considerado o volume total de dinheiro enviado por PIX às bets no mês passado, de R$ 3 bilhões, e a quantidade de integrantes do Bolsa Família que fizeram transferências, no caso 5 milhões de pessoas, temos um gasto médio bem mais elevado, de R$ 600.

Como aponta o estudo do BC, as bets ficaram com 15% dos recursos recebidos em agosto. O restante é distribuído da forma de prêmios. Com isso, é possível estimar que o prejuízo do grupo como um todo foi de R$ 450 milhões em apenas um mês.

Anualizando essas as cifras, é possível afirmar que os beneficiários do Bolsa Família perdem R$ 5,4 bilhões por ano nas plataformas de jogatina. Em 12 meses, mantida a cifra de agosto, essas famílias apostariam R$ 36 bilhões. Isso apenas de dinheiro transferido via PIX, sem considerar os jogos feitos com recursos de cartões de crédito, débito e carteiras digitais.

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Valores totais de agosto

O relatório do BC revela que os brasileiros, no total, apostaram via PIX um montante de R$ 20,8 bilhões em agosto. As transferências mensais variaram de R$ 18 bilhões a R$ 21 bilhões nos últimos oito meses. Isso significa que, apenas em 2024, os brasileiros vão apostar cerca de R$ 240 bilhões, se os valores médios de 2024 forem anualizados.

O estudo estimou ainda que 24 milhões de pessoas físicas participaram de jogos de azar e apostas no oitavo mês de 2024. São indivíduos que realizaram ao menos um PIX para as bets. Na média, as apostas por pessoa alcançaram R$ 875 no mês.

O valor médio mensal das transferências aumenta ainda conforme a idade: para os mais jovens, as pessoas com menos de 30 anos, o valor gira em torno de R$ 100 por mês, enquanto para os mais velhos, acima dos 60 anos, o valor ultrapassa R$ 3 mil por mês.

O Banco Central afirmou ser “razoável supor que o apelo comercial do enriquecimento por meio de apostas seja mais atraente para quem está em situação de vulnerabilidade financeira”. A autoridade disse estar atenta ao tema, mas ressalvou serem necessários mais dados e tempo para avaliar as implicações para a economia, a estabilidade financeira e o bem-estar financeiro da população.

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Real ganha força em relação ao dólar reagindo ao tom mais duro do Copom https://investnews.com.br/financas/real-ganha-forca-em-relacao-ao-dolar-reagindo-ao-tom-mais-duro-do-copom/ Thu, 19 Sep 2024 21:40:57 +0000 https://investnews.com.br/?p=616725 Os mercados brasileiros se recuperaram na quinta-feira, quando a decisão unânime do banco central de aumentar as taxas de juros — e uma declaração vista como agressiva — sinalizou seu comprometimento em fazer a inflação voltar à meta.

O dólar chegou a romper o piso de R$ 5,40 no melhor momento do dia. E encerrou a quinta-feira valendo R$ 5,42, em baixa de 0,70%. Já os juros futuros subiram, ajustando-se à nova taxa Selic, agora em 10,75% ao ano.

“O real brasileiro está se saindo de acordo com o carry (diferencial de juros) mais alto, com a mensagem um tanto agressiva do BCB, beneficiando-se das taxas mais baixas nos EUA”, disse Marco Oviedo, estrategista sênior para a América Latina na XP Investimentos.

Enquanto isso, o índice de referência do Brasil para ganhos revertidos após subir no início da sessão, em meio ao aumento do apetite global por risco após a flexibilização do Fed. Raphael Figueredo, CEO e analista da Eleven Financial, disse que os investidores estão “recalibrando suas posições porque entendem que há mais espaço para a taxa Selic subir devido ao tom mais duro na declaração”. As taxas de swap de curto prazo aumentaram em mais de 0,20 ponto percentual.

No comunicado, os membros do comitê disseram que os riscos hoje são de alta de inflação, cenário que requer uma política monetária mais restritiva. Diante da força da economia brasileira e das expectativas de inflação não ancoradas, os mercados devem precificar aumentos de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões, disseram analistas.

O aumento da taxa de juros do Brasil transforma a maior economia da América Latina em uma exceção, já que outros bancos centrais da região reduzem as taxas para reforçar suas economias fracas. Chile, Peru, México e Colômbia reduziram suas taxas básicas nas últimas semanas.

“O BCB provavelmente será o banco central agressivo nos próximos três meses na região”, escreveu Alexandre de Azara, economista do UBS BB Investment Bank, em nota.

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Banco Central retoma alta de juros e Selic sobe para 10,75% ao ano https://investnews.com.br/economia/banco-central-sobe-juros-em-025-ponto-percentual-a-1075-ao-ano/ Wed, 18 Sep 2024 21:42:03 +0000 https://investnews.com.br/?p=616377

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (18) subir a taxa básica de juros no país em 0,25 ponto percentual, a 10,75% ao ano. Com isso, o BC retoma o ciclo de aperto monetário um ano após ter iniciado o processo de corte de juros, levando a taxa Selic de 13,75% para 10,5% ao ano. A decisão foi unânime.

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No comunicado, o Copom afirmou que há “uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação”, especialmente na de serviços e na desvalorização do real frente ao dólar.

O BC evitou dar orientação futura sobre novos aumentos. “O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação”

O Copom do Banco Central anunciou alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros.
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